Morto por espancamento em Guarujá era acusado de integrar grupo de extermínio

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Osil Vicente Guedes, 49, morto em um espancamento em Guarujá (litoral de São Paulo), no último dia 7, era um ex-soldado da Polícia Militar de Pernambuco que foi excluído da corporação depois de ser preso sob acusação de integrar um grupo de extermínio que atuava em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife.

Guedes, que se apresentava como empresário de reciclagens, foi agredido no meio da rua, em Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá, por três pessoas enquanto pilotava uma motocicleta. O caso, que foi gravado, ganhou repercussão pela suspeita de que ele tinha sido agredido após uma acusação falsa de que ele roubava a moto -o que foi negado pelo proprietário do veículo.

A hipótese de linchamento motivado por fake news já foi descartada pela polícia.

Segundo Augusto César Lima Ferreira dos Santos, advogado que representava Guedes no processo, e que também se diz seu amigo, o cliente não tinha condenação.

“Em 2008 teve a chamada Operação Guararapes, conhecida como uma das maiores operação contra grupos de extermínio no Brasil, e o Osil foi apontado como um dos participantes. Ele foi acusado de formação de quadrilha. Mas foi apenas um subterfúgio para tirarem ele da polícia”, afirma.

Guedes foi preso em 2008. “Mas o processo ainda está em andamento, a passos lerdos. Ele ficou preso cerca de um ano e depois foi solto por excesso de prazo”, diz o advogado.

Segundo o defensor, Guedes era apaixonado pela polícia, e sua prisão foi uma injustiça. “Ele era um excelente policial, altamente operacional. Fazia parte da ronda de motos, entrava em becos e vielas com as motos e combatia o tráfico”, conta.

Em 2010, Guedes, após procedimento disciplinar, foi excluído do quadro da PM de Pernambuco. Ele tinha menos de dez anos na corporação, o que, segundo Santos, fez com que seu processo tramitasse mais rápido.

“Ele foi excluído com a justificativa de que [a prisão] seria um pundonor da classe militar, ou seja, por ter sido preso ele teria quebrado o decoro militar, causado um escândalo que manchou a corporação. Mas foi a própria corporação que causou o escândalo ao prendê-lo naquelas condições. Colocar na cadeia uma pessoa que não cometeu o crime de que foi acusada”, diz.

Segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco à época, a operação desarticulou grupos de criminosos de extermínio que atuava em Jaboatão dos Guararapes. Ao todo foram cumpridos 53 mandados de prisão, incluindo o de Guedes, outros policiais militares e um civil.

De acordo com a secretaria, o grupo usava informações privilegiadas para cometer os crimes, motivados por vinganças ou intenção de eliminar testemunhas. “Uma vida podia custar o valor de R$ 600. Constatamos também que o grupo mantinha contato com quadrilhas na Paraíba e em Alagoas”, afirma o delegado Joel Venâncio, coordenador da operação. Ao grupo foram atribuídos ao menos 36 assassinatos.

PRISÃO

A Justiça acatou na quarta (10) o pedido da Polícia Civil de prisão temporária de Douglas William Santos da Silva, ex-cunhado da ex-namorada de Guedes.

De acordo com o delegado Fabrício Godinho, a investigação também pediu a prisão do segundo agressor identificado nas imagens, Ailton Lima dos Santos.

A reportagem tentou falar, por telefone e mensagem, com o advogado de Silva e com a ex-namorada da vítima, Vanessa Regina Benedito Almeida, mas não conseguiu contato. Quanto Ailton Santos, a polícia não informou se ele já apresentou advogado.

O terceiro envolvido também já foi identificado, mas não teve o nome revelado. Eles serão indiciados sob suspeita de homicídio triplamente qualificado.

A primeira hipótese levantada pela investigação, de que Osil Guedes teria sido agredido após ser apontado como ladrão de uma moto, já foi totalmente descartada. O proprietário do veículo que a vítima usava no momento em que foi atacada disse em depoimento que conhecia Guedes e que tinha emprestado a moto para ele.

FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress

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