Brasileiros deixam Sudão que, à beira de guerra civil, tem escassez de comida

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto o conflito no Sudão não dá sinais de trégua, um grupo de brasileiros conseguiu fugir do país atravessando a fronteira com o Egito depois de uma longa viagem em um micro-ônibus, informou o Itamaraty. O país africano vive um cenário de caos há dez dias e, segundo a ONU, a perspectiva permanece preocupante, com escassez de alimentos, água potável, remédios e combustível.

Deixaram o Sudão uma servidora do Itamaraty e nove jogadores e membros da comissão técnica do time de futebol Al-Merrikh. Eles chegaram à cidade de Assuã, no Egito, nesta segunda (24) e devem ir à capital, Cairo, nesta quarta. Ao menos sete brasileiros que continuam em território sudanês aguardam em segurança para serem resgatados.

À beira de uma guerra civil, o Sudão registrou novos combates nesta terça (25) que romperam mais uma tentativa de cessar-fogo para a retirada de civis. A trégua havia sido mediada pelo governo dos EUA e anunciada na véspera pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Mais de cinco tentativas de cessar-fogo fracassaram desde o início dos confrontos, no último dia 15. Nas últimas horas, tiroteios foram registrados na capital Cartum e na cidade vizinha Omdurman. Os dois lados se acusam de romper as tréguas.

O conflito no país africano começou após divergências dos antigos aliados Fatah al-Burhan, líder sudanês, e Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, do grupo paramilitar RSF (Forças de Apoio Rápido). Eles discordam sobre a participação dos paramilitares no Exército e disputam a formação de um eventual governo de transição.

Combates intensos provocam a escassez de suprimentos e fazem disparar os preços dos produtos básicos, segundo a ONU. Também comprometem os sistemas de comunicação e de eletricidade. Ao todo, os confrontos já deixaram 459 mortos e mais de 4.000 feridos.

Em nota, o RSF pediu apoio da comunidade internacional para que a trégua seja de fato estabelecida. “O Exército sudanês violou o acordo com ataques de aviões em Cartum. Isso confirma a existência de múltiplos centros de decisão dentro das Forças Armadas golpistas e remanescentes do regime extinto”, informou o grupo paramilitar, em referência à ditadura de 30 anos de Omar al Bashir, deposta em 2019.

O Exército do Sudão não respondeu à acusação, mas havia informado na segunda-feira que cumpriria o cessar-fogo e que esperava das forças inimigas o mesmo posicionamento.

Dos brasileiros que estão no Sudão, dois estão em Cartum, onde os conflitos são mais intensos, e outros cinco no interior, segundo o Itamaraty. Em nota, a pasta informou que o governo brasileiro mantém contato com a ONU para viabilizar a retirada dos que desejam sair.

Mais de mil cidadãos da União Europeia (UE) já deixaram o país africano, segundo Josep Borrell, chefe da diplomacia do bloco. China, Estados Unidos, Japão, Reino Unido e vários países árabes também anunciaram a retirada de centenas de pessoas.

O Acnur, a agência da ONU para refugiados, estima que até 270 mil pessoas podem fugir para o Chade e o Sudão do Sul. Antes, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para o risco de uma “conflagração catastrófica” no Sudão, afirmando que o conflito poderia se espalhar para outros países.

A violência faz disparar também o alerta para crises sanitárias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou nesta terça que um dos principais laboratórios de saúde da capital estava ocupado por soldados e que os funcionários do local haviam sido sequestrados.

Nima Saeed Abid, porta-voz da OMS, descreveu a situação como “extremamente perigosa” porque o laboratório contém amostras dos agentes patogênicos do sarampo, cólera e poliomielite.

Ao alertar para o risco biológico, ele enfatizou que a cólera pode causar a morte em questão de horas se não for tratada. Já o sarampo, altamente contagioso, pode afetar principalmente as crianças menores de cinco anos. “Os ataques aos institutos de saúde são condenáveis e devem parar imediatamente”, afirmou.

Embora intenso, o conflito no Sudão não configura uma guerra civil porque as partes envolvidas não a declararam formalmente e tampouco têm projetos antagônicos definidos, segundo Lucas de Oliveira Ramos, especialista em dinâmicas de segurança na África e doutorando em relações internacionais.

Ele afirma que, por ora, não há clareza sobre as demandas dos grupos envolvidos, que concentram os combates na capital e nos arredores.

Redação / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS