PMs são filmados agredindo e tomando celular de testemunha durante abordagem

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Policiais militares do 19º batalhão, que atua na zona leste de São Paulo, foram filmados agredindo e tomando celular de uma testemunha durante abordagem na região. O episódio aconteceu na última terça-feira (25), na Vila Rica, e foi relatado à Corregedoria da corporação. A polícia abriu inquérito.

Quatro amigos conversavam em frente à casa de um deles. Um dos homens estava guardando uma motocicleta na garagem quando os PMs chegaram no local.

Na versão dos policiais, conforme registrado em boletim de ocorrência, a equipe abordou o grupo quando procurava por um “indivíduo em uma motocicleta de cor vermelha, sem identificação da placa, realizando manobras perigosas”.

“Eles já desceram da viatura com a arma na mão dizendo que iam apreender a moto, e invadiram a garagem, mesmo sem a nossa autorização”, disse o advogado Tiago Silva. Ele afirmou ainda que a moto foi comprada recentemente pela esposa e que o veículo fica guardado na garagem do vizinho, onde o episódio aconteceu.

Silva conta que tentou explicar que não havia nada de irregular com a moto, mas que os policiais apreenderam o veículo mesmo assim e ainda aplicaram multas por pilotagem sem capacete e porque o veículo estava com o lacre da placa rompido. Segundo o advogado, a moto foi comprada assim, e a esposa aguardava a chegada de novo emplacamento antes de começar a rodar com ela.

Nas imagens das câmeras de segurança, é possível ver que em meio à abordagem o dono da casa entra em um carro cinza, que estava estacionado na calçada. Ele disse que tinha a intenção de guardar o automóvel na garagem, mas foi impedido por um policial. Quando se aproximou para argumentar, foi agarrado pela blusa e empurrado contra uma viatura.

“Nesse momento chegaram outras viaturas e eu percebi que os policiais estavam ficando agressivos, então resolvi filmar. Quando eles perceberam, vieram pra cima de mim”, disse o motoboy Habacuque Akiyama, morador da mesma rua.

As filmagens mostram que ao menos quatro policiais cercaram e imobilizaram o entregador. “O primeiro tentou dar um tapa no meu celular. Depois um outro veio por trás e me deu um mata-leão, enquanto outros dois torciam meus braços pra me algemar. Fui jogado no chão e um deles ainda ficou ajoelhado na minha cabeça por alguns minutos”, relata Akiyama.

Os três foram levados ao 41º DP (Vila Rica), onde o caso foi registrado como resistência, desobediência e lesão corporal, tendo os PMs como vítimas. Lá, o entregador disse em depoimento que depois de solto foi autorizado a procurar o celular que havia sido derrubado, mas não conseguiu encontrá-lo. À Polícia Civil uma mulher, que estava reunida com o grupo, disse que viu um policial pegando o telefone no chão, ao lado da moto de Akiyama -o que é confirmado na imagem da câmera de segurança.

O aparelho, no entanto, não foi devolvido ao dono nem apresentado na delegacia. Questionados, os militares declararam desconhecer o paradeiro do celular. Mais tarde, ao consultar a localização pela internet, a vítima relatou ter visto pelo GPS que o aparelho tinha sido usado pela última vez a menos de 300 metros do local, cerca de meia hora após a ocorrência.

No dia seguinte, os três foram até a Corregedoria da Polícia Militar, onde abriram representação contra os policiais por abuso de autoridade, agressão e peculato. Nove agentes foram reconhecidos por fotografias, e o órgão deve solicitar as imagens das câmeras corporais para dar andamento à apuração.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública disse que o 41º DP instaurou inquérito para investigar a ocorrência e que os envolvidos serão intimados na próxima semana para fornecerem informações que auxiliem na elucidação do caso.

LEONARDO ZVARICK / Folhapress

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