Coroação de Charles 3º aos 74 anos levanta debate sobre saúde, longevidade e trabalho

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – O rei Charles 3º foi coroado neste sábado (6) aos 74 anos –idade em que muitos já estão aposentados em diversos países do mundo. Então, o que significa para sua saúde assumir o maior posto da família real britânica?

A participação de membros da sua geração ou mais velhos em cargos de alto escalão político traz um novo debate sobre saúde, longevidade e trabalho. Para especialistas ouvidos pela reportagem, a saúde deve ser vista com atenção, ao passo que há um impacto positivo para o mundo corporativo.

O clínico geral e geriatra Paulo Camiz, professor do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), diz que o avançar da idade representa algo que vai na direção oposta do que ocorre no início da infância.

“Às vezes a criança muda muito rápido no ascendente. Você fica pouco tempo sem ver alguém de 3 ou 4 anos e se impressiona com o desenvolvimento dela. O idoso, principalmente a partir dos 80 anos, pode ter uma mudança muito rápida também em termos de funcionalidade, mas na direção descendente. As pessoas falam ‘nossa, mas eu estive aqui com ele três meses atrás e agora ele deu uma piorada muito abrupta”, analisa o médico.

Esse envelhecimento repentino é o principal risco para pessoas na terceira idade, segundo Camiz. Quando o assunto são cargos políticos, é preciso cuidado para que as responsabilidades associadas ao posto não acelerem esse declínio.

“É claro que, às vezes, a saúde física não é o principal porque tem todo um suporte, não implica necessariamente na pessoa estar em perfeita habilidade, mas em toda uma estrutura que a leva a tomar decisões melhores”, pontua.

Doenças sem prevenção ou cura, como a demência, têm maior incidência conforme a idade avança. Charles não possui problemas de saúde evidentes, apesar dos inchaços recorrentes em seus dedos, o que já lhe rendeu o apelido de “dedos de salsicha”.

“Podem ter várias causas possíveis para isso, como doenças reumatológicas ou efeito colateral de alguns remédios também. Tem que ver como é a evolução e como isso vai se manifestar nos próximos anos”, afirma Camiz.

A família real possui um histórico de longevidade e cuidados. Elizabeth Bowes-Lyon, a “rainha-mãe” e avó de Charles, viveu até os 101 anos. Seu pai, o príncipe Philip, chegou aos 99.

Elizabeth 2ª, sua mãe e antecessora, assumiu o trono aos 25 anos e teve o mais longo reinado britânico: governou por 70 anos até sua morte, em setembro de 2022. Ela tinha 96 anos e era vista como um exemplo de longevidade.

Para Fernanda Minniti Mançano, gerente nacional de recursos humanos do Grupo Brasilux e idealizadora da Seniors Longevidade, é tempo de normalizar a questão.

“Precisamos combater o etarismo e fomentar a diversidade etária. Líderes mais velhos trazem história, vivência e bagagem. Nos permitem olhar as situações com olhos mais empáticos. Tem senso de urgência apurado, pois querem ver as coisas aconteceram. A riqueza da troca entre gerações está sendo uma grande perda”, afirma Mançano.

A gerente reconhece que o avanço da idade reduz o vigor físico, mas destaca que a tecnologia abre possibilidades menos desgastantes. “Não é porque envelhecemos que perdemos a vontade de aprender, ensinar e nos aprimorar. Para todos nós, envelhecer deve ser sinônimo de vida, com alguns ajustes, mas vida”, diz.

Marcela Buttazzi, diretora da MB Carreira & Recolocação, tem em casa um exemplo. Ela atuou na recolocação de sua mãe, hoje com 75 anos, após a aposentadoria.

Para ela, a “maturidade emponderada”, com profissionais se mantendo mais tempo no mercado, é uma tendência que veio para ficar. “Os meus clientes hoje são de cargos que vão de um analista sênior a um executivo e todos desejam continuar trabalhando”, diz.

DANIELLE CASTRO / Folhapress

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