SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Está em curso uma investigação que analisa a manipulação de partidas de futebol no Brasil. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) identificou situações em que jogadores foram abordados para forçar cartões ou cometer pênaltis, com o objetivo de ganho ilícito em sites de apostas esportivas.
Foram deflagradas até o momento duas etapas da Operação Penalidade Máxima. A primeira, em fevereiro, mirava duelos da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022. Na segunda, em abril, o escopo cresceu e passou a incluir disputas da Série A e de alguns torneios estaduais.
Uma quadrilha foi apontada pelo MP-GO, e a Justiça acatou as denúncias, transformando em réus mais de 20 pessoas, entre aliciadores e jogadores. Alguns desses atletas foram afastados por seus clubes, mas a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), por ora, não fala em interromper competições.
**O QUE É A OPERAÇÃO PENALIDADE MÁXIMA?**
A Operação Penalidade Máxima é uma operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO) que investiga a manipulação de partidas de futebol. Há indícios de que houve fraudes em partidas do Campeonato Brasileiro de 2022 (Série A e Série B), do Campeonato Paulista de 2023 e do Campeonato Gaúcho de 2023.
**QUAL É A MANIPULAÇÃO? TRATA-SE DE MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS?**
Não. Ao menos não diretamente. De acordo com a investigação, aliciadores abordaram jogadores para que eles tomassem cartão amarelo ou cartão vermelho de propósito. Em outros casos, a aposta era na marcação de um pênalti. Evidentemente, advertências, expulsões e penais influenciam o resultado, mas as apostas suspeitas, pelo que se sabe até agora, não eram no placar dos jogos.
**POR QUE A INVESTIGAÇÃO TEM SIDO CONDUZIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DE GOIÁS?**
A primeira denúncia partiu do presidente de um clube de Goiânia, o Vila Nova. Diz o MP-GO que o volante Romário topou receber R$ 150 mil para cometer um pênalti na partida contra o Sport, pela Série B. Mas ele não foi relacionado nem para o banco de reservas e, ainda segundo o MP, tentou convencer companheiros a fazer o serviço. A história chegou ao presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que é major da Polícia Militar de Goiás e levou o caso ao Ministério Público.
**QUAIS SÃO OS JOGOS SOB INVESTIGAÇÃO?**
**Campeonato Brasileiro 2022 (Série A)**
Palmeiras x Juventude (10.set)
Juventude x Fortaleza (17.set)
Ceará x Cuiabá (16.out)
Goiás x Juventude (5.nov)
Red Bull Bragantino x América-MG (5.nov)
Santos x Avaí (5.nov)
Palmeiras x Cuiabá (6.nov)
Botafogo x Santos (10.nov)
**Brasileiro Série B 2022**
Sport x Operário-PR (28.out)
Criciúma x Tombense (5.nov)
Sampaio Corrêa x Londrina (5.nov)
Vila Nova x Sport (6.nov)
**Campeonato Paulista 2023**
Red Bull Bragantino x Portuguesa (21.jan)
Guarani x Portuguesa (8.fev)
**Campeonato Gaúcho 2023**
Bento Gonçalves x Novo Hamburgo (11.fev)
Caxias x São Luiz (12.fev)
De acordo com o MP-GO, “algumas partidas seguem em investigação em outro procedimento criminal, Luverdense x Operário de Várzea Grande (MT) e Goiás x Goiânia entre elas”.
**QUAIS JOGADORES FORAM DENUNCIADOS?**
O MP-GO denunciou 15 atletas. A Justiça de Goiás acatou a denúncia, o que os tornou réus. Confira a lista:
Allan Godói (Operário-PR) foi anunciado pelo clube já depois de ter seu nome divulgado na primeira fase da operação; ainda não estreou;
André Luiz (sem clube) teve o contrato rescindido pelo Ituano em abril;
Eduardo Bauermann (Santos) afastado pelo clube;
Fernando Neto (São Bernardo) afastado pelo clube;
Gabriel Domingos (sem clube) rescindiu contrato com o Vila Nova;
Gabriel Tota (Ypiranga-RS) normalmente integrado ao time;
Igor Cariús (Sport) normalmente integrado ao time;
Joseph (Betim) normalmente integrado ao time;
Matheus Gomes (sem clube) deixou o Sergipe antes de seu nome aparecer na apuração;
Matheusinho (Cuiabá) normalmente integrado ao time;
Paulo Miranda (sem clube) afastado pelo Náutico, topou rescindir contrato;
Paulo Sérgio (Operário-PR) normalmente integrado ao time;
Romário (sem clube) pivô do início da investigação, defendeu o Goiânia depois de ter deixado o Vila Nova;
Victor Ramos (Chapecoense) normalmente integrado ao time;
Ygor Catatau (Sepahan-IRA) transferiu-se do Sampaio Corrêa ao futebol do Irã no início do ano.
Outros jogadores são citados nas investigações, mas não foram denunciados. Ainda assim, por precaução, vários deles foram afastados por seus clubes.
**QUAIS APOSTADORES FORAM DENUNCIADOS?**
Bruno Lopez de Moura, 29, é apontado como o líder do esquema e foi preso na primeira fase da operação. Thiago Chambó Andrade e Romário Hugo dos Santos também estão presos preventivamente desde fevereiro. Confira a lista de denunciados:
Bruno Lopez de Moura;
Camila Silva da Motta;
Ícaro Fernando Calixto dos Santos;
Luís Felipe Rodrigues de Castro;
Pedro Gama dos Santos Júnior;
Romário Hugo dos Santos;
Thiago Chambó Andrade;
Victor Yamasaki Fernandes;
William de Oliveira Souza;
Zildo Peixoto Neto.
**QUAL FOI O VALOR PAGO AOS ATLETAS PELOS ALICIADORES?**
O pagamento variava entre R$ 50 mil e R$ 500 mil. No momento do acerto, havia o pagamento de um sinal. Concluída a manipulação, o atleta recebia o restante.
**A INVESTIGAÇÃO APONTOU A PARTICIPAÇÃO DE ÁRBITROS NO ESQUEMA FRAUDULENTO?**
Até o momento, as investigações divulgadas apontam apenas a participação de atletas em conluio com a quadrilha de apostadores. Não há menção a árbitros.
**OS CLUBES E OS SITES DE APOSTAS TAMBÉM SÃO CONSIDERADOS SUSPEITOS?**
Não. Neste momento, clubes e sites são tratados como vítimas do esquema.
**QUAIS SÃO AS POSSÍVEIS PUNIÇÕES PARA OS ENVOLVIDOS?**
Na esfera criminal, os denunciados deverão responder pelas práticas de organização criminosa (três a oito anos de prisão e multa) e corrupção ativa (dois a 12 anos de prisão). Na esfera esportiva, os jogadores estão sujeitos a multas de até R$ 100 mil e suspensão de até dois anos; em caso de reincidência, nova multa de até R$ 100 mil e a possibilidade de banimento do esporte.
Redação / Folhapress