SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sem conseguir trabalhar há praticamente uma década por causa de problemas na coluna, Rosemary da Silva, 56, sonha ao menos em voltar a caminhar direito. Para isso, precisa de uma intervenção cirúrgica, que não consegue fazer, segundo ela, por falta de um exame de ressonância magnética. No Hospital Municipal do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, onde ela entrou na fila para o procedimento, o aparelho está quebrado ao menos desde agosto do ano passado.
A unidade municipal, que atende 670 mil pessoas da região, é a principal referência para casos de traumas provocados, entre outros, por acidentes de trânsito, domésticos e de trabalho. Quando o aparelho estava em funcionamento, cerca de mil ressonâncias eram realizadas por mês no Campo Limpo, segundo estimativa do conselho gestor do hospital, não confirmada pela prefeitura.
Silva afirma tentar há quase um ano a marcação do exame pedido pelo ortopedista. “Falam que não conseguem agendar porque o aparelho está quebrado”, afirmou a paciente, moradora na região e que trabalhava com limpeza. Por causa da coluna, ela disse ter sofrido uma queda na rua, no último dia 2 –está com a perna enfaixada.
Em setembro do ano passado, a Secretaria Municipal da Saúde disse à Folha de S.Paulo que faria uma avaliação para saber se a máquina teria conserto ou se seria necessária a troca do equipamento. Agora, a pasta diz que está em processo de locação de um aparelho de ressonância para o Campo Limpo. A gestão Ricardo Nunes (MDB), porém, não dá previsão de quando será instalado.
O conselheiro Anderson Dimas Pereira Lopes afirma que nos quase dez meses sem exames de ressonância magnética no hospital foi informado várias vezes que a prefeitura iria comprar um novo aparelho –inclusive, chegou a se cogitar o uso de verba parlamentar.
No início deste ano, representantes da Secretaria Municipal da Saúde afirmaram em reunião com o conselho gestor que o equipamento seria adquirido com recursos do Coapes (Contrato Organizativo de Ação Pública Ensino Saúde) –programa que dá diretrizes para estágios na área de saúde, conforme consta em documento de 30 de março.
Na semana passada, porém, a direção do hospital público explicou, em reunião com os conselheiros, que o aparelho será alugado. “Mas não nos disseram quando nem isso vai acontecer, pois a instalação de uma ressonância magnética não é simples”, afirmou Lopes.
A secretaria não informou o valor de aluguel do aparelho nem por quanto tempo será o contrato de locação.
Em nota, a pasta disse que há uma ata para compra de quatro aparelhos de ressonância magnética em fase de licitação. Questionada, a secretaria não respondeu para quais unidades serão comprados os equipamentos.
Por causa do aparelho quebrado no Campo Limpo, a prefeitura diz que os exames de ressonância de pacientes da região estão sendo realizados nos hospitais municipais Josanias Castanha Braga (Parelheiros) e Gilson de Cássia Marques de Carvalho (Santa Catarina), ambos na zona sul.
Para procedimentos ambulatoriais agendados, a pasta diz contar com o serviço de outras 20 clínicas contratualizadas para atender as demandas dos pacientes.
No caso da paciente Rosemary da Silva, um dia depois de a reportagem questionar sobre a espera por agendamento, foi marcado exame de ressonância para ela para o próximo dia 27, no Hospital Dia M’Boi Mirim.
PORTAS FECHADAS
Em setembro do ano passado, o fechamento repentino do pronto-socorro do Hospital Municipal do Campo Limpo para o atendimento da população em geral surpreendeu pacientes.
Com a mudança, só quem chega em ambulâncias é atendido no hospital público –na época uma corrente foi colocada na entrada, que é abaixada por um segurança quando se aproxima o veículo de socorro. Os demais pacientes passaram a ser encaminhados para a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) ao lado.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress