SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) André Mendonça foi recebido na sexta (19) em um jantar na casa do advogado Roberto Podval, em São Paulo.
O advogado integra o grupo Prerrogativas, que organizou o encontro de Mendonça com profissionais da área jurídica.
A reunião foi celebrada como o lançamento de uma pedra fundamental para a construção de uma ponte entre forças opostas do país: Mendonça foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) para o STF na cota do “terrivelmente evangélico” que o então presidente prometeu destinar a seus apoiadores religiosos.
A expectativa deles é a de que o ministro, no cargo, seja conservador ao menos na área dos costumes.
Já o Prerrogativas se notabilizou por inicialmente combater o que define como abusos da Operação Lava Jato -e por depois fazer oposição contundente a Bolsonaro.
A totalidade de seus integrantes apoiou a eleição de Lula (PT) à Presidência, e parte de seus integrantes está no governo.
A personalidade suave e agregadora do magistrado motivou os advogados a organizarem o que chamaram de “um diálogo com o excelentíssimo ministro André Mendonça sobre seu primeiro ano na Suprema Corte”.
O jantar foi organizado inicialmente para 40 pessoas, mas mais de 120 acabaram comparecendo.
Os dois lados estenderam as mãos sem, no entanto, deixar de firmar posição.
Podval, por exemplo, afirmou que aquele era “o começo de uma grande amizade” entre os advogados e “um grande ministro de quem vamos nos orgulhar”. E pontuou: “Mesmo vindo pela mão de quem veio”, referindo-se a Bolsonaro.
Já Mendonça fez questão de relembrar, em tom elogioso, histórias com Bolsonaro, como quando foi indicado para ser ministro da Justiça. Ou quando, segundo ele, o então presidente seguiu seus conselhos e não politizou o fato de estados governados pela oposição apresentarem números negativos na área de segurança.
“Sou de falar pouco e ouvir bastante”, disse Mendonça.
Ele relembrou também que, ao assumir a Advocacia-Geral da União (AGU) no governo Bolsonaro, fez questão de telefonar para um de seus antecessores, José Eduardo Cardozo, que foi ministro da Justiça de Dilma Rousseff (PT) e até hoje advoga para a ex-presidente.
Cardozo enfrentava um processo por atos na AGU. Mendonça avisou a ele que a defesa dos casos seria coordenada por seu próprio gabinete.
“Por isso me entristece quando perdemos tempo olhando para as nossas diferenças e deixamos de avançar por não vermos o que nos une.”
Mendonça ponderou que seguirá sendo conservador nos costumes, “ou vou deixar de ser o André”.
“Mas há tantas coisas comuns nas quais podemos trabalhar juntos”, reafirmou ele.
Mendonça disse também que “tudo é recíproco” nas relações humanas. “Eu quero respeito, preciso respeitar”. E disse esperar que os advogados “também olhem para o momento que vivemos, para a perspectiva de Brasil que queremos construir à luz de que as injustiças são injustas em relação a qualquer um, e aquilo que é justo, é justo também em relação a qualquer um”.
O magistrado falou também sobre religião.
“Os evangélicos sabem os preconceitos que sofrem, como os negros sabem e as mulheres também. E isso deixa feridas”, disse. “O André que entrou no Supremo tem algumas missões diante de Deus, de sua mulher e de seus filhos: manter a integridade e ser justo”, tendo também “ponderação e equilíbrio” e mantendo a discrição.
O ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski também discursou, e elogiou Mendonça inclusive por sua religiosidade.
“Ser religioso é uma vantagem extraordinária. Num momento de perplexidades, temos no Supremo um homem que tem valores”, afirmou. “O que esperamos de um ministro do STF? O que diz a Constituição? Que ele precisa ter reputação ilibada e notável saber jurídico. Mas o que esperamos, acima de tudo, é que ele tenha caráter. E isso o André demonstra diuturnamente que tem.”
O advogado Marco Aurélio de Carvalho, que coordena o Prerrogativas e organizou o evento, afirmou que a hora é de “reconstruir, reconciliar e buscar consensos”.
Elogiou o “espírito público” de Mendonça e seu compromisso com a democracia.
Aproveitou para pedir o voto do ministro na ação que implanta no país o juiz de garantias -aquele que julga depois que outro magistrado conduziu as investigações, como forma de manter distância entre acusação e defesa.
“Não dá para se reunir com juiz sem fazer um despacho”, disse, em tom de brincadeira.
Marco Aurélio de Carvalho ainda enviou recados: “Não acreditamos em super juízes nem em super poderes. O que defendemos para Chico, defendemos para Francisco”.
Mendonça afirmou também ficar “feliz por encontrar, no advogado Marco Aurélio, a mesma disposição para focar nas convergências”.
MÔNICA BERGAMO / Folhapress