Apesar de pedido por mudança, novos nomes de jogadores não ‘pegam’ no futebol

O atacante Gabriel Barbosa comunicou em suas redes sociais, no final da temporada passada, que gostaria de ser chamado de Gabi. Passado quase um ano, a nova denominação não pegou. Durante o jogo contra o Uruguai, ao entrar em campo no segundo tempo, o narrador Galvão Bueno proferiu diversas vezes Gabigol. O que se repetiu quando o atacante do Flamengo marcou um dos gols no triunfo do Brasil por 4 a 1. E isso tem sido recorrente no futebol.

Marcelo Palaia, professor e especialista em marketing esportivo, entende que essas alterações são mais prejudiciais do que benéficas aos atletas. “O nome de um jogador, assim como de um músico, artista, de uma celebridade, são verdadeiras marcas que eles passam a ter durante a carreira. O cuidado com essa marca, com o nome, tem de existir constantemente”, apontou.

 

O pedido de mudança por parte de profissionais do futebol acontece com frequência. Jogador do Real Madrid, Vinicius Jr. pediu para ser apenas Vini Jr. para seguir uma linha de estudo de que era difícil pronunciar o seu nome entre os espanhóis, em outros países europeus e até mesmo asiáticos, como China e Japão, mercados em que o estafe do atacante já pensa para o futuro.

 

“A força midiática no profissional dificulta muito esta mudança de rota, mas o que vale mesmo é ser transparente com o público em qualquer momento que isto ocorra”, afirmou Rene Salviano, dono da agência de marketing esportivo Heatmap.

 

Lênin Franco, diretor de negócios do Botafogo e ex-marketing do Bahia, lembra do caso do jogador Lucas Moura, que antes se chamava Marcelinho, e aborda um aspecto importante sobre as redes sociais dentro deste contexto. “Existe um caso emblemático que é o do Lucas Moura. Quando ele subiu para o profissional era chamado de Marcelinho, já era destaque no profissional, fazendo gol em clássico, e ainda era Marcelinho quando pediu para mudar o nome. Só que vale lembrar que naquela época não existia uma força tão grande de redes sociais como existe hoje. Então, foi mais fácil de ele consolidar. Hoje, com um mundo tão dinâmico, está mais difícil. Eu acho que cada caso vai ter sua ponderação específica, mas do ponto de vista do clube não muda muita coisa.”

 

“Fazendo uma análise do atleta, sem interessar o clube em que ele joga, acho que a mudança pode ser positiva se ela vier trabalhada com uma ideia de sustentação para as redes sociais e imprensa. Não adianta só pedir para mudar o nome. Deve haver por trás uma estratégia de branding, de mudança de marca, que vai vir apoiada em diversas propriedades de comunicação e comerciais que esse atleta dialogue”, completou.

 

No caso de Gabi, a alteração foi meramente pessoal, porque a nova denominação era em razão do apelido que ele é chamado por amigos e companheiros de Flamengo – diferentemente de uma sugestão mais ‘profissional’ recebida por seu ex-companheiro de Flamengo. “Existe toda uma relação afetiva, que vem desde as categorias de base ou quando esses atletas passam a criar uma identificação com seus clubes de origem. No caso do Vini, foi algo pensado e estudado, mas o atleta não pode simplesmente mudar o nome porque achou que é mais bonito ou mais feio. Ele começou assim e fica difícil depois mudar”, apontou Palaia.

 

Alguns outros pedidos de mudanças têm a ver com novas fases. Em março deste ano, quem apareceu de nome “novo” foi o atacante Papagaio, revelado pela base do Palmeiras. Em um clássico contra o Corinthians, pelo Paulistão, constava seu nome de origem às costas, Rafael Elias. Em entrevista, revelou que a mudança tem a ver com uma “nova fase da vida”. Em meados de 2020, ele foi pego no exame antidoping quando estava no Atlético-MG, após ter ingerido um remédio para emagrecer, proibido no País.

 

Apesar disso, na própria transmissão dos canais SporTV, ao entrar em campo, a arte no momento da substituição apontava para o nome de Rafael “Papagaio”, ainda em alusão ao seu apelido. O mesmo acontece com Gabigol, que raramente é chamado de Gabi. “Neste caso, acho válida a mudança do nome do Papagaio. Um dos motivos é o fato de ele ainda ser jovem e de ter sido pego no doping com esse apelido, tem um peso. Rafael Elias passa a ser mais profissional, passa seriedade, e como ele mesmo disse, é uma nova fase”, explicou Marcelo Palaia.

 

Outro caso parecido e recente aconteceu com o atacante Gustavo Mosquito, do Corinthians. A assessoria de imprensa do jogador chegou a pedir aos jornalistas para o chamarem de Gustavo Silva, mas o próprio jogador falou que não se incomodaria com o Mosquito. Na camisa de jogo do Corinthians, consta escrito o nome de Gustavo Silva. “Acredito que esses tipos de apelidos adotam um tom pejorativo, fica ruim para a imagem dos atletas e até por isso os profissionais que cuidam desses atletas tendem a querer uma mudança”, disse Palaia.

 

Há cerca de dois anos, quem também pediu para ter o nome mudado foi o lateral-esquerdo Léo Pelé. Na transferência do Bahia para o São Paulo, seu clube atual, ele pediu para deixassem o Pelé de lado – apelido que ele ganhou pela aparência com o Rei do Futebol. “Pelé é Pelé, né. Leva um peso a mais desnecessário. Tenho uma carreira, quero colocar o meu nome. Pelé é consagrado demais, já conquistou o que tinha de conquistar. Não precisa levar o nome de Léo Pelé. Léo é o suficiente. Pés no chão”, disse o jogador, em sua apresentação oficial no São Paulo, em 2019.

 

“Os apelidos são lúdicos como o futebol, são traços do nosso País. Geralmente, chegam na infância e trazem certa afetividade, vários apelidos são quase impossíveis de sumirem. Acredito que os atletas precisam se sentir à vontade com seu próprio nome, mas, caso queiram mudar, o momento de ter a decisão como quer realmente ser chamado deve ser antes da chegada ao profissional, preferencialmente”, comentou Renê Salviano.

 

Jorge Avancini, vice-presidente de marketing do Internacional, destaca o fato de alguns nomes já estarem consolidados como marcas e na relação com fãs e patrocinadores. “Acho que toda mudança de nome causa uma ruptura muito grande, ainda mais quando esse nome já está atrelado a uma marca, um produto, e hoje os jogadores já reconhecidos carregam esse status. Se essa mudança vier atrelada de uma estratégia de marketing bem definida, é válido, mas apenas por gosto pessoal pode ter consequências com os fãs e até mesmo relação com patrocinadores”, apontou.

 

Do mesmo jeito que muda o penteado a cada partida, pode ser que Gabi volte a querer ser chamado de Gabigol no futuro, mas o zelo com aquilo que chama de ‘marca’ precisa ser encarado com importância. “Imagina se LeBron James não fosse mais chamado de King, se Anderson Silva abandonasse o Spider, ou se Pelé voltasse a querer ser chamado de Edson?. Depois pode não ter o mesmo reconhecimento que você criou ou desenvolveu ao longo de toda vida profissional”, finalizou Palaia.

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