Crise dos semicondutores em Taiwan será nova crise dos mísseis, diz Niall Ferguson

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para o historiador escocês Niall Ferguson, a tensão na ilha de Taiwan em torno da produção de semicondutores será equivalente ao simbolismo da crise dos mísseis de Cuba para a Guerra Fria 2.0 –a disputa travada entre EUA e China atualmente.

“E isso acontecerá ainda nesta década muito provavelmente”, afirmou ele durante uma palestra no Itaú Asset Day na última semana, ocasião em que reiterou que, para os que ainda são comedidos ao cravar que o mundo assiste a uma nova Guerra Fria, é hora de aposentar dúvidas.

Ferguson justifica o calendário estipulado para um conflito em relação a Taiwan, ilha que na prática é independente, mas a China considera parte de seu território, com dois argumentos centrais: “Joe Biden segue comprometido de forma inquestionável com a defesa de Taiwan, e a maioria dos americanos acha que vale a pena lutar pela ilha”.

Taiwan é protagonista na produção mundial de semicondutores, os minúsculos processadores no centro da tecnologia de celulares, carros autônomos, computação avançada, drones e equipamentos militares. E o governo local se fia ao chamado Silicon Shield, ou escudo de silício, como espécie de seguro de vida para contar com apoio internacional no caso de uma invasão chinesa.

Para o pesquisador da Universidade de Stanford, a Guerra Fria 2.0 é “um pouco mais arriscada do que a primeira Guerra Fria” para o Ocidente. “Os EUA não têm mais o complexo industrial militar que tinham na época de John F. Kennedy, não está claro se Washington venceria desta vez, as chances são muito menos atraentes.”

Falando a investidores, Ferguson disse que seus ouvintes deveriam se preocupar com a probabilidade de uma crise de semicondutores. “A China não precisa nem invadir. Se apenas bloquear Taiwan, e os EUA enviarem porta-aviões, os mercados globais vão explodir.”

O escocês afirmou ainda considerar a Guerra Fria 2.0 uma “guerra mundial latente, porque há três locais onde ela pode explodir”. Ele se refere à Guerra da Ucrânia, a Taiwan e ao Irã. “Há um laço entre China, Rússia e Irã, e eles cooperam mais a cada semana que passa. Não acho que os EUA estejam prontos para um conflito assim.”

Ainda em seus comparativos, disse que o conflito entre Ucrânia e Rússia é a primeira guerra em campo da Guerra Fria 2.0 –já haveria, diz ele, uma espécie de guerra cibernética. E o conflito para a disputa atual “o mesmo que a guerra da Coreia foi para a primeira Guerra Fria”.

Autor de livros como “Doom” (apocalipse, em tradução livre), no qual oferece uma “história geral das catástrofes”, entre elas a pandemia de coronavírus, Fergunson diz que Pequim fez a Guerra Fria 2.0 ocorrer.

“Se você lidar completamente mal com o surto de uma nova doença infecciosa e criar uma pandemia global, não vai se tornar mais popular. E se tornará ainda menos popular se usar a chamada diplomacia dos ‘lobos guerreiros’ para tentar culpar outra pessoa”, disse. “Foi o que eles [chineses] fizeram.”

Fergunson falou sobre um dos assuntos que têm pautado o mercado financeiro: a desdolarização. Ele ironizou falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, durante visita à China, defendeu usar o banco do Brics para contornar o dólar no comércio. “Isso espalha uma visão de que estamos vivendo o crepúsculo do dólar.”

Ainda assim, o escocês reconheceu a importância que outras moedas, como o yuan chinês, tem ganhado no mercado global –como no Brasil, conforme mostrou recente relatório do Banco Central.

Aos investidores, sugeriu que diversifiquem as moedas nas quais investem e disse ver no euro uma boa alternativa.

Redação / Folhapress

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