Peixes e arraias agonizam por falta de oxigênio e morrem no Pantanal; veja

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Um fenômeno natural chamado decoada matou inúmeros peixes e arraias por falta de oxigênio às margens de rios em Corumbá, no Pantanal de Mato Grosso do Sul.

Em um de seus trabalhos documentais, o fotógrafo Guilherme Ambrosio flagrou, pela primeira vez em seis anos, peixes e arraias morrendo por falta de oxigênio.

À reportagem, o Ambrosio destacou que é “impactante” ver “tantos animais em situação de vulnerabilidade, lutando pela sobrevivência”.

Ele afirmou ver “algo positivo” nessa situação, mesmo sendo “desagradável ver um ser vivo em agonia por conta de uma condição anormal de seu ambiente”.

“Assim como outros fenômenos, isso faz parte dos processos naturais do Pantanal. Significa que os períodos de cheia e seca estão se normalizando novamente depois de quase três anos de seca. Para quem testemunhou as queimadas em 2019, pensar que a decoada é um processo causado pelas cheias, nos faz ver algo positivo, disse Ambrósio.

O QUE É DECOADA

A decoada é um fenômeno natural de deterioração da qualidade da água, relacionado à decomposição de massa de matéria orgânica submersa no início do processo de inundação, segundo artigos publicadas na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Quando as águas recuam, a vegetação aquática morre e a terrestre, em especial as gramíneas, se recompõem de forma rápida.

Sua magnitude depende das características do pulso de inundação, ou seja, características da fase de seca anterior e do período de inundação subsequente (volume e velocidade).

A água passa a cobrir a planície pantaneira, deixando a vegetação submersa. Toda essa matéria orgânica em contato com a água começa a se decompor e, conforme o nível de inundação aumenta, os produtos da decomposição são levados do campo inundado para os lagos (baías), córregos e rios.

Esse processo de decomposição realizado pelas bactérias é tão intenso que é capaz de consumir todo o oxigênio dissolvido na água, liberando o dióxido de carbono livre.

Dependendo da magnitude, isso pode provocar mortandade massiva de peixes decorrente da diminuição de oxigênio e do aumento da concentração de gás carbônico, resultantes dos processos de oxidação da matéria orgânica, tanto nos campos inundados, quanto na coluna d’água dos rios.

Com dificuldades em respirar, os peixes sobem à superfície para tentar absorver o oxigênio da interface ar-água (“boquear”) e ficam mais expostos aos predadores ou acabam morrendo se não acharem uma área com água em melhores condições.

FISCALIZAÇÃO COM PESCA PREDATÓRIA

O tenente-coronel Queiroz, da Polícia Militar Ambiental, contou à reportagem que é necessário manter “vigilância constante” no local, mesmo com a morte dos peixes.

“Esses peixes vão participar da cadeia alimentar. Mesmo os que não morrem, eles ficam mais lentos para economizar energia e ficam vulneráveis (…) Se a gente não vigia, vai gente com rede e faz a dizimação do cardume rapidamente. Mesmo sendo peixes que estão morrendo, eles têm de ser capturados dentro do tamanho mínimo permitido”, afirmou o Tenente-coronel Queiroz, da PM Ambiental.

IMPORTÂNCIA PARA A CADEIA ALIMENTAR

O Embrapa enfatiza que, apesar de o fenômeno prejudicar os peixes, é importante para a cadeia alimentar.

“Faz parte do ciclo de renovação da planície relacionado ao ciclo das águas e garante a entrada de nutrientes no sistema”, declarou o Embrapa.

LUCCAS LUCENA / Folhapress

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