ALEXÂNIA, GO (FOLHAPRESS) – O avanço das tecnologias de IA (inteligência artificial), como o ChatGPT, devem provocar um forte impacto nas faculdades em um curto espaço de tempo. Para Celso Niskier, presidente da Abmes, associação que representa instituições de ensino superior privadas, as universidades terão de lidar com repercussões e mudanças em um horizonte de três anos.
Niskier ressaltou que o desafio para o setor universitário será amplo e em todas as áreas, não apenas no estudo específico da IA. “Acredito que nos próximos três anos a gente vai ter que responder [a essa nova realidade, como] a questão ética, de avaliação, de processos seletivos”.
Nos Estados Unidos, por exemplo, universidades já estão sendo instadas a se protegerem contra o uso de inteligência artificial em redações. O debate também está forte no Brasil sobre como lidar com questões éticas na educação e como fazer o melhor uso da tecnologia na sala de aula.
“Todos os currículos vão ter que ser repensados. O que é ser um profissional numa área com uma ferramenta tão poderosa quanto essa? Ninguém sabe ainda”, avalia.
Segundo ele, não é possível achar que essa repercussão leve uma década, por exemplo. “Essa vai ser a ‘corrida do ouro’ das universidades nos próximos anos”, diz Niskier, remetendo a uma expressão que vem sendo usada recorrentemente nos Estados Unidos no debate sobre as implicações da IA no meio universitário.
Também reitor da UniCarioca, do Rio, Niskier abriu nesta quarta-feira (24) o Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular com um discurso no qual abordou temas como inovação e inclusão no setor. O texto, revelou ele, foi feito com auxílio do ChatGPT.
“Fiz um prompt: prepara um discurso de tal tamanho sob ponto de vista de um educador presidente da [Abmes] Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior defendendo uma educação mais forte, com as palavras-chave qualidade, inovação, diversidade e inclusão. Fiz um filtro de bom senso depois, mas 80% estavam ali”, contou nesta quinta (25).
Cerca de 550 reitores e diretores de instituições de ensino privado de todo país participam do evento nesta semana, em Alexânia, Goiás.
“Muita gente veio me parabenizar e eu pensei, falo ou não falo? Parecia do jeito que eu falo mesmo”, brincou ele, que revelou aos participantes o uso da tecnologia.
A Abmes criará um grupo de trabalho para tratar o tema com as instituições. Quase 80% dos alunos de ensino superior no Brasil estão em faculdades privadas.
A disseminação da IA ocorre ao mesmo tempo em que o sistema universitário privado é questionado pelo forte uso de tecnologia, com o aumento de cursos e matrículas de educação a distância. Resultados de qualidade e taxas de conclusão são piores nas graduações não presenciais, que se tornaram aposta de expansão do mercado.
Niskier diz esperar que o papel do professor pode ganhar importância. “O contato humano deve ser revalorizado” disse. Ele relatou ter identificado, no pós-pandemia, pressões de alunos dentro dos cursos presenciais para redução das atividades online.
O ministro da Educação, Camilo Santana, era esperado no evento, mas desmarcou em cima da hora. Em uma participação por vídeo, ressaltou a preocupação do MEC (Ministério da Educação) com os cursos de formação de professores.
O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Manuel Palácios, compôs a mesa de abertura e disse que o órgão do MEC planeja um novo formato para avaliação de cursos de licenciatura, com a ampliação do escopo.
“Nós queremos aproveitar o ciclo de 2024 que avalia as licenciaturas para introduzir novos instrumentos, produzir informação mais e avançar para territórios que até aqui não foram objeto de observação, como os estágios supervisionados e a prática docente”, disse Palácios.
PAULO SALDAÑA / Folhapress