CURITIBA, PR E FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Santa Catarina indiciou nesta segunda-feira (17) o homem de 25 anos que foi preso após invadir uma escola infantil particular em Blumenau (SC) e matar quatro crianças. Ele vai responder por quatro homicídios consumados quadruplamente qualificados (motivo fútil, emprego de meio cruel, sem possibilidade de defesa e contra menor de 14 anos) e por cinco tentativas de homicídio, com as mesmas qualificadoras, por causa das crianças que ficaram feridas.
O ataque ocorreu em 5 de abril e, segundo os investigadores, durou apenas 20 segundos.
O inquérito foi concluído na sexta (14) e o conteúdo dele está sendo divulgado na tarde desta segunda em coletiva de imprensa conduzida pelo delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel. A questão da sanidade mental, segundo o investigador, será enfrentada apenas na fase judicial. Antes, a polícia tinha cogitado pedir o exame ainda na fase do inquérito.
Para fazer a investigação, a polícia obteve autorização para quebrar o sigilo telefônico e telemático do homem. Os investigadores apontam que ele agiu sozinho e escolheu o CEI (Centro Educacional Infantil) Cantinho Bom Pastor, no bairro Velha, de forma aleatória.
Na versão apresentada pelo indiciado aos investigadores, ele declarou que obedecia a ordens de um outro homem, um policial militar e lutador de jiu-jítsu. Mas a hipótese de participação de uma segunda pessoa no crime foi descartada pela polícia. O policial atleta é apontado pelos investigadores como alguém “íntegro e sereno” e, segundo a apuração, não conhecia o autor dos crimes.
De acordo com o delegado Ronnie Esteves, um colega do autor do crime também foi chamado para prestar depoimento e afirmou aos investigadores que o homem indicava que faria “algo grande”.
“Duas semanas antes do fato ele se reuniu com esse amigo numa praça e ele teria conversado sobre a machadinha, sobre o padrasto e o policial militar e teria dito ainda que faria algo grande. Não disse o quê”, afirmou Esteves, fazendo referência a um dos antecedentes criminais do agressor, que esfaqueou o padrasto em 2011. “Como ele falava muita coisa, e o amigo não acreditava em mais nada, eles não deram sequência [à conversa].”
O exame toxicológico apontou que havia cocaína no sangue do agressor, mas os investigadores disseram não saber ainda a quantidade da substância e se o uso tinha sido feito de forma recente -pouco antes de cometer o crime ou no dia anterior, por exemplo.
Eles afirmam que o próprio homem admite que era usuário constante de cocaína.
Inicialmente, a polícia estudava apontar quatro tentativas de homicídio, apenas em relação às crianças que precisaram ser internadas em hospital. Mas, depois, houve a inclusão no inquérito de uma quinta criança ferida, que foi levada pela própria mãe ao hospital para realizar exames e não precisou ser internada.
A pena para o homicídio simples é de 6 a 20 anos de reclusão, além de multa. Em circunstâncias qualificadoras, a pena pode aumentar de 12 a 30 anos de reclusão.
Com a conclusão da investigação, o Ministério Público tem até cinco dias para oferecer a denúncia contra o homem à Justiça estadual. O processo deve tramitar na 2ª Vara Criminal de Blumenau e sob sigilo, por se tratar de um caso envolvendo vítimas menores de idade.
O criminoso está preso na Penitenciária Regional de Blumenau. A reportagem procurou a Defensoria Pública de SC para saber se o indiciado já tem defesa constituída no caso, mas ainda não teve retorno. Ele já tinha quatro passagens pela polícia.
O ATAQUE
O ataque à escola aconteceu às 8h47 do dia 5 de abril. Luiz Henrique de Lima, 25, chegou de moto, pulou o muro de aproximadamente 1,65 metro e caiu no parquinho da escola, onde 25 crianças estavam reunidas para uma roda de conversa sobre a Páscoa.
Usando uma machadinha, o homem atingiu quatro crianças, que não resistiram e morreram ainda no parquinho. As quatro crianças que perderam a vida eram Bernardo Cunha Machado, 5, Bernardo Pabst da Cunha, 4, Enzo Barbosa, 4, e Larissa Maia Toldo, 7.
Outras quatro ficaram feridas, mas conseguiram ser levadas para o Hospital Santo Antônio e voltaram para suas casas no dia seguinte.
Funcionárias da escola relatam que a ação do homem foi extremamente rápida e que estava claro que o foco dele eram as crianças -ele fugiu quando teria percebido que elas estavam conseguindo frear o avanço dele contra os alunos, segundo os relatos. Toda a ação teria durado apenas 20 segundos.
Ao sair da escola, o homem logo se apresentou a um batalhão da PM próximo e foi preso.
Horas depois do ataque, a polícia descartou a hipótese de o homem ter praticado o crime sob influência de jogos de internet -a versão chegou a circular em grupos de mensagens.
CRECHE RETOMA ATIVIDADES
As atividades na escola infantil Cantinho Bom Pastor foram retomadas nesta segunda-feira (17). Logo na entrada, as crianças foram recepcionadas por pessoas fantasiadas de personagens de histórias infantis. Balões coloridos completavam o cenário.
O espaço interno também foi modificado. Desde a semana passada, a direção da creche vem promovendo uma reforma, com ajuda de voluntários e doações de materiais de construção. O muro da creche ficou mais alto e ele ainda ganhará uma nova pintura.
Na rua logo em frente à escola infantil, há uma viatura da Polícia Militar -dois agentes fazem a vigilância. De acordo com a direção da Cantinho Bom Pastor, o suporte da PM será dado nos próximos 15 dias. A partir daí, a creche prevê a contratação de segurança privada.
A escola infantil é particular e existe há quase 15 anos no bairro Velha. O espaço funciona como berçário, pré-escola e também contraturno para crianças de até 12 anos. Hoje são mais de 200 alunos matriculados e quase 30 funcionários.
CATARINA SCORTECCI E GIORGIO GUEDIN / Folhapress