Putin retoma ataque com mísseis antes de contraofensiva da Ucrânia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Ucrânia afirmou nesta sexta (28) pela primeira vez que está pronta para iniciar sua antecipada contraofensiva. Os invasores russos, por sua vez, voltaram a fazer um grande ataque com mísseis após quase dois meses, matando ao menos 17 pessoas.

“Falando globalmente, nós estamos prontos em alto percentual. Assim que houver a vontade de Deus, o tempo e a decisão dos comandantes, nós vamos fazer [a ofensiva]”, disse o ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, em uma entrevista coletiva online.

Os ucranianos estão em modo defensivo desde que retomaram a cidade de Kherson, a maior que havia sido ocupada pela Rússia na guerra iniciada em fevereiro do ano passado por Vladimir Putin. Passaram o inverno do Hemisfério Norte sob grande pressão em Donetsk, com os adversários praticamente tomando a cidade de Bakhmut, mas sem conseguir fazê-lo totalmente.

Para tentar marcar simbolicamente a ideia de que a vitória é uma questão de tempo, o premiê russo, Mikhail Michustin, deu uma rara declaração sobre a guerra, dizendo que visitou Bakhmut recentemente. Prometeu, a exemplo da arrasada Mariupol (sul), reconstruir a cidade.

O “moedor de carne” estabelecido lá já é visto como o mais mortal embate entre Estados desde a Segunda Guerra Mundial, e o ora insondável número de mortos de ambos os lados pode estar na casa dos dezenas de milhares.

Agora, reforçada pelo que a Otan (aliança militar ocidental) disse serem 230 tanques e 1.550 blindados, Kiev se prepara para tentar dar o troco. Seus planos não são, claro, públicos, mas a maioria dos observadores crê em um ataque contra Kherson e Zaporíjia, 2 das 4 regiões anexadas por Moscou em setembro.

O objetivo militar mais óbvio seria o de interromper a ponte terrestre estabelecida por Putin no começo da guerra, unindo o leste russófono da Ucrânia, ora anexado mas com o campo de batalha contestado, à penínsua da Crimeia, que Moscou absorveu em 2014 como reação à derrubada do presidente pró-Kremlin

A Otan diz ter treinado e equipado nove brigadas blindadas com materiais e técnicas ocidentais. Isso pode, a depender das contas, somar 45 mil soldados. Blogueiros militares russos estimam que a ofensiva no total deve envolver até 200 mil homens, o mesmo número mobilizado por Moscou para a invasão.

Nos últimos meses, à parte da ofensiva em Bakhmut, os russos se concentraram em reforçar suas defesas, o que torna a tarefa de Kiev mais difícil. Camadas diversas de trincheiras, campos minados e reforços de artilharia são vistas ao longo de 800 km de frente por imagens de satélite, e a principal cidade da Crimeia, Sebastopol, está em ritmo de guerra.

Lá, baterias antiaéreas estão de prontidão contra ataques de aviões-robôs ucranianos, e um sistema como múltiplas redes de proteção foi instalado em torno do porto, que sedia a Frota do Mar Negro da Rússia, contra drones submarinos, que já foram usados contra o local.

Alguns observadores acreditam que a batalha a seguir poderá definir o rumo da guerra, nem tanto pelas chances de vitória de qualquer um dos lados, mas talvez pelo prolongamento do conflito e o estabelecimento de linhas claras de controle em solo –algo que pode, ao fim, embasar negociações que agora estão sendo estimuladas pelo principal parceiro de Putin, a China de Xi Jinping.

Como guerras são imprevisíveis, contudo, essa tese será posta a prova na prática.

Também nesta sexta, a Rússia retomou os ataques em ondas de mísseis e drones, naquilo que o Ministério da Defesa disse ser uma ação contra forças de reserva ucranianas. Kiev disse ter derrubado 21 de 23 modelos de cruzeiro, o que não pode ser confirmado.

Não foi tão grande quanto a mais recente ação do gênero, em 9 de março, quando Moscou enviou 81 mísseis, mas foi bastante mortífera: em Uman (centro), ao menos 17 pessoas morreram em um prédio residencial.

Ele foi atingido por um modelo de cruzeiro às 4h30 (22h30 de quinta em Brasília) e reduzido parcialmente a ruínas. Ao menos duas crianças estão entre os mortos. Kiev também foi atacada, além de Dnipro e outros pontos do país. O presidente Volodimir Zelenski foi às redes sociais denunciar “o terrorismo russo”.

Entre outubro e janeiro, ataques em ondas eram quase semanais, numa tentativa dos russos de degradar intencionalmente a infraestrutura energética do país vizinho durante o inverno. Assim, a Ucrânia passou longos períodos sob blecautes, algo que agora foi normalizado.

Tais ações passaram a ser esporádicas, apesar da intensidade daquela de março, o que especialistas avaliam ser um sinal de que Moscou está com um arsenal de armas de precisão reduzido após mais de um ano de uso. Elas precisam de componentes mais sofisticados, como chips, que rarearam no mercado para os russos sob sanções econômicas.

IGOR GIELOW / Folhapress

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