SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro pessoas morreram e ao menos cinco ficaram feridas após um desabamento seguido de incêndio de parte de um prédio de três andares em Olinda, no Grande Recife, na noite desta quinta-feira (27). Nesta sexta (28), os bombeiros ainda procuravam duas pessoas em meio aos escombros, uma adolescente e uma mulher de 60 anos.
O desabamento ocorreu no Jardim Atlântico, por volta das 22h. O prédio estava interditado, segundo a Defesa Civil de Olinda, e portanto não poderia ter moradores.
Os mortos são um homem de 32 anos, um adolescente de 13, uma mulher de 52, identificada como Maria José Barbosa da Silva, e uma mulher adulta, encontrado por volta das 19h30 desta sexta o nome e a idade ainda não foram informados.
Os feridos foram levados para hospitais da região dois tiveram alta e três continuam internados.
Um dos feridos, um homem de 53 anos, foi resgatado dos escombros por volta das 8h desta sexta. Com trauma na perna esquerda, ele foi encaminhado para o Hospital da Restauração, na área central do Recife, onde será submetido a cirurgia. O estado de saúde dele é considerado estável.
Outro ferido, de 45 anos, sofreu uma fratura na mão e passou por cirurgia, também no Hospital da Restauração. O terceiro ferido internado foi levado para no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, também na região metropolitana da capital, com uma fratura na mão e quadro estável.
O trabalho de resgate contava com 35 bombeiros e uma retroescavadeira, além de equipamentos capazes de captar sons que eventualmente sejam emitidos por sobreviventes sob os escombros.
Segundo o prefeito de Olinda, Professor Lupércio (Solidariedade), todas as secretarias municipais estão mobilizadas para prestar assistência às vítimas.
“Ficaremos atentos ao trabalho. O governo de Pernambuco prestará todo o apoio necessário”, disse a governadora Raquel Lyra (PSDB).
O edifício Lene fica localizado na rua Acapulco, no bairro de Jardim Atlântico. André Ricardo e Maria Monique moravam no terceiro andar. Eles sobreviveram ao desabamento após descerem pelas janelas ao redor do prédio, andar por andar.
“Estava assistindo à novela. Quando ouvi, foi um estrondo. A parede da sala estava caindo, ficou um buraco. A gente resolveu correr e descer pela lateral”, diz.
“Descemos de grade em grade, janela por janela pela lateral. Eu e minha esposa”, conta.
Morador do local há oito meses, André Ricardo conhece os vizinhos desaparecidos e também os que morreram. A esposa dele mora na localidade há dez anos.
Ana Penha da Silva, 63, mora na região. Ela disse que frequenta o bairro de Jardim Atlântico com periodicidade e aponta que a situação do Edifício Lene se repete em outras unidades residenciais.
“São muitos prédios aqui assim. Mas as pessoas moram no risco porque não têm para onde ir. Vão morar na rua?”, indaga. “Já faz muitos anos que esse prédio está assim.”
A reportagem tentou falar com parentes de vítimas que estariam nos escombros, mas eles optaram por ficar em silêncio. Em diversos momentos, essas pessoas iam às lágrimas em meio à tensão, e trocavam abraços e falas de otimismo, como “vai dar certo”.
Na mesma rua do edifício Lene, outros prédios apresentam sinais visíveis de degradação. Um imóvel quase de frente ao local do desabamento está com rachaduras, sem janelas e com paredes furadas. Esse espaço tem moradores, segundo vizinhos.
No percurso para o local do desabamento, na manhã desta sexta, a reportagem da Folha visualizou o mesmo panorama em ao menos outros cinco edifícios.
Em 2020, a Prefeitura de Olinda divulgou que há cerca de 98 prédios com problemas para moradia.
Mesmo assim, pessoas invadiram a unidade ou realizaram aluguéis das suas propriedades. O edifício é do formado caixão e tinha o térreo e mais três andares. Ao todo, eram 16 apartamentos.
Na manhã desta sexta, a prefeitura disse à imprensa que desde 2001 há uma ação na Justiça para que a Caixa Econômica Federal demolisse o prédio e proibisse as invasões.
A Folha de S.Paulo apurou que a Prefeitura de Olinda não tem perspectiva de anunciar auxílios aos ocupantes do edifício. A gestão municipal entende, segundo gestores, que os moradores residiam no local havia pouco tempo e, além disso, a prefeitura não teria responsabilidade, mas sim a Caixa.
Em nota, a Caixa Seguradora disse que se solidariza com as famílias e que adota “as medidas necessárias para atendimento e suporte aos envolvidos, ao passo em que apura eventuais responsabilidades”.
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress