Desabrigados após chuva em São Sebastião recebem casas provisórias

SÃO SEBASTIÃO, SP (FOLHAPRESS) – Gilvan Lamedo Ferreira, 51, vivia sozinho em uma casa do bairro Itatinga, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo. Perdeu tudo no dia 19 de fevereiro, quando as chuvas de mais de 600 mm não deram trégua e causaram 65 mortes na cidade e em Ubatuba. “A chuva foi muito forte. Minha casa ficava um pouco abaixo de outras que caíram. Moro há 25 anos aqui e nunca vi nada igual.”

Na manhã desta quinta-feira (4), Ferreira conheceu seu lar novo, provisório. São unidades habitacionais do Casa de Passagem, construído pelo Governo de São Paulo por meio da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

As moradias têm 18 m². Segundo o governo, são residências provisórias, construídas com painéis de madeira. A ideia é que as famílias fiquem no local até outubro aguardando a construção das moradias definitivas.

Ao todo, serão três conjuntos habitacionais a serem erguidos nas praias da Baleia e em Maresias. Na primeira, estão previstos dois prédios com 242 e 276 unidades habitacionais de 42 metros quadrados cada uma. Em Maresias, serão 186 apartamentos.

Desde a tragédia, Ferreira e outras famílias desalojadas estavam hospedados em pousadas e hotéis da cidade.

“Fui muito bem tratado lá. Não é a mesma coisa da nossa casa, claro, mas deu tudo certo. Eu tinha uma casa com três quartos, sala, cozinha e banheiro”, diz ele. “Essa casa [de passagem] também é boa. Espero que ter uma nova vida aqui e na futura casa. Para mim, que moro sozinho, está muito bom.” Ferreira está desempregado e trabalha como ajudante de serviços gerais.

Entre as quatro famílias desalojadas após a tragédia das chuvas e que foram para as casas de passagem está a de Marlucia Oliveira, 53. Ela, o filho Felipe, a nora Fernanda e o neto João Lucas, 7, moram juntos e também sofreram com o temporal.

“O que chamou a atenção foi o barulho de pedras batendo na casa. Tivemos que deixá-la e fomos socorridos pela Defesa Civil. Perdemos tudo, até as roupas”, conta Oliveira.

A família estava hospedada em pousada no bairro Pontal da Cruz antes de chegar às unidades habitacionais desta quinta. “A sensação de estar no nosso cantinho não tem explicação. Ainda mais que estamos no mesmo bairro. Nossa família está por perto, fica mais fácil”, diz o filho.

Ele está desempregado e busca entrar no mercado de trabalho. “Eu faço ‘bico’. Trabalho com jardinagem, mas estou à procura de um emprego fixo. Nós recebemos bastante ajuda, estamos conseguindo levar a vida. Espero que aqui seja uma nova chance pra gente”, conta ele.

O imóvel está pronto para ser utilizado. A CDHU forneceu o transporte para as mudanças, e as famílias receberam em doação kits de eletrodomésticos, com geladeira, fogão e mobiliário.

A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Governo de São Paulo diz que as transferências serão realizadas de forma gradual.

Durante a semana, apenas essas quatro famílias ficarão nas casas de passagem. Durante a próxima semana, chegarão outras famílias para completar as 72 unidades previstas.

A previsão é que a CDHU conclua a construção de 704 unidades habitacionais definitivas até outubro nos bairros Baleia Verde, Maresias e Topolândia.

A entrega das unidades provisórias ocorre em meio à pressão de moradores por soluções.

No último dia 19, um grupo protestou em frente à prefeitura contra a demora nas medidas prometidas para famílias prejudicadas pelos deslizamentos, afirmando que pouca coisa foi feita em dois meses para atender a população que perdeu parentes, bens e imóveis.

O protesto foi organizado pelo movimento União dos Atingidos, que reúne dois representantes de cada um dos cinco bairros mais prejudicados pelos de slizamentos e alagamentos: Vila Sahy, Baleia Verde, Juquehy, Boiçucanga e Camburi, além do núcleo Sítio Velho, em de Barra do Una.

A reportagem verificou que na Vila Sahy, local que concentrou a maior parte das mortes, moradores estão voltando para casas em regiões indicadas pela Defesa Civil como suscetíveis a novos deslizamentos.

“Não temos nada contra a construção de moradias, mas estamos reivindicando infraestrutura para os bairros. Temos um problema grave de saneamento. Faltam equipamentos de saúde aqui na costa sul e as pessoas precisam buscar atendimento no centro”, disse a representante de Juquehy, a vereadora suplente Pauleteh Araújo.

CLÁUDIO RODRIGUES / Folhapress

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