Câncer colorretal pode estar aumentando em jovens no Brasil, mas faltam dados

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Estudos americanos e europeus que apontaram o aumento de casos de câncer colorretal entre os mais jovens nas regiões chamaram a atenção para a realidade brasileira. De acordo com especialistas, o Brasil segue a tendência, mas faltam dados nacionais que confirmem o cenário. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) confirma o aumento, mas ainda trabalha em relatório sobre o tema.

Sedentarismo, dieta rica em ultraprocessados e exposição a poluentes são algumas das possíveis causas do aumento de casos de câncer de intestino em menores de 50 anos, faixa etária considerada jovem para ter a doença.

Um estudo publicado em março pela American Cancer Association estima que o número de diagnósticos de câncer colorretal nos EUA em 2023 chegará a 153 mil. Cerca de 13% desses casos serão de pessoas com menos de 50 anos, o que representa um aumento de 9% dos casos nessa faixa etária desde 2020.

Um estudo publicado em 2020 no periódico de gastroenterologia e hepatologia da BSG (Sociedade Britânica de Gastroenterologia), destacou o aumento de casos de câncer colorretal em jovens adultos de 20 a 49 anos na Europa e nos EUA.

No Brasil, a estimativa do Inca é de 45.630 mil novos casos de câncer de cólon e reto para cada ano do triênio 2023 a 2025. Este é o quarto tipo de câncer com maior incidência, atrás da doença na pele, na mama e na próstata. O câncer de cólon e reto é o terceiro com mais incidência no mundo, com 1,9 milhão de novos casos, segundo o instituto.

“Entre 2011 e 2016, o aumento de casos de câncer de cólon e reto foi de 35% em pacientes com menos de 50 anos segundo pesquisa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Essa tendência continua e o aumento tem sido na ordem de 2% ao ano”, indica Paulo Hoff, professor de oncologia da USP (Universidade de São Paulo) e presidente da Oncologia D’Or.

O estudo revisou o prontuário de 5.806 pacientes com câncer de intestino que tiveram a doença comprovada por biópsia e tiveram os dados encaminhados ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo entre janeiro de 2011 e novembro de 2016. Desse total, foram identificados 781 pacientes com menos de 50 anos. A idade média desses pacientes foi de 42 anos. Os que tinha histórico familiar eram 20,9%, enquanto as mulheres representavam 57,4%.

De acordo com Hoff, observava-se uma idade média de 67 anos para a incidência de câncer de cólon. Nas últimas décadas, entretanto, casos antes dos 50 anos, que eram raros, cresceram em diferentes países. Embora ainda não se tenha certeza sobre o que motiva o aumento, possíveis causas seriam o sedentarismo e a exposição a poluentes, somada a dietas ricas em ultraprocessados.

Antônio Carlos Moraes, gastroenterologista e diretor da Federação Brasileira de Gastroenterologia, diz que dietas ricas em gordura alteram a flora intestinal. “Essa mudança da microbiota favorece a carcinogênese [alteração celular] do intestino”, afirma.

O gastroenterologista observa aumento de pacientes com mais de 45 anos com pólipos no intestino, que são alterações que podem evoluir para o câncer. A doença no órgão, também chamada de cólon e reto ou colorretal, resulta de alterações genéticas das células que revestem a mucosa do intestino, levando à presença de tumores na região.

Alexandre Jácome, oncologista e diretor da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica), percebe em seu consultório aumento de casos de pacientes mais jovens com câncer de colo e reto. O oncologista destaca a importância de mais dados e estudos sobre a realidade nacional.

“Ao que tudo indica, esse fenômeno não está restrito aos Estados Unidos. Ele atinge países da Europa, países do Norte e alguns países da América Latina. Mas, no nosso meio, a gente ainda carece de dados”, afirma.

O país norte-americano, entretanto, apresentou uma taxa de aumento maior do que a Europa, segundo o estudo britânico. De acordo com os pesquisadores, o que poderia justificar o valor mais expressivo nos EUA seria o maior número de pessoas obesas no país.

O estudo apontou que a incidência de câncer colorretal teve, nos EUA, um crescimento percentual anual de 4,3% para pessoas de 20 a 29 anos, de 2,47% entre aqueles de 30 a 39 anos e de 1,8% em pessoas de 40 a 49 anos.

Para a Europa, o trabalho usou dados de 1990 a 2016 de 20 países no continente para verificar incidência e mortalidade do câncer colorretal. O estudo aponta que os casos da doença aumentaram, de 2004 a 2016, 7,9% ao ano entre pessoas de 20 a 29 anos. Para aqueles entre 30 e 39 anos, o crescimento foi, de 2005 a 2016, de 4,9% ao ano. O grupo entre 40 e 49 anos teve um aumento de 1,6% ao ano entre 2004 e 2016.

Os principais sintomas do câncer de intestino são sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal, dor abdominal persistente e perda de peso não intencional, afirma Jácome.

“O que temos feito nos últimos anos é conscientizar, além da população, a própria classe médica”, diz. “Quando chega ao consultório um caso de perda de sangue nas fezes com pessoas de 70 anos de idade, frequentemente os médicos suspeitam de câncer, mas [com pacientes] aos 30 anos de idade eles não suspeitam. Isso tem levado ao atraso do diagnóstico.”

Segundo Paulo Hoff, o exame preventivo pode ser feito anualmente pela análise de sangue oculto nas fezes ou por colonoscopia a cada 5 ou 10 anos. “A recomendação atual no mundo é que seja iniciado aos 50 anos. Mas, como vimos esse aumento constante da incidência em pessoas mais jovens, há um movimento sugerindo que essa idade inicial deva cair para os 45”, pontua.

ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA / Folhapress

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