SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A China afirmou que deseja apoiar os “interesses fundamentais” da Rússia nesta quarta-feira (24) -em uma sinalização de que a parceria entre os dois países, ligados por um pacto de “amizade sem limites” assinado dias antes da eclosão da Guerra da Ucrânia, continua firme.
A declaração foi feita pelo próprio líder do regime, Xi Jinping, ao primeiro-ministro Mikhail Michustin -mais alta autoridade russa a visitar Pequim desde o início da guerra. Durante o encontro, segundo a agência de notícias Xinhua, Xi disse querer que os dois países “se apoiem firmemente em questões que afetam seus respectivos interesses fundamentais” e pediu que eles coordenassem ações em fóruns multilaterais como o G20, a ONU ou o Brics.
A mostra de união vem depois de um comunicado atacando ambas as nações divulgado pelo G7, grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo, durante seu encontro anual, realizado neste fim de semana.
Ao mesmo tempo, sucede também duas ocasiões recentes em que Pequim pareceu querer se distanciar de Moscou. Só na semana passada, o regime chinês enviou uma delegação a Kiev -principal inimigo do Kremlin, afinal- para apresentar um plano de paz, e recebeu com pompa líderes de cinco ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central em uma busca por ocupar o vazio da influência russa nesses países, negligenciados pelo presidente Vladimir Putin em razão da guerra.
Michustin chegou à China na segunda-feira (22), acompanhado de várias outras autoridades de seu país. Na terça (23), participou de um fórum econômico em Xangai. E, na quarta, antes de se reunir com Xi, conversou também com seu homólogo, Li Qiang.
Durante o encontro, disse ao premiê chinês que as relações entre Rússia e China “alcançaram um nível sem precedentes” -ecoando uma declaração feita meses antes pelo próprio presidente russo, Vladimir Putin, que disse ao chefe da diplomacia chinesa que os elos entre as duas nações estavam “alcançando novos horizontes”.
De fato, e sobretudo desde a invasão da Ucrânia, as relações entre os países se tornaram mais próximas. Segundo analistas, a China é quem mais tem se beneficiado desse relacionamento, aproveitando as incontáveis sanções impostas pelo Ocidente à Rússia para comprar seu petróleo a preços mais baixos.
Pequim é o maior parceiro comercial de Moscou, e as transações entre as duas nações chegaram a US$ 190 milhões no ano passado (R$ 991,2 milhões na cotação da época), de acordo com as autoridades chinesas. Segundo Li Qiang, só nos primeiros quatro meses deste ano, o valor delas foi de US$ 70 bilhões (R$ 350 bilhões na cotação da época).
A expectativa para este ano é que a Rússia aumente em 40% o envio de combustível para o gigante asiático. A agência de notícias russa Interfax ainda afirmou que as duas nações discutem o envio de equipamentos tecnológicos de Pequim para Moscou.
Do lado da Rússia, as remessas foram em parte responsáveis por permitir sua sobrevivência financeira a despeito das seguidas tentativas dos aliados da Ucrânia de sufocar sua economia com sanções. Antes do conflito na Ucrânia, o país liderado por Putin era o maior fornecedor de gás para a União Europeia, e em 2021 foi responsável por mais de 39% do total de combustível importado pelo bloco segundo o seu gabinete de estatísticas, o Eurostat.
A relação entre Xi e Putin tem, aliás, preocupado cada vez mais essa Europa, além dos Estados Unidos, em meio ao aprofundamento da Guerra Fria 2.0 entre Ocidente e Oriente. No contexto da Guerra da Ucrânia, especificamente, os aliados de Kiev desconfiam das alegações de neutralidade de Pequim. Além de ignorarem sua proposta de paz, apresentada na época em que o conflito fez um ano, eles também acusaram os chineses de enviar armamentos para os russos nas frentes do conflito.
Redação / Folhapress