A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) enviou circular aos 27 presidentes de federações estaduais em fevereiro de 2022 na qual informava a ampliação de contrato com a Sportradar, empresa internacional de tecnologia esportiva, para monitorar as apostas feitas em partidas nacionais.
A companhia é considerada uma das principais no setor de prevenção, detecção e inteligência no combate à manipulação de resultados e proteção a fraudes.
Pouco mais de um ano depois, o futebol brasileiro vive o seu maior escândalo de manipulação de resultados por apostadores desde 2005, quando foi escancara o que ficou conhecida como “máfia do apito”. Era esquema de apostas ilegais que tinha a participação do árbitro Edílson Pereira de Carvalho.
A Folha entrou em contato com a Sportadar e a CBF para entender por que a companhia, que acompanha apostas em todos os estaduais, torneios nacionais, Brasileiro sub-20 e de aspirantes, não percebeu apostas de altos valores em cartões amarelos, vermelhos e pênaltis cometidos propositalmente em jogos da Série A e B do ano passado, assim como em competições regionais de 2023. Questionou também se a Confederação foi informada caso qualquer problema tenha sido detectado.
A Sportradar respondeu que “por conta do contrato de confidencialidade com as entidades e empresas parceiras, dados específicos de jogos, ligas e atletas não são divulgados, até porque se uma investigação é aberta, as informações ficam sob segredo de justiça”.
A CBF informou que não comenta “sobre a metodologia utilizada pela Sportradar.” A Confederação sugeriu que a reportagem procurasse a empresa para os questionamentos.
“Quando a CBF recebe os dados considerados suspeitos pela Sportaradar, estes são encaminhados ao STJD [Superior Tribunal de Justiça Desportiva]”, completa a entidade.
Pessoas envolvidas no mercado de apostas disseram à reportagem que a Sportradar e concorrentes que fazem o serviço de monitoramento de apostas procuram, na verdade, mudanças repentinas de padrões. Como, por exemplo, se uma quantidade significativa de pessoas começa a colocar dinheiro em determinadas situações de uma partida de maneira incomum.
Os principais núcleos do esquema das apostas
Os apostadores: eram cinco pessoas que faziam as apostas -seguindo o que foi combinado com jogadores- e coletavam os ganhos Os investidores: três integrantes que bancavam o esquema Os intermediadores: eram responsáveis por encontrar e cooptar os atletas Fonte: MP-GO
Deflagrada em novembro de 2022, a operação Penalidade Máxima investiga grupo que fraudava apostas esportivas em jogos dos campeonatos brasileiros das séries A e B de 2022 e em estaduais de 2023. Nos autos do processo, mais de 50 jogadores são citados e 15 foram denunciados até agora. Quatro admitiram culpa e fizeram acordo de não persecução penal com o Ministério Público.
A procuradoria do STJD pediu a suspensão de oito atletas investigados. Eles sofreram gancho preventivo de 30
Eles são acusados de receber dinheiro de uma quadrilha de apostadores para levar, de maneira proposital, cartões amarelos, vermelhos ou cometer pênaltis durante os jogos.
Na semana passada, a CBF descartou paralisar o Campeonato Brasileiro por causa da operação do MP. A entidade informou estar á disposição das autoridades para ajudar nas investigações. A CBF ainda afirmou que se colocou à disposição das autoridades para auxiliar nas investigações.
Para o Ministério Público, o chefe do esquema é Bruno Lopez de Moura, dono de empresa de agenciamento de atletas e ex-jogador de futsal. Ele está preso. Sua defesa afirma que “as acusações serão formal e processualmente respondidas no momento oportuno.”
O acordo da CBF com a Sportradar, firmado inicialmente em 2017, foi ampliado até 2024. A companhia também presta serviços à Fifa, Uefa e Conmebol.
Na divulgação do novo acordo, foi anunciada a utilização do UFDS (Sistema Universal de Detecção de Fraudes) para o monitoramento de mais de 3.000 partidas nas quatro divisões nacionais do país, além da Copa do Brasil e as ligas estaduais.
O valor do contrato entre CBF e Sportradar não foi revelado.
ALEX SABINO / Folhapress