Não é fácil convencer a opinião pública norte-americana. Nem o Congresso, seja ele de maioria ou não do partido do presidente.
Questões cruciais como entrar em uma guerra dividem os políticos e se tornam até temas das campanhas eleitorais para a presidência.
O deputado ou senador, pelo sistema distrital misto, tem que prestar contas ao contribuinte do destino do dinheiro que este paga por meio dos impostos. Por que financiar equipamento militar, contingentes de soldados para lutar no exterior e não financiar o desenvolvimento interno?
As questões da política externa estão nas mãos do presidente da República, mas este precisa da aprovação do Congresso para declarar guerra, seja em que situação for. O presidente democrata foi eleito com o slogan “ele nos manteve fora da guerra”.
Defender que os Estados Unidos devem participar do conflito para proteger o liberalismo econômico e a democracia é, no mínimo, dizem os republicanos, um estelionato eleitoral. Muita gente acompanha o desenrolar do conflito por meio dos veículos de comunicação, estes também divididos entre os prós e contras de se enviar forças militares ao exterior.
Uma guerra do outro lado do Atlântico não é do interesse nacional, resiste boa parte da opinião pública. Os Estados Unidos devem se concentrar no continente americano e manter a política inaugurada pela Doutrina Monroe, de “a América para os americanos”.
Os defensores da participação americana na guerra alegam que sua população é de origem europeia e tem ligações culturais e familiares com os envolvidos nos combates. Além disso, para se consolidar como um player internacional importante, os Estados Unidos precisam manter as vias marítimas abertas para o comércio e o abastecimento das matérias-primas vitais, principalmente o petróleo, riqueza almejada pelas empresas petrolíferas.
O cartel, chamado de “As Sete Irmãs”, tem lobby fortíssimo no Congresso, especialmente no Senado. Lutar contra uma coligação que envolve atores espalhados pela Europa e Oriente Médio precisará de um orçamento específico para financiar a transformação da indústria nacional de consumo em fabricante de armas e munições. Só um fato muito impactante pode mover a opinião pública a favor de entrar no conflito.
O presidente democrata é totalmente favorável à participação na guerra. Ele mudou de ideia. Foi reeleito com a bandeira da neutralidade, mas a situação o fez mudar de ideia. As notícias de milhões de mortos, divulgadas pela imprensa, mexem com a opinião pública.
O afundamento do navio Lusitânia, no Atlântico Norte, mata mais de mil passageiros, entre eles 128 americanos. O professor Woodrow Wilson, presidente norte-americano, muda de opinião e passa a defender a entrada na guerra. Os mares não são mais seguros, e o comércio americano seriamente afetado. O Congresso ainda resiste.
A imprensa tem acesso ao conteúdo de um telegrama enviado pelo ministro alemão Zimmerman para o embaixador no México. Nele promete aos mexicanos que se atacarem os Estados Unidos pelo sul, ajudariam o país a recuperar o Texas, Novo México e Arizona. É a gota d´água! Os Estados Unidos declaram guerra ao império alemão em abril de 1917.
A Alemanha avalia que nada vai mudar no destino do conflito uma vez que os submarinos bloqueiam os portos europeus. Em pouco tempo as indústrias americanas se voltam para produzir armas. Um milhão de soldados chega aos campos de batalha e decide a vitória para o lado dos Aliados. Nasce uma potência global.
*Heródoto Barbeiro é jornalista da Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo. Apresentou o Roda Viva da TV Cultura e o Jornal da CBN. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Acompanhe-o por seu canal no YouTube “Por dentro da Máquina”, clicando no link