BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dos mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal nesta quinta (1) é em endereço de um dos mais próximos auxiliares do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Luciano Cavalcante atualmente está lotado na Liderança do PP na Câmara e é conhecido em Brasília como uma das pessoas de maior confiança do político, que o acompanha em agendas diversas e viagens. A esposa de Luciano, Glaucia, também já foi assessora de Lira e aparece na investigação.
A Folha fez imagens da PF saindo de um endereço em Brasília atrelado a Cavalcante após a realização das buscas. Lira foi procurado nesta manhã e ainda não respondeu aos contatos da reportagem
A PF investiga um esquema de desvios em contratos de kits de robóticas custeados pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) no governo de Jair Bolsonaro (PL). As aquisições dos kit foram reveladas pela Folha de S.Paulo em 2022.
Uma das suspeitas é que Luciano e sua mulher Glaucia possam ser beneficiários de valores desviados de contratos para compra de kit robótica, custeados em parte com dinheiro de emendas do relator.
A PF chegou até Luciano Cavalcante e Glaucia ao investigar movimentações financeiras Megalic, empresa de um aliado de Lira, vencedora de licitações de contratos para venda dos kits, também alvo da operação.
De acordo com a nota da PF, a investigação identificou “que foram realizadas, pelos sócios da empresa fornecedora e por outros investigados, movimentações financeiras para pessoas físicas e jurídicas sem capacidade econômica e sem pertinência com o ramo de atividade de fornecimento de equipamentos de robótica, o que pode indicar a ocultação e dissimulação de bens, direitos e valores provenientes das atividades ilícitas”.
A Megalic está em nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD). A proximidade do vereador e de seu pai com Lira é pública.
Ao todo a PF cumpre 26 mandados de busca e 2 de prisão temporária. Segundo a PF, os crimes teriam sido cometidos entre 2019 em 2022 em contratos de 43 municípios alagoanos.
“De acordo com a investigação, as citadas contratações teriam sido ilicitamente direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes”, disse a PF em nota.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o TCU já havia apontado fraude nos processos de compras de kits de robótica no governo Jair Bolsonaro (PL) e suspendeu os contratos.
A área técnica do tribunal identificou, no total, 253 empenhos em valor total de R$ 189 milhões para a compra de kits de robótica. A maior parte é relacionada a recursos de emendas de relator, e nem tudo isso foi de fato pago.
A relação levantada pelo TCU indica priorização a prefeituras de Alagoas e Pernambuco, onde 12 municípios receberam R$ 44 milhões, segundo o órgão.
Ainda segundo o TCU, “em detrimento de outros municípios, tendo a maioria das verbas repassados tido por origem emendas do relator (RP-9)”.
FABIO SERAPIÃO E PAULO SALDAÑA / Folhapress