Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, declarou nesta segunda-feira (27) que Javier Milei contou com “muita ajuda” de Washington para garantir a vitória nas eleições legislativas. O resultado do pleito, realizado no domingo (26), fortaleceu o avanço do líder ultraliberal e de seus aliados, mesmo após uma sequência de crises políticas e econômicas.
Com mais de 97% das mesas apuradas, o partido governista A Liberdade Avança obteve 40,8% dos votos e garantiu 64 das 127 cadeiras em disputa na Câmara — metade dos 257 assentos da Casa foi renovada. Já a oposição, representado pelo Força Pátria e siglas regionais, somou 31,6%, com 44 cadeiras; o Províncias Unidas alcançou 7,1%, com 8 assentos; e a Frente de Esquerda ficou com 4,8%, conquistando 3 vagas. Forças provinciais e grupos independentes concentraram os 15,7% restantes, igualmente com 8 cadeiras.
No Senado, 24 das 72 vagas estavam em disputa. A Liberdade Avança conquistou 13, o peronismo obteve 6 e partidos regionais ficaram com 5.
Trump celebrou o resultado do pleito e classificou o desfecho como uma “grande vitória” e algo “muito positivo” para toda a região. “Ele [Milei] teve muita ajuda nossa. Eu dei a ele um endosso, um endosso muito forte”, afirmou o republicano, mencionando também a atuação de integrantes de sua equipe, como o secretário do Tesouro, Scott Bessent, responsável por coordenar o apoio financeiro a Buenos Aires.
“Estamos mantendo o compromisso com vários países da América do Sul. Temos um foco muito forte na América do Sul”, acrescentou o presidente americano.
Trump está na Malásia, onde se reuniu com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último domingo (26) para tratar de questões relacionadas às tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
Antes da votação de domingo, Milei precisou recorrer ao governo dos EUA para evitar um colapso cambial. Segundo Trump, Washington ofereceu um pacote de resgate financeiro, com o objetivo de estabilizar a economia argentina e impulsionar o ultraliberal às vésperas das eleições legislativas. O apoio americano envolveu um acordo de swap cambial de US$ 20 bilhões, já formalizado, e a proposta de um fundo de investimento em dívida de valor equivalente.
O resultado das eleições legislativas fortaleceu Milei para seguir adiante com sua agenda de reformas econômicas radicais, mesmo diante do descontentamento popular provocado pelas medidas de austeridade
Trump afirmou que a ajuda financeira de Washington não beneficiou apenas Buenos Aires. “Ganhamos [os EUA] muito dinheiro com essa eleição porque os títulos argentinos subiram. A classificação de crédito deles melhorou”, afirmou. O americano acrescentou ainda que o interesse americano “não é exatamente pelo dinheiro”.
Bessent, que acompanha Trump na viagem à Malásia, descreveu o auxílio como uma ponte necessária para sustentar o plano econômico de Milei. “Ele está enfrentando cem anos de más políticas”, declarou o secretário, acrescentando que o ciclo será quebrado com o apoio dos EUA.
Na semana anterior, a Fitch Ratings avaliou que o suporte americano evitou o rebaixamento da nota de crédito da Argentina, mas alertou que o país sul-americano ainda precisa apresentar um plano mais amplo para reconstruir suas reservas internacionais.
Apesar do resultado favorável, a imagem do governo Milei vinha sendo pressionada por crises recentes. Entre os episódios, estão a promoção de um criptoativo sem lastro pelo líder argentino e a divulgação de áudios do ex-diretor da agência para pessoas com deficiência, nos quais sugeria que Karina Milei, irmã e braço-direito do presidente, fosse favorecida em um esquema de propinas na compra de medicamentos.
Durante a campanha, Milei interrompeu viagens por províncias argentinas para ir à Casa Branca, onde recebeu apoio direto de Trump. O republicano condicionou parte do auxílio ao desempenho eleitoral, o que irritou parte da opinião pública e gerou apreensão no mercado.



