O motorista Dener Laurito dos Santos, 52, que travou o Rodoanel de São Paulo no último dia 12, foi indiciado por falsa comunicação de crime, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP). Na ocasião, o caminhoneiro atravessou uma carreta na pista e alegou que havia sido assaltado, sequestrado e que estava com uma bomba na cabine do veículo. No entanto, nesta quarta-feira (19), ele contou à polícia que tudo não passou de uma história inventada por ele mesmo.
“As investigações continuam sob responsabilidade da Dise de Taboão da Serra para o completo esclarecimento dos fatos e a devida responsabilização criminal do indiciado”, destacou a secretaria. Falsa comunicação de crime está previsto no artigo 340 do Código Penal e tem detenção de 1 a 6 meses ou multa.
De acordo com o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, que está no comando interino da Segurança Pública do Estado, o motorista “fez tudo” para chamar atenção.
O próprio condutor teria criado a falsa bomba, se amarrado e jogado uma pedra no vidro do caminhão, segundo a polícia. No dia do ocorrido, a hipótese de que ele estaria em surto foi levantada, mas os agentes a descartaram após análise do veículo e passaram a investigar o caso como tentativa de roubo. As possíveis motivações para a farsa ainda não foram divulgadas.
Nico informou que o motorista foi convocado a prestar um novo depoimento nesta quarta-feira, devido a contradições em relação ao que havia dito durante a confusão no Rodoanel.
Dener permaneceu dentro da cabine do caminhão por cerca de cinco horas, com a falsa bomba ao lado. Ele foi retirado do veículo pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar, responsável por atender ocorrências com explosivos. Ao ser resgatado pela equipe, ele já estava com uma das mãos livres, pois outros caminhoneiros que passavam pelo local conseguiram desamarrá-la.
Ao ser retirado da veículo, ele desmaiou foi atendido por socorristas da SPMar, concessionária responsável pelo trecho, antes de ser encaminhado ao Hospital Geral de Itapecerica da Serra. À época, a polícia informou que ele teve um quadro de estresse pós-traumático. O caminhoneiro também fez o teste do bafômetro, que deu negativo.
O Rodoanel chegou a ser interditado, e a Polícia Militar deslocou um helicóptero até a estrada que faz a ligação com a Rodovia Presidente Dutra. Além do esquadrão antibombas, atiradores de elite também foram enviados ao local para atender a ocorrência.
Em entrevista ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, transmitida no domingo (16), o condutor afirmou não se lembrar do momento em que a bomba foi colocada na cabine do caminhão. Segundo ele, o artefato teria sido colocado na parte de trás da cabine, onde fica a cama usada para descanso. “Tem a cortina, só escutava barulho. [Mas] fechou e não ouvia [mais nada]”, afirmou, na entrevista. “Eu chorava, tossia, não conseguia falar por causa do gás”, completou Dener, sem especificar a qual gás se referia.
No primeiro depoimento, Dener afirmou aos policiais que seguia pelo Rodoanel quando um dos ocupantes de uma caminhonete teria lançado uma pedra contra o vidro dianteiro do caminhão, estilhaçando-o. Ele contou que dirigiu por um trecho até parar no acostamento, onde teria sido abordado por pelo menos três bandidos. O homem afirmou que, assim que os criminosos o dominaram, um deles teria assumido o volante do caminhão.
Ainda no depoimento, o caminhoneiro afirmou que os bandidos exigiram que ele contatasse a empresa do veículo. Segundo a versão apresentada por Dener aos policiais, ele teria sinalizado o suposto sequestro ao funcionário que atendeu a ligação, momento em que começou a ser agredido.
De acordo com a polícia, o motorista teria relatado ter ouvido que o caminhão seria usado para transportar armas que estariam em poder dos criminosos, incluindo fuzis e espingardas. Segundo Dener, os bandidos teriam dito que pretendiam seguir para a empresa, sequestrar outro funcionário e pedir resgate. No entanto, o motorista afirmou que eles teriam desistido do roubo e fugido.
Entretanto, o motorista teria admitido às autoridades que toda a história relatada não passou de uma invenção. A Polícia Civil segue com diligências para apurar os detalhes e responsabilizar o condutor por falsa comunicação de crime.



