Greve dos motoristas de aplicativo aumenta preço das corridas e tempo de espera

Carro com adesivo dos aplicativos Uber e 99.
Carro com adesivo dos aplicativos Uber e 99.

Passageiros que tentam usar aplicativos de transporte como Uber e 99 nesta segunda-feira (15) enfrentam cancelamento de corridas, maior tempo de espera e aumento de até 50% nos preços em São Paulo. O motivo é a greve de motoristas, que pedem aumento no pagamento feito pelas plataformas e melhores condições de trabalho.

No Aeroporto Internacional de Guarulhos, passageiros na área de desembarque foram pegos de surpresa pela paralisação e enfrentavam mais transtornos do que o normal para conseguir um veículo.

A administradora Caroline Moreira, 30, que veio de Natal a São Paulo, teve cinco viagens canceladas em cerca de 15 minutos de espera na praça de desembarque. Ela ficou sabendo da greve pelo próprio aplicativo: um motorista avisou que cancelaria a viagem por causa da paralisação.

“Venho para cá a cada dois meses e nunca demora tanto para eu conseguir uma viagem”, contou. “Agora resolvi pegar um táxi.”

Já o especialista em finanças Pedro Simplício, 27, calculava que perderia uma reunião de trabalho por causa do tempo excessivo de espera. Ele, que estava no mesmo voo de Moreira, viaja a São Paulo uma vez por mês e faz sempre o mesmo trajeto de Guarulhos ao Brooklyn, na zona sul da capital.

O valor da corrida com a Uber costuma ser R$ 90, mas na manhã desta segunda estava a R$ 135, um aumento de 50% no valor. “Eu não estava sabendo dessa greve, lá em Natal parecia tudo normal”, ele conta.

Quem acessava o aplicativo nesta manhã encontrava um aviso de que os preços estavam acima da média. Na maior parte dos casos que a reportagem acompanhou, porém, os usuários conseguiram corridas apesar do valor mais alto e da espera maior.

O pátio onde motoristas de aplicativos aguardam por corridas, ao lado do Terminal 3 do aeroporto, tinha menos carros do que o normal, indicando que muitos resolveram ficar em casa. Alguns conversavam ao lado dos veículos, sem aceitar corridas, mas algumas seguiam trabalhando.

“Nós estamos parados, a maioria que está saindo é porque tem clientes particulares”, disse o motorista Admilson da Silva, 41. “Tem gente que vai trabalhar porque as dívidas não vão deixar ele ficar parado.”

A avaliação de organizadores da greve é positiva. O aumento do valor da tarifa dinâmica, segundo a Amasp (Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo), era um indicativo de que há menos carros na rua do que o normal. A entidade não deu estimativas de quantos motoristas aderiram ao movimento.

“Já tive a percepção e a confirmação de que a [tarifa] dinâmica está bem mais alta do que o normal, diz um teste com um trecho que está R$ 20 mais caro”, disse Eduardo Lima de Souza, presidente da Amasp.

A convocação para que os aplicativos fiquem desligados tem sido feita há algumas semanas em grupos de mensagens e por influenciadores nas redes sociais. Os motoristas também marcaram uma carreata, com concentração a partir das 11h na praça Charles Miller, no Pacaembu (zona oeste de SP).

Eles pedem um valor mínimo por corrida e aumento da taxa que é repassada ao condutor. Os trabalhadores reclamam que eventuais reajustes nas tarifas cobradas de passageiros não chegam aos motoristas, justamente porque a retenção feita pelo aplicativo é variável.

Em 2021 e 2022, Uber e 99 anunciaram ajustes nos pagamentos repassados ao motoristas em meio a altas nos preços dos combustíveis.

Em nota, a 99 afirma que, “ouvindo e conversando com cerca de 2.000 motoristas todos os meses, adotou soluções permanentes para incrementar os ganhos no app”.

“Foi a primeira plataforma a oferecer a taxa garantida, que assegura aos condutores a taxa máxima semanal de até 19,99%. Também foi pioneira em iniciativas com o adicional variável de combustível, um auxílio no ganho que aumenta sempre que o combustível sobe”, diz a empresa. A 99 afirma, ainda, que lançou outros programas como kit gás e vantagens no aluguel de carros.

A Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) afirmou que “respeita o direito de manifestação e informa que as empresas associadas mantêm abertos seus canais de comunicação com os motoristas parceiros, reafirmando a disposição para o diálogo contínuo, de forma a aprimorar a experiência de todos nas plataformas”.

A Folha também questionou a Uber a respeito da adesão dos motoristas à paralisação, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

TULIO KRUSE / Folhapress

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