OLINDA, PE (FOLHAPRESS) – Familiares, vizinhos e amigos dos desaparecidos nos escombros do prédio que desabou em Olinda, no Grande Recife, acompanham o trabalho do Corpo de Bombeiros com apreensão nesta sexta-feira (28).
Cerca de 35 bombeiros atuam nas buscas por três desaparecidos. Ao todo, 11 vítimas foram socorridas pelos bombeiros, sendo três pessoas mortas e cinco encontradas com vida.
O edifício Lene fica localizado na rua Acapulco, no bairro de Jardim Atlântico. A Defesa Civil de Olinda afirma que o prédio de três andares, que desabou na noite de quinta (27), estava interditado para moradia.
Além de jornalistas e técnicos da Prefeitura de Olinda, dezenas de pessoas ligadas às vítimas estavam no local nesta sexta.
André Ricardo e Maria Monique moravam no terceiro andar do prédio. Eles sobreviveram ao desabamento após descerem pelas janelas ao redor do prédio, andar por andar.
“Estava assistindo à novela. Quando ouvi, foi um estrondo. A parede da sala estava caindo, ficou um buraco. A gente resolveu correr e descer pela lateral”, diz.
“Descemos de grade em grade, janela por janela pela lateral. Eu e minha esposa”, conta.
Morador do local há oito meses, André Ricardo conhece os vizinhos desaparecidos e também os que morreram. A esposa dele mora na localidade há dez anos.
Ana Penha da Silva, 63, mora na região. Ela disse que frequenta o bairro de Jardim Atlântico com periodicidade e aponta que a situação do Edifício Lene se repete em outras unidades residenciais.
“São muitos prédios aqui assim. Mas as pessoas moram no risco porque não têm para onde ir. Vão morar na rua?”, indaga. “Já faz muitos anos que esse prédio está assim.”
A reportagem tentou falar com parentes de vítimas que estariam nos escombros, mas eles optaram por ficar em silêncio. Em diversos momentos, essas pessoas vão às lágrimas em meio à tensão, e trocam abraços e falas de otimismo, como “vai dar certo”.
Durante os resgates, os bombeiros costumam pedir silêncio total aos jornalistas, parentes e curiosos que acompanham as buscas. “Silêncio total. Se alguém estiver ouvindo, grite ou bata três vezes”, diz um dos bombeiros nessas ocasiões.
Funcionários da prefeitura trabalhavam no local retirando um a um pedras e destroços. Uma retroescavadeira também auxilia os agentes municipais e os bombeiros.
Na mesma rua do edifício Lene, outros prédios apresentam sinais visíveis de degradação. Um imóvel quase de frente ao local do desabamento está com rachaduras, sem janelas e com paredes furadas. Esse espaço tem moradores, segundo vizinhos.
No percurso para o local do desabamento, na manhã desta sexta, a reportagem da Folha visualizou o mesmo panorama em ao menos outros cinco edifícios.
Em 2020, a Prefeitura de Olinda divulgou que há cerca de 98 prédios com problemas para moradia.
Mesmo assim, pessoas invadiram a unidade ou realizaram aluguéis das suas propriedades. O edifício é do formado caixão e tinha o térreo e mais três andares. Ao todo, eram 16 apartamentos.
Na manhã desta sexta, a prefeitura disse à imprensa que desde 2001 há uma ação na Justiça para que a Caixa Econômica Federal demolisse o prédio e proibisse as invasões.
A Folha apurou que a Prefeitura de Olinda não tem perspectiva de anunciar auxílios aos ocupantes do edifício. A gestão municipal entende, segundo gestores, que os moradores residiam no local há pouco tempo e, além disso, a prefeitura não teria responsabilidade, e sim a Caixa.
Em nota, a Caixa Seguradora disse que se solidariza com as famílias e que adota “as medidas necessárias para atendimento e suporte aos envolvidos, ao passo em que apura eventuais responsabilidades”.
O advogado José Antônio Alves de Melo Junior defende parte dos proprietários do prédio quando a ação começou a tramitar na Justiça. Esses antigos moradores receberam indenização em 2010, segundo o defensor.
“O prédio estava invadido por terceiros. Os antigos moradores não têm responsabilidade pelo que ocorreu”, afirma.
Situação dos feridos
Um dos feridos, um homem de 53 anos, foi resgatado dos escombros por volta das 8h desta sexta. Com trauma na perna esquerda, ele foi encaminhado para o Hospital da Restauração, na área central do Recife, onde será submetido a cirurgia. O estado de saúde dele é considerado estável.
Outro ferido, de 45 anos, sofreu uma fratura na mão e passou por cirurgia, também no Hospital da Restauração. O terceiro ferido internado foi levado para no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, também na região metropolitana da capital, com uma fratura na mão e quadro estável.
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress