RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) afirmou no início da noite desta quarta-feira (3) que dados da população levantados no Censo Demográfico 2022 serão divulgados “impreterivelmente” no dia 28 de junho.
O órgão também menciona que a etapa final de apuração do Censo, que envolve coletas pontuais, irá até 28 de maio. A confirmação das datas vem após uma série de atrasos na pesquisa e de um impasse sobre o período de divulgação.
Em uma nota publicada no dia 31 de março e atualizada posteriormente em seu site, o Ministério do Planejamento e Orçamento havia afirmado que o IBGE anunciaria os dados preliminares do Censo em 5 de maio. Ou seja, na próxima sexta-feira (5).
A questão é que o calendário do instituto não prevê a divulgação de pesquisas nesta semana. Consultada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Planejamento indicou que caberia ao próprio IBGE confirmar a data de publicação do Censo.
O instituto está sob o guarda-chuva da pasta no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), depois de integrar a estrutura do Ministério da Economia na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Na terça (2), o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, foi questionado sobre a data de divulgação do Censo em um seminário organizado pelo Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Azeredo disse que “quarta-feira, sem falta, a gente vai estar dando essa data para vocês”.
A contagem do Censo começou no dia 1º de agosto de 2022. Inicialmente, o IBGE planejava encerrar essa etapa em três meses, até outubro.
O instituto, porém, enfrentou uma série de dificuldades para realizar os trabalhos. Na fase inicial da coleta, recenseadores reclamaram de atrasos em pagamentos e de valores recebidos abaixo do esperado. Isso gerou ameaças de greve e desistências de parte da categoria.
Não bastassem os problemas com os pagamentos, o IBGE também encontrou recusas de parte da população em responder aos questionários e até fake news sobre a pesquisa em meio à corrida eleitoral do ano passado.
Em 1º de março, oficialmente, o instituto anunciou o fim da coleta do Censo, após sete meses de trabalho. Desde então, o levantamento passa pela etapa de apuração, que representa uma espécie de pente-fino sobre os dados.
Além de checar a consistência das informações já apuradas, essa fase também prevê retornos pontuais de recenseadores a endereços onde a coleta não teve respostas. O IBGE já realizou força-tarefa para ampliar a cobertura em locais como condomínios de alta renda e favelas.
IBGE CITA RESTRIÇÃO DE VERBA COMO OBSTÁCULO
Azeredo reconheceu na terça que a escassez de recursos impactou o Censo em áreas como a de publicidade. Inicialmente, a diretoria do instituto não apontava esse fator como um dos principais obstáculos para o avanço da pesquisa.
“A falta de recursos, ela aconteceu. É importante que vocês saibam que 80% de todo o dinheiro do Censo é para pagar os recenseadores. Qualquer aumentozinho que você dá no recenseador, isso vai impactar de forma efetiva o orçamento”, disse o presidente interino.
“Foi pouco [o orçamento], a gente não tem dúvida disso. Afetou sobretudo a parte de publicidade. A gente recebeu R$ 60 milhões para fazer publicidade. Esse número é muito baixo. É uma gota no oceano”, acrescentou.
Além de citar a restrição orçamentária, Azeredo também associou os atrasos a uma “irresponsabilidade” de parte da população que não quis responder ao Censo. Ao tocar nesse ponto, ele citou os bairros de alta renda Itaim Bibi, em São Paulo, e Leblon, no Rio de Janeiro.
No Itaim Bibi, segundo Azeredo, 25% dos moradores não responderam ao Censo. “Não é só o governo dar o recurso. Não é só o IBGE fazer o trabalho dele. A sociedade tem de participar também”, avaliou.
O Censo costuma ser realizado a cada dez anos. A versão anterior foi realizada em 2010. A edição atual estava prevista para 2020, mas foi adiada pelas restrições da pandemia de Covid-19.
Em 2021, houve novo adiamento, mas dessa vez em razão do corte de verbas para o IBGE no governo Bolsonaro. Assim, a pesquisa ficou para 2022.
Especialistas já alertaram para o longo período de coleta do Censo, o que distanciou o término do trabalho da data de referência da pesquisa.
O IBGE, contudo, indicou que o uso de ferramentas tecnológicas ajudaria a mitigar os riscos de eventuais inconsistências.
“Hoje, a gente tem um Censo com muito mais acompanhamento. A gente consegue rastrear muito mais os problemas”, disse Azeredo na terça.
Prefeituras, especialmente em municípios de menor porte, também já sinalizaram preocupação com os resultados do Censo. O motivo é o risco de queda na população a partir dos dados da pesquisa.
Isso poderia gerar perda de recursos via FPM (Fundo de Participação dos Municípios), já que a contagem dos habitantes baliza os repasses para as prefeituras.
LEONARDO VIECELI / Folhapress