O Ministério Público Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal que abra uma investigação para que seja apurado se o ministro da Educação, Milton Ribeiro, ao lado de pastores, servidores e prefeitos, faz parte do suposto “gabinete paralelo” pelo qual a pasta vinha liberando verbas para municípios.
Ontem, o ministro admitiu que, em agosto do ano passado, chegaram a ele denúncias de cobrança de propina por parte do pastor Arilton Moura.
Milton Ribeiro disse à CNN que enviou o caso à Controladoria Geral da União. Mesmo assim, o ministro manteve a rotina de encontros com o pastor. Foram pelo menos sete encontros.
O ministro da CGU, Wagner Rosário, confirmou ao Estadão a abertura de investigação em setembro do ano passado. Em nota, a CGU informou que sua apuração constatou “possíveis irregularidades cometidas por terceiros”, mas não de agentes públicos.
A Controladoria repassou o caso à Polícia Federal por haver indício de “oferta de vantagem indevida” para liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Integrante da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros de Assembleias de Deus no Brasil, o pastor Arilton Moura é suspeito de atuar como intermediário entre o Ministério da Educação e prefeituras.
E ontem surgiram novos relatos de que Moura pedia propina a prefeitos em troca de liberação de verbas da Educação.
O caso já é tratado nas redes sociais como “Bolsolão do MEC”. O jornal O Estado de São Paulo revelou que, atendendo um pedido do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Educação Milton Ribeiro passou a receber os pastores Gilmar Santos e Arílton Moura.
Eles acabaram formando um gabinete paralelo no Ministério da Educação, intermediando pedidos de verbas feitos por prefeitos.
Um desses prefeitos, Gilberto Braga, do PSDB, do município maranhense de Luis Domingues, afirmou à Folha de São Paulo que o pastor Arílton Moura pediu 15 mil reais e 1 kg de ouro para liberar verbas de obras de educação para a cidade.
Bíblias
O esquema formado pelo gabinete paralelo no MEC também envolvia a compra de Bíblias para serem distribuídas nas cidades que recebiam a visita do ministro Milton Ribeiro.
Segundo o jornal O Globo, versões da Bíblia comentadas pelo pastor Gilmar Santos foram distribuídas em um evento com o ministro Milton Ribeiro na cidade de Nova Odessa, no interior de São Paulo. Santos é também o dono da editora Cristo para Todos, que produz os livros.
O prefeito de Bonfinópolis, no interior de Goiás, Professor Kelton, relatou que foi convidado para almoçar após uma reunião no MEC, no começo de 2021.
No restaurante, o pastor Arilton Moura disse que se o prefeito tivesse “interesse” em recurso para escola no município, ele poderia “organizar”.
Segundo o prefeito, o pastor pediu 15 mil reais para custear despesas em Brasília e sugeriu que ele comprasse mil Bíblias, no valor de 50 reais cada, para distribuir no município.
O prefeito de Boa Esperança do Sul,no interior de São Paulo, José Manoel de Souza, afirmou também ao Globo que foi levado a um restaurante de um hotel em Brasília depois de um evento no MEC. Lá, segundo o prefeito, Arilton perguntou se ele teria interesse em ter uma escola profissionalizante na cidade.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu que seja investigado se pessoas sem vínculo com o MEC atuavam para a liberação de recursos da pasta.
Já o Tribunal de Contas da União vai fiscalizar as ações do MEC e os repasses de recursos às prefeituras. Segundo o ministro Vital do Rêgo, autor da proposta, os fatos noticiados apontam para a existência de indícios de irregularidades, o que justifica a atuação no TCU.
No Congresso, a Frente Parlamentar Evangélica, que tem 123 deputados e senadores, se reuniu para avaliar a situação do ministro Milton Ribeiro, que é pastor.
O presidente da Frente, deputado Sóstenes Cavalcante, afirmou que se encontrou com o ministro Milton Ribeiro. Segundo ele, o conteúdo dos áudios são preocupantes e os fatos precisam ser esclarecidos.
O presidente da Comissão de Educação do Senado, senador Marcelo Castro, disse que conversou com Milton Ribeiro por telefone e que ficou acertado que o ministro vai comparecer ao Senado na próxima semana.
Para Castro, se comprovada a autenticidade da gravação, Milton Ribeiro teria cometido tráfico de influência.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD, também defendeu que o ministro dê mais explicações sobre o caso.
Ministro nega irregularidades
Em entrevista ontem à CNN, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, negou que o presidente Jair Bolsonaro tenha feito pedido para que a pasta favorecesse os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Na noite de ontem, o pastor Gilmar Santos publicou uma nota negando envolvimento com qualquer ilícito ligado ao Ministério da Educação .
No texto, ele afirma não fazer parte de “gabinete paralelo” que tenha contribuído para qualquer “ato de corrupção” e que não exerce qualquer influência sobre a pasta ou sobre o responsável por ela, o ministro Milton Ribeiro.
O pastor Arilton Moura não se pronunciou.