No dia 24 de março, famílias do Estado de São Paulo começavam o primeiro de muitos dias sem poder sair de casa. Após quase 90 dias de isolamento social, “o que parecia ser a oportunidade ideal para fortalecer relações, em muitas famílias foi um fator para o aparecimento de conflitos”. A afirmação é da psicóloga Carla Guanaes Lorenzi, professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
A professora conta que, na maioria dos casos, as desavenças são causadas pelo convívio excessivo e por alterações que antes não estavam previstas na rotina das famílias, como o home office e homeschooling. “Estão acontecendo muitas coisas no ambiente familiar de uma forma muito diferente do que usualmente acontecia. Isso exige uma capacidade de adaptação e flexibilização que muitas vezes não é tão fácil assim de desenvolver.”
Ainda segundo a professora Carla, os atritos variam de acordo com a singularidade de cada lar e que são as condições financeiras e sociais que definem como será o enfrentamento da pandemia da covid-19. “São fatores que estão além dos individuais e que implicam em diferentes possibilidades de como a família irá passar e enfrentar esta situação de pandemia com um pouco mais de qualidade e de saúde mental”, afirma.
A comunicação e o planejamento dos papéis que cada membro da família desempenha neste novo momento “são ferramentas essenciais para lidar com as diferenças sem sair de casa”, afirma a professora. Além disso, recomenda que rotinas com boa alimentação, sono e práticas de exercícios sejam mantidas, assim como o contato, mesmo que virtual, com amigos e colegas de trabalho. “O contato com outras pessoas pode ajudar a conversar sobre situações desafiadoras. Compreender que muitas pessoas podem estar passando por situações semelhantes pode ajudar a dar uma dimensão do quanto o problema que vivemos pode ser similar ao de outras pessoas.”
Carla diz que é muito comum experimentar sentimentos de angústia, medo e ansiedade em momentos como este e que muitos serviços estão preparados para o atendimento on-line daqueles que precisarem de ajuda psicológica. “A pandemia vai passar, mas as relações familiares permanecerão. Elas podem sair ainda mais fortalecidas deste período”, finaliza.