SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em mobilização realizada nesta quarta-feira (24), dirigentes e estudantes da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa pedem a apuração das suspeitas de irregularidades na conduta do ex-deputado estadual Tonico Ramos, presidente do conselho curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho (FAVC), que mantém a instituição.
Tonico Ramos é acusado de assédio moral de ingerência e de usar o cartão corporativo e as dependências da fundação para fins particulares e políticos. As denúncias foram encaminhadas por meio de uma representação ao Ministério Público de São Paulo em março.
Procurado pela reportagem, Ramos negou as acusações e disse não ter sido consultado antes do envio da representação da Promotoria. Além disso, o conselheiro afirmou que está em curso uma investigação independente para apurar as irregularidades apontadas.
Iniciada às 9h30, a mobilização contou com adesão de professores, e alunos do curso da área da saúde fizeram um ato em frente à sede da FAVC, mantenedora da Santa Casa, na Vila Buarque, centro da capital. Segundo equipe da Polícia Militar que acompanhou o ato, cerca de 70 pessoas participaram da manifestação no lado de fora do prédio e uma faixa da rua foi obstruída por medidas de segurança.
Na estimativa dos organizadores do ato, 300 alunos aderiram à manifestação, que ocorre no meio de uma crise institucional da fundação.
“Eles [os estudantes] pagam a faculdade. Se eles querem paralisar a faculdade ou as aulas, é um direito que eles têm. Não pactuamos com tudo o que é colocado por eles. O que pedimos é uma apuração”, afirmou o reitor da Faculdade de Ciências Médicas, José Dolci.
Segundo Dolci, a crise começou quando inúmeros funcionários e estudantes realizaram denúncias ao conselho fiscal da fundação contra Ramos. No texto da denúncia, o ex-deputado é acusado de ter usado o maquinário da FACV para imprimir santinhos de campanha, além de atropelar garantias do estatuto.
“Queremos que o Ministério Público interfira nisso”, afirmou Dolci.
Em nota, a Promotoria disse que instaurou um inquérito preliminar para apuração das suspeitas de irregularidades. “Há uma divergência para sabermos quem deve assumir cargos de dirigentes da fundação, e a ata que dispõe sobre o assunto está sob avaliação do 1º Cartório de Títulos, Documentos e Pessoa Jurídica”, afirmou em nota.
O reitor Dolci reafirma que a intenção de Ramos é manter o controle sobre a diretoria executiva, o que vem gerando atritos entre os dirigentes. O vice-presidente da diretoria executiva, Luiz Eduardo de Arruda, afirma que o ex-deputado teria tentado retirá-lo do cargo em duas ocasiões sem os devidos procedimentos que o estatuto da fundação prevê.
“Quero preservar a fundação, que é mantenedora de uma das faculdades listadas entre as maiores na área de ciências médicas. Não pode haver uma denúncia e ela ser engavetada. Contra quem for, não é nada pessoal”, disse Arruda.
Durante o ato em frente ao prédio na rua Dona Veridiana, próxima ao largo da Santa Cecília, estudantes pediram o afastamento de Tonico e a reformulação do corpo diretor da fundação. “Temos diretores e conselheiros que não são da área médica e, no caso de Tonico, interferindo em assuntos acadêmicos”, afirmou a estudante Melina Houlis, presidente do centro acadêmico.
ACUSADO DIZ QUE AGUARDA INVESTIGAÇÃO INDEPENDENTE
À reportagem Tonico Ramos disse que um comitê interno e um escritório de advocacia conduzem uma investigação independente, que deve ser entregue até o dia 31 ao Ministério Público. “A partir do momento que tomamos conhecimento das denúncias, convocamos [conselho curador] uma audiência extraordinária para investigar estas denúncias”, afirmou Ramos, reforçando não participar das apurações.
Sobre as acusações de que teria usado dinheiro da Santa Casa em um jantar, ele disse que o evento tinha fins institucionais e que todos os outros conselheiros estiveram presentes. “Estou na fundação para doar. Hoje a fundação se orgulha do caixa que tem”, afirmou.
PEDRO MADEIRA / Folhapress