RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Justiça Militar do Rio de Janeiro interrogou, nesta terça-feira (23), os cinco policiais militares acusados de alterar o local em que a designer de interiores Kathlen Romeu foi morta ao ser atingida no tórax por um tiro de fuzil, em junho de 2021. A jovem de 24 anos estava grávida de quatro meses e visitava a avó no Complexo do Lins, na zona norte da cidade.
Os policiais ouvidos nesta tarde são réus por fraude processual. São eles: o capitão da PM Jeanderson Corrêa Sodré, o 3º sargento Rafael Chaves de Oliveira e os cabos Rodrigo Correia de Frias, Cláudio da Silva Scanfela e Marcos da Silva Salviano. Eles foram denunciados pelo Ministério Público do Rio em dezembro de 2021 sob suspeita de terem modificado a cena do local em que Kathlen foi morta.
Na audiência, os policiais negaram que tenham cometido a fraude processual e que apenas pegaram sacolas deixadas na rua por criminosos.
De acordo com a Promotoria, Chaves, Frias, Scanfela e Salviano mexeram no local do crime, antes da chegada da perícia, e colocaram 12 cartuchos calibre 9 mm usados e um carregador de fuzil com dez munições intactas. A ideia, segundo as investigações, era forjar a cena de que houve confronto no momento em que a jovem foi atingida.
Esses quatro policiais respondem à denúncia de fraude processual e falso testemunho. Já o capitão da PM, Jeanderson Sodré, foi denunciado sob acusação de fraude processual na forma omissiva. Segundo a investigação, ele, como superior hierárquico dos demais agentes, se omitiu ao impedir que a conduta irregular fosse feita.
Os policiais Frias e Salviano também são acusados de terem matado Kathlen, segundo a denúncia do Ministério Público.
Durante a audiência, os policiais voltaram a afirmar que houve confronto no momento em que Kathlen foi baleada -tese rebatida pela Promotoria. Frias afirmou, em seu depoimento, que respondeu a ataques de criminosos que estavam na rua. O militar disse também que, após os disparos, viu a jovem caída no chão com uma idosa gritando ao lado.
Frias afirmou ainda que após terem socorrido a jovem, o sargento Chaves recolheu sacolas que teriam sido abandonadas pelos bandidos na rua. Nessas bolsas, de acordo com o cabo, havia papelotes de maconha, cocaína e crack, carregadores de pistola e de fuzil e munições.
Kathlen visitava a avó no Complexo do Lins, de onde havia se mudado há pouco tempo, quando foi atingida por um tiro de fuzil.
Na época, a Polícia Militar alegou que agentes da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) teriam reagido a um ataque de criminosos da região, num local conhecido como Beco da 14. A versão, no entanto, foi contestada pelo Ministério Público.
De acordo com a investigação, Frias e Salviano atingiram a jovem ao atirarem contra pessoas que estariam vendendo drogas no Beco da 14. No inquérito, o Ministério Público chamou atenção para o fato de os policiais terem disparado em direção à rua Araújo Leitão, que tem grande movimento de carros e pedestres.
Os agentes faziam patrulhamento de rotina no local e viram homens em uma situação que indicava o tráfico de drogas. Os suspeitos, de acordo com a Promotoria, foram alvos dos disparos sem que percebessem a presença policial, “não havendo qualquer ação que legitimasse a referida agressão”.
No depoimento de Salviano, ele admitiu ter atirado cinco vezes de fuzil durante a ação.
A próxima audiência do processo está marcada para o dia 29 deste mês. Nela, Salviano e Frias serão ouvidos para responder à acusação de homicídio da jovem.
A audiência desta terça-feira ocorreu na sede do Tribunal de Justiça do Rio, no centro da cidade. Do lado de fora da corte, aconteceu um ato para protestar a favor das condenações dos agentes.
CAMILA ZARUR / Folhapress