SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A concessionária responsável pelo parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, ainda não levou novas atrações para o público nem reativou antigos espaços de visitação que foram fechados nos últimos anos. Prédios históricos, que antes abrigavam museus e ofereciam atividades culturais, continuam inativos após oito meses sob nova administração.
“É um lugar que faz falta. Ela gosta muito de livros agora que está aprendendo as primeiras letras”, disse a babá Wely Dantas, 45, que brincava com a bebê Alice, 2, na praça do antigo Espaço de Leitura do parque, desativado em julho de 2020. As bancas, que antes ofereciam livros, revistas, jogos e outros materiais para os visitantes, estão vazias desde então.
A maioria dos 67 edifícios tombados do Água Branca está ociosa atualmente e precisa de alguma reforma. Desatualizadas, as placas espalhadas pelo parque convidam o público a visitar outros espaços sem uso. Caso, por exemplo, do Mugeo (Museu Geológico), fechado permanentemente pelo governo estadual em novembro passado.
“O museu era um encanto, vim algumas vezes quando minha filha era criança. Tinha fósseis e outras coisas que nunca vi em outro lugar”, disse a educadora Yara Najman, 80, frequentadora do parque há mais de 50 anos.
O aquário, antes mantido pelo Instituto de Pesca (instituição de pesquisa vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo), é outra atração que está com as portas fechadas, apesar de sua importância histórica -construído em 1930, foi o primeiro espaço do tipo na capital paulista.
De acordo com o consórcio Reserva Novos Parques Urbanos, responsável pela gestão do parque pelos próximos 30 anos, o aquário está sendo reequipado e a previsão é que seja aberto até o fim do ano. Já o Espaço de Leitura será transferido no próximo mês para dentro de um prédio, onde será exposto também um novo acervo de rochas e minerais.
Os quiosques e mesas ao ar livre serão destinados a atividades ainda por definir -possivelmente cafés e lanchonetes. A antiga sede do Mugeo, com dois pavimentos e mais de 500 m² de área construída, também não tem destino certo.
A locação dos edifícios históricos é uma das estratégias da concessionária para trazer renda ao parque, inaugurado há mais de 90 anos.
“Estamos estudando a vocação de cada edifício, e a nossa intenção é trazer parcerias com o setor privado para que eles sejam ocupados, sempre buscando convergência com o perfil do parque”, disse Eduardo Rigotto, sócio-gestor da Reserva, elencando o aspecto rural, a cultura, a gastronomia e a educação ambiental como pilares.
O prazo para apresentação do plano de intervenções vai até o fim mês que vem, mas, antes que qualquer reforma saia do papel, a empresa precisa obter autorização dos órgãos de tombamento do estado e município -Condephaat e Conpresp, respectivamente.
“Acredito que até o final do ano teremos projetos executivos em fase de aprovação”, disse Carolina Cortez, secretária de governança da concessionária, que administra outros cinco parques estaduais na capital paulista, pontuando que a maioria dos prédios ainda não tem acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. O contrato de concessão estabelece prazo de até 72 meses (seis anos) para que as obras sejam todas entregues.
Integrante do conselho orientador do parque, Cláudia Lukianchuki afirma que a primeira versão do plano de intervenções trouxe pouco detalhamento sobre o que se pretende fazer nos espaços.
“Nós fizemos apontamentos e vamos nos reunir novamente com a concessionária no próximo dia 17. É importante que sigam o Plano Diretor, preservando aspectos característicos como ter no mesmo espaço o visitante interagindo com a flora e com os animais “, disse ela, que há mais de 30 anos frequenta o Água Branca. Cerca de 1.200 aves, entre galinhas, patos, gansos e pavões, vivem soltos no parque.
Segundo a conselheira, que vive no Alto da Lapa, o público do parque é formado principalmente por moradores de bairros do entorno, como Perdizes e Barra Funda. Antes da pandemia, o Água Branca recebia 2,9 milhões de visitantes por ano, em média. De acordo com a concessionária, os números vêm crescendo nos últimos meses, mas ainda estão longe do patamar de antes -entre setembro e abril, o parque recebeu 1 milhão de pessoas.
Questionada, a nova administradora disse que, nos primeiros meses de concessão, deu prioridade a ações de zeladoria e de manutenção hidráulica e elétrica. Visitantes ouvidos pela reportagem confirmaram que percebem o parque mais limpo, mas dizem sentir falta de outras atividades.
Moradora da região, a aposentada Maura Takemiya, 67, conta que gostava de participar de cursos profissionalizantes oferecidos quando o Fundo Social de São Paulo ficava no parque. “A localização é muito boa. Por ficar perto do metrô Barra Funda, muita gente vinha da periferia para participar. Espero que no futuro voltem a oferecer”, disse a aposentada.
LEONARDO ZVARICK / Folhapress