Sem a força que prometiam as autoridades nos anos que antecederam a Olimpíada, o “coração dos Jogos do Rio” tenta voltar a bombar. Palco de 16 das 42 modalidades esportivas disputadas em 2016, o Parque Olímpico da Barra passou os últimos anos sendo mais conhecido por sediar festivais de música ou de jogos eletrônicos do que propriamente pelo esporte. Agora, tanto o governo federal quanto o município do Rio fazem um esforço para tentar devolver ao espaço sua vocação esportiva.
Ao longo de todo o ano passado, as quatro instalações esportivas geridas pelo governo federal – Velódromo, Centro de Tênis e Arenas Cariocas 1 e 2 – sediaram apenas 38 competições. Para este ano, 34 eventos estão previstos até o momento. Entre as competições confirmadas para os próximos meses estão a Copa Davis, o Campeonato Pan-americano de Tae kwon do, o Campeonato Pan-americano de Jiu-Jitsu e o Campeonato Mundial de Handebol em Cadeira de Rodas, entre outros.
Única instalação sob responsabilidade da Prefeitura do Rio, a Arena Carioca 3 tem movimento maior. No ano passado, o espaço sediou 43 disputas, enquanto outras 22 estão confirmados para este ano.
Fundamental para a realização da Olimpíada no Rio, o Parque Olímpico foi construído sob a promessa de que deixaria como legado instalações de alto nível para o desenvolvimento do esporte de alto rendimento. Na prática, isso vem acontecendo apenas no Parque Aquático Maria Lenk, que integra a área. A instalação, contudo, foi erguida ainda à época dos Jogos Pan-Americanos de 2007. O local é administrado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB).
“A palavra legado é dramática. Quando se fala, parece que legado é algo positivo, mas ele também pode ser negativo”, pondera Carlos Vainer, que é professor titular do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Quando se construiu o parque houve muitas promessas e diversas previsões. As promessas não foram cumpridas, mas algumas das previsões, sim.”
As previsões citadas por Vainer eram as de que a construção do parque olímpico serviria muito mais para especulação imobiliária no entorno do que para o usufruto do esporte ou das pessoas. “Disseram que construiriam escolas, mas cadê? Fizeram um parque esportivo numa região em que 80% da população da cidade não tem acesso. A única promessa cumprida foi a desocupação da Vila Autódromo”, critica Vainer.
MANUTENÇÃO – A reportagem do Estadão esteve no Parque Olímpico da Barra na ensolarada tarde de quinta-feira. Durante 40 minutos, a única movimentação esportiva pelas imensas áreas descobertas do parque foi de uma garota andando de patins. Alguns poucos funcionários faziam a poda de arbustos. Palco da Copa Davis, o Centro de Tênis parecia abandonado.
Apesar da pouca movimentação, manter o parque olímpico em (alegado) funcionamento custa caro. Segundo a Secretaria Especial do Esporte, vinculada ao Ministério da Cidadania, no ano passado foram gastos R$ 21 milhões para a manutenção dos espaços. Os serviços são feitos por empresas terceirizadas, “sob gestão e fiscalização de cinco servidores públicos formalmente designados para tal atividade”. A prefeitura, por sua vez, tem despesas de R$ 250 mil mensais com água e luz.
Tanto o governo federal quanto o município do Rio informaram que, além dos eventos esportivos, os espaços também abrigam outras atividades. “As Arenas Cariocas 1 e 2, o Centro Olímpico de Tênis e o Velódromo também têm recebido atividades voltadas para o desenvolvimento do esporte educacional, além de projetos sociais e atividades culturais”, informou a Secretaria Especial do Esporte.
“A Arena 3, de responsabilidade da secretaria municipal de Esportes, está funcionando normalmente desde o começo de 2021, com mais de 20 modalidades diferentes e gratuitas para a população”, informou a prefeitura do Rio. “Ao todo, são quase 2.000 vagas disponíveis para a população de forma gratuita.”
Mesmo com essas iniciativas, é inegável que o “coração dos Jogos” vem sendo subutilizado. E, apesar de não demonstrar muita esperança, Carlos Vainer considera que o espaço ainda possa ter solução.
“Não foi o Rio que inventou essa história de elefantes brancos. Isso aconteceu nos Jogos de Montreal, na Copa da África do Sul e muitos outros lugares”, cita. “Talvez uma solução seja criar áreas de moradias populares no entorno para oferecer acesso a essas instalações às pessoas que realmente poderiam utilizá-las. Isso precisa ser discutido. É preciso chamar a cidade para debater.”
Agência Estado