Projeto ajuda a controlar hipertensão em São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um projeto de saúde implementado em São Paulo por meio de uma parceria público-privada resultou no aumento do controle da pressão arterial e em queda dos episódios de AVC (acidente vascular cerebral) e infartos na cidade.

Em números, a porcentagem de hipertensos com controle de sua pressão arterial saltou de 12% para 31%, enquanto os episódios de AVC caíram 12% e os de ataques cardíacos 13% em um período de 15 meses, entre 2018 e 2019.

Os resultados foram apresentados na terça-feira (18), no seminário Doenças Crônicas: Inovando com Simplicidade, promovido pela Folha de S.Paulo e patrocinado pela Fundação Novartis.

“Em doenças crônicas há a necessidade de intervirmos para reduzirmos o ônus. Nas cardiovasculares, a consequência disso é o aumento da longevidade e da qualidade de vida da população”, afirma Arthur Avezum, cardiologista e diretor do centro internacional de pesquisas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, responsável por apresentar os dados.

A experiência em São Paulo faz parte de uma iniciativa maior da Novartis, chamada Cardio4Cities, que busca trabalhar com governos locais e entidades da sociedade civil para aumentar a conscientização sobre pressão alta.

Entre outras ações, o projeto visa qualificar farmacêuticos para que seu contato com o paciente seja mais preciso e promover uma divisão de tarefas entre médicos, enfermeiros, auxiliares e agentes comunitários, além da conscientização do paciente para que ele entenda que o controle da pressão pode resultar em aumento de expectativa e qualidade de vida.

Dacar, no Senegal, e Ulan Bator, na Mongólia, foram outras cidades que passaram pelo processo. Na primeira, a porcentagem de hipertensos com controle de sua pressão saltou de 7% para 19%, em 19 meses; na segunda, de 3% para 19%, em 21 meses. As três cidades têm em comum urbanização rápida e desenfreada e altas taxas de pressão alta e doenças cardiovasculares.

A abordagem do projetose baseia em seis pilares, que formam a sigla Cardio —cuidado, acesso, reforma, dados, intersetorial e organização.

“Buscamos melhorar o cuidado, promover o acesso precoce ao diagnóstico, reformar políticas com benefícios comprovados para saúde, aproveitar dados e tecnologia digital para criar métricas, fomentar a colaboração intersetorial e garantir orientação à autoridade local, no caso a Secretaria Municipal de Saúde”, diz Avezum.

Para ele, a colaboração é o mais importante. “É uma coalizão. Não é só a área médica. Tem educação, planejamento de cidades, esporte, alimentação. Todos são parceiros.”

O cardiologista exalta a importância dos agentes locais, especialmente os da saúde, e do processo de cocriação, no qual a população ajuda a preparar a intervenção.

Na capital paulista, a iniciativa começou em seis UBSs (Unidades Básicas de Saúde) de Itaquera, na zona leste, em 2018. Atualmente, está em 236 equipamentos de saúde, sendo 162 UBSs, em todas as zonas. Nas unidades de saúde, o projeto capacita profissionais e trabalha para melhorar a coleta de dados

Para encontrar quem nem sequer sabia de sua condição, a iniciativa instalou pontos de medição de pressão em locais movimentados, como shoppings, estações de metrô, feiras, escolas de samba e no estádio do Corinthians. Uma vez identificados, hipertensos eram encaminhados para as unidades de saúde para começar o acompanhamento.

“O projeto foi testado com adversidades —a pandemia— e agora está pronto para ser replicado e estendido para outras cidades”, afirma o médico.

Doenças cardiovasculares são a maior causa de mortes no mundo. Em 2019, foram 17,9 milhões ou 32% do total. No Brasil, a porcentagem salta para 42%. Há cerca de 55 milhões de hipertensos no país.

“Se todo brasileiro tivesse a pressão normal, haveria cerca de 43% menos casos de infarto. Hoje há 400 mil por ano. No AVC, o impacto seria maior, com 48% a menos. Acontecem cerca de 500 mil todos os anos”, afirma Avezum.

Além disso, controle da condição também significaria economia. Atualmente, estima-se que a hipertensão arterial custe ao Brasil, somando-se tratamento e perda de produtividade dos acometidos pela condição, R$ 72 bilhões por ano.

DANTE FERRASOLI / Folhapress

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