O papa Francisco, 86, será submetido nesta quarta-feira (7) a uma cirurgia de emergência, com anestesia geral, no Hospital A. Gemelli, em Roma, em razão de risco de obstrução intestinal, anunciou o Vaticano.
O pontífice deverá ficar internado por “vários dias” para se recuperar do pós-operatório. Os procedimentos incluem uma laparotomia, que consiste na abertura cirúrgica da cavidade abdominal, e uma operação plástica para reconstruir com prótese a parede abdominal.
Assim, segundo o Vaticano, a agenda do papa será cancelada até 18 de junho. Nos próximos meses, está previsto um encontro do pontífice com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em julho. Depois, ele pretende visitar Portugal de 2 a 6 de agosto, para participar da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, e o Santuário de Fátima. Em 31 de agosto, o argentino tem viagem marcada à Mongólia.
Trata-se da segunda cirurgia que o papa realiza na região abdominal em dois anos. Francisco sofre de diverticulite, doença que pode infectar ou inflamar o cólon, e foi operado em julho de 2021 para remover parte do intestino. Na ocasião, 33 centímetros do órgão foram retirados. Meses atrás, o pontífice disse que a condição havia retornado e estava gerando ganho de peso, mas que não era fonte de preocupação.
A nova cirurgia levanta preocupações sobre as condições de saúde do papa, que tem tido problemas frequentes. O anúncio do Vaticano acontece um dia após o pontífice ir a um hospital, também em Roma ele ficou no local por 40 minutos para uma bateria de exames, cujos detalhes não foram revelados.
De acordo com o comunicado da Igreja Católica, a cirurgia já estava nos planos da equipe médica e se mostrou necessária devido ao agravamento dos sintomas apresentados pelo argentino. Francisco ficará internado “para permitir o normal decurso pós-operatório e a plena retomada funcional”.
“A operação, preparada nos últimos dias pela equipe médica que atende o Santo Padre, tornou-se necessária devido a uma hérnia incisional que provoca síndromes de obstrução recorrentes, dolorosas e em vias de agravamento”, afirma trecho do comunicado.
O papa chegou ao centro médico por volta das 11h30 (6h30 em Brasília) a hora marcada para o início da cirurgia e sua duração não foram divulgadas. Após o procedimento, ele deverá ficar internado no 10º andar do hospital Gemelli, no mesmo quarto usado por João Paulo 2º, operado várias vezes na unidade.
Mais cedo, pela manhã, o argentino participou da audiência semanal na praça São Pedro, no Vaticano. Ele aparentou bom humor e não fez nenhuma menção ao procedimento cirúrgico.
A cirurgia será feita para reparar uma laparocele, um tipo de hérnia que se forma pela falha da cicatrização de uma operação anterior. No caso de Francisco, o procedimento para tratar de diverticulite, feito em 2021, é apontado como o provável fator que levou ao quadro atual.
Sérgio Henrique Bastos Damous, cirurgião e diretor da emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, afirma que a cirurgia à qual o papa será submetido é complexa, mas as complicações, incomuns. Ele explica que o surgimento da chamada hérnia incisional acontece quando há rompimento dos tecidos do abdômen.
“De qualquer forma, a cirurgia é delicada e de grande porte, com manipulação de vísceras e reconstrução de parede abdominal”, diz o médico, acrescentando que operações do tipo costumam levar de 2 a 4 horas.
Segundo Damous, um paciente submetido a laparotomia consegue retomar a rotina, em média, duas semanas após o procedimento. Mas pessoas com idade avançada, como é o caso do papa, por óbvio precisam de cuidados redobrados e mais tempo de recuperação, que pode chegar a um mês.
Idosos e pessoas com sobrepeso ou obesidade têm cicatrização mais lenta e, assim, chance maior de desenvolver o quadro. Sedentarismo, uso prolongado de corticoides e de tabaco, além de predisposição genética, que pode causar fraqueza dos músculos, também podem favorecer o aparecimento da hérnia.
Cólicas, febre, inchaço no abdômen, náuseas e vômitos, perda do apetite e prisão de ventre ou diarreia são sintomas de quem tem a doença. Os pacientes podem ainda ter dificuldades de locomoção e para respirar.
Os principais riscos do pós-operatório são respiratórios, diz Ricardo Abdalla, cirurgião de aparelho digestivo do Hospital Sírio-Libanês. “O diafragma fica no limite para trabalhar, e os pulmões sentem isso. O maior risco é aumentar a pressão pulmonar, que exige respirar com mais esforço”, afirma ele.
Nos dias seguintes à cirurgia, os pacientes precisam fazer jejum e é comum que usem uma sonda no nariz para ajudar na respiração. Segundo Abdalla, as hérnias costumam voltar em 10% dos casos.
Francisco, que celebrou dez anos de seu pontificado em março, tem sofrido com uma série de doenças nos últimos anos e costuma usar uma cadeira de rodas ou uma bengala em suas aparições públicas ele sofre de osteoartrite, também chamada de artrose, no joelho.
Em março, o papa recebeu o diagnóstico de bronquite e ficou cinco dias internado o pontífice está mais suscetível a doenças respiratórias por ter retirado parte de um dos pulmões quando tinha por volta de 20 anos. Já no mês passado, ele precisou cancelar audiências após apresentar febre.
Em entrevista à rede Telemundo, exibida há duas semanas, o líder católico disse que a doença respiratória foi “tratada a tempo” e que, se ele tivesse esperado, o cenário poderia ter sido mais grave. Ao falar sobre as dores no joelho, Francisco disse que estava “muito melhor”. “Já consigo caminhar, o joelho está melhorando. Alguns dias são mais dolorosos, mas isso faz parte do desenvolvimento.”
As hospitalizações trazem à tona outra vez especulações sobre uma possível renúncia do argentino por razões de saúde após o precedente histórico estabelecido por seu antecessor, Bento 16 papa emérito por quase uma década e morto no final do ano passado aos 95 anos.
Em dezembro, Francisco revelou ter assinado ainda no início de seu papado uma carta de renúncia na eventualidade de que seus problemas de saúde o impedissem de desempenhar suas funções. Ele reiterou em várias ocasiões que não descarta deixar o cargo caso os problemas se agravem embora tenha declarado em viagem à República Democrática do Congo que renúncias do tipo não devem “virar moda”.
Redação / Folhapress