Famílias se unem para tentar provar inocência de jovens presos no Rio

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A família de 13 dos 18 jovens presos durante uma operação policial contra uma empresa de golpe de consórcio de veículos no centro do Rio se uniram para tentar provar a inocência deles. Neste sábado (17), os parentes dos detidos marcaram uma manifestação em Madureira, zona norte da cidade, às 11h.

Os familiares dos funcionários presos afirmam que eles trabalham havia pouco tempo na Icon Investimentos e não tinham conhecimento da prática ilegal apontada pela polícia. Segundo a Polícia Civil, pelo menos mil vítimas foram lesadas com o golpe do falso consórcio.

Uma das jovens detidas estava no escritório se candidatando a uma vaga, segundo a mãe dela. Lívia Ramos de Souza esta no local havia apenas quatro horas em um treinamento quando a polícia chegou — de acordo com a família.

Já a mães de Taiane Costa da Silva, 29, diz que a filha trabalhava havia 11 dias e a irmã de Amanda Oliveira Médici, 28, afirma que estava havia 15 dias na empresa. De acordo com as famílias, nesse tempo elas perceberem alguma prática errada no local.

Irmã de Amanda, Ariane Oliveira disse que ela foi chamada para entrevista em um dia e começou logo no dia seguinte. “Amanda estava procurando emprego há um bom tempo no RioVagas e infojobs, sites de confiança. A empresa dava apenas uma passagem e a promessa de que após 45 dias a carteira seria assinada. O que não aconteceu”, disse ao UOL.

A função de Amanda, segundo a irmã, era postar no marketplace fotos de motos e carros que seriam negociados pelos clientes. Ela apresentava aos interessados o funcionamento do consórcio e quando a pessoa demonstrava um pouco mais de interesse, era direcionado para o superior dela, segundo Ariane.

O caso de Taiane Costa é semelhante ao de Amanda. De acordo com a mãe, ela estava desempregada havia um ano e em busca de um trabalho. Entrou no site do Riovagas, fez a inscrição e foi chamada para trabalhar. Após 11 dias de trabalho, acabou presa.

As famílias dos jovens detidos decidiram contratar advogados particulares e desassociar a imagem deles com a empresa. Muitos fizeram vaquinha para conseguir custear a defesa.

Como a empresa atuava

A investigação da Polícia Civil aponta que o grupo oferecia cartas de créditos a consumidores, tendo como benefício a aquisição de motocicletas, automóveis, caminhões e outros bens, que não existiam.

Assim que os clientes chegavam no escritório, segundo a polícia, eram induzidos a dar um valor de aproximadamente 10% do bem como forma de lance, a fim de supostamente garantir a obtenção do veículo. Eles diziam que esses valores eram creditados em uma conta indicada pelo funcionário responsável pela venda do consórcio por meio de PIX ou transferência bancária.

Dentre os documentos arrecadados, foi encontrado um passo a passo de como os atendentes deveriam proceder na abordagem aos clientes. Foi mencionado por um dos funcionários, que aqueles clientes insatisfeitos por não receberem o respectivo bem adquirido era orientado a entrar em contato com outra empresa para reclamações.

Em muitas oportunidades, esses operadores bloqueavam os clientes, para não receberem mais contato, conforme a apuração policial. Na chegada dos policiais civis ao escritório, de acordo com Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, havia um cliente no atendimento em negociação sendo induzido a transferir a quantia de R$ 7.800,00.

O que diz a polícia sobre os presos

Uma fonte da Polícia Civil ouvida pela reportagem, que preferiu não se identificar, afirmou que a prisão foi atribuída a uma investigação de inteligência e que, “só pelo fato da pessoa se vincular com uma empresa de organização criminosa, já é configurado crime”.

Na delegacia, todos os presos teriam ficaram em silêncio quando foram questionados. Segundo a mesma fonte, “ninguém quis contribuir com a polícia e entregar os responsáveis”. Uma nota da Polícia Civil afirmou que “o grupo optou por só se manifestar em juízo”. “O caso foi enviado à Justiça que, em audiência de custódia, manteve as prisões.”

No despacho enviado ao TJ, foi citado o que cada um dos funcionários faziam, como cada um atuava, o que fez com que a prisão fosse mantida na Audiência de Custódia.

DANIELA DUTRA / Folhapress

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