A estudante de direito Ana Paula Veloso Fernandes, de 36 anos, é investigada por quatro mortes por envenenamento. Os crimes teriam ocorrido nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O Ministério Público (MP) classificou a suspeita como “uma verdadeira serial killer”.
Ana Paula foi denunciada à Justiça em Guarulhos, em setembro deste ano, e cumpre prisão preventiva sem prazo determinado. Segundo as investigações, ela é suspeita de envolvimento em quatro mortes, sendo duas em Guarulhos, uma na capital paulista e outra em Duque de Caxias (RJ). A Justiça aceitou a denúncia dos casos em Guarulhos. Os demais, afirmou, devem ser analisados nas respectivas comarcas.
A defesa de Ana Paula e de sua irmã, Roberta, também citada no caso, afirmou em nota que conduz investigação independente e técnica e que o trabalho “tem por finalidade colaborar com a correta apuração dos fatos e zelar pela proteção dos direitos e garantias fundamentais das investigadas, assegurando o pleno exercício da ampla defesa”.
As suspeitas sobre Ana Paula começaram em abril deste ano, quando um bolo com forte odor foi deixado em uma sala de aula de uma universidade em Guarulhos. Junto ao bolo havia um bilhete com a mensagem: “Para a turma de Direito 4D um ótimo feriadão! Um bolo para adoçar a manhã de vocês”. O recado era assinado por uma mulher desconhecida dos alunos. Foi a própria Ana Paula quem acionou a segurança da universidade, que por sua vez chamou a Polícia Militar.
Em depoimento no mesmo dia, 16 de abril, Ana Paula disse aos agentes que suspeitou do bolo porque o nome que constava na assinatura era o da mulher de um policial militar com quem ela manteve um relacionamento. Ela afirmou ainda não saber que o homem era casado e que teria sofrido ameaças da esposa dele.
Ana Paula também contou que levantou a suspeita por causa de um outro episódio em que Maria Aparecida Rodrigues, mulher que ela afirmou ter sido amiga, e responsável por descobrir que o policial era casado, “apareceu morta”, em Guarulhos, em 11 de abril.
Cerca de um mês depois, em 9 de maio, a mulher do PM prestou depoimento e negou as acusações e disse que ela própria era alvo de ameaças em uma rede social. Afirmou ainda que estava em Mirandópolis (SP), sua cidade natal, no dia do episódio do bolo.
Além da esposa do policial, outras duas pessoas – o próprio PM e uma colega de curso de Ana Paula – também relataram ter recebido mensagens anônimas com ameaças de morte. A investigação policial aponta que o número do qual partiram essas mensagens estava registrado em nome de Maria Aparecida e havia sido comprado no mesmo dia de sua morte. O chip, porém, segundo a polícia, foi utilizado apenas em um celular: o de Ana Paula.
Ainda de acordo com as autoridades policias, Ana Paula admitiu ter simulado o episódio do bolo, mas negou envolvimento na morte de Maria Aparecida. Para a polícia e o Ministério Público, no entanto, foi ela quem envenenou a mulher e tentou direcionar as investigações contra o policial e sua esposa.
A filha da vítima contou, em depoimento em julho, que a mãe havia saído com Ana Paula no dia da morte e que as duas tinham se conhecido havia pouco tempo por um aplicativo, e se viram pessoalmente pela primeira vez no dia em que a vítima morreu. A última mensagem enviada por Maria Aparecida à filha dizia que “Ana Paula não é fake”.
A vítima foi encontrada morta na manhã seguinte em sua casa, com bilhetes mencionando “um policial e uma mulher que não prestavam”. Segundo os familiares, os nomes não eram conhecidos. Os citados na mensagem eram os mesmos do bilhete no caso do bolo. Inicialmente, houve a suspeita de ataque cardíaco, mas a polícia concluiu que a morte ocorreu por envenenamento que teria sido causado por Ana Paula.
Outro caso atribuído à estudante ocorreu em janeiro deste ano, quando Marcelo Hari Fonseca foi encontrado em estado de decomposição no sofá de uma casa em Guarulhos. A morte, antes tida como indeterminada, passou a ser investigada após a filha da vítima descobrir que Ana Paula morava nos fundos do imóvel, fato que não teria sido mencionado pelo proprietário.
A Promotoria reabriu o caso, e o relatório final da polícia aponta que Ana Paula envenenou Marcelo, limpou a residência e ateou fogo no sofá. O documento cita que ela teria confessado o crime, alegando que sofria ameaças.
Em Duque de Caxias (RJ), Ana Paula é acusada de matar Neil Corrêa da Silva, no fim de abril. O relatório da polícia afirma que ela também confessou o crime e que o homicídio teria sido premeditado, com negociação de valores. Segundo a apuração, a suposta mandante seria a filha da vítima, Michelle Corrêa da Silva, cuja defesa não foi localizada.
Segundo a polícia, em um áudio encaminhado por Roberta, irmã de Ana Paula, ela teria dito para a irmã cobrar R$ 4 mil por futuros TCCs” – expressão que a polícia considera ter sido utilizada como um código para assassinatos
Ambas também teriam envolvimento na morte do tunisiano Hayder Mhazres, 26, no bairro do Brás, na capital paulista, com quem Ana Paula se relacionou. Da Tunísia, um irmão de Hayder disse à polícia que ela chegou a ligar à embaixada do país dizendo estar grávida e reclamando “seus direitos como suposta viúva”.
No dia em que Hayder morreu e foi levado ao hospital, aponta o relatório, “Ana Paula manteve Roberta informada em tempo praticamente real, inclusive com vídeo de UTI”. Ao ser interrogada, ela negou o crime.



