Quase metade das crianças e dos jovens não tem as redes sociais verificadas pelos pais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quase metade das crianças e dos adolescentes brasileiros não têm as suas redes sociais verificadas pelos pais. São 47% dos internautas de 9 a 17 anos que usam essas mídias sem acompanhamento. Além disso, 42% dos usuários de internet dessa faixa etária não têm e-mails e trocas de mensagens verificados pelos responsáveis, assim como o histórico de sites visitados e os amigos e contatos adicionados às redes sociais.

Esses dados, que chamam a atenção no atual contexto de aumento da violência em escolas no país, foram levantados pela pesquisa TIC Kids Online Brasil, referência na análise do comportamento digital na infância e na adolescência.

O estudo é feito anualmente, desde 2012 (com exceção de 2020, em razão do confinamento), pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, que reúne representantes governamentais e da sociedade civil para estabelecer as diretrizes do uso da internet no país. Para esta edição, foram entrevistados presencialmente 2.604 crianças e adolescentes, assim como seus pais e responsáveis.

Coordenadora da pesquisa, Luísa Adib ressalta que, para fazer uma verificação das atividades online dos filhos, os pais e responsáveis precisam conhecer o ambiente digital frequentado por eles.

“É algo que exige algum conhecimento técnico, que eles entendam como funcionam essas plataformas”, diz. “Diante disso, quanto mais alto o nível de escolaridade dos pais e responsáveis, maior é a verificação das atividades on-line dos filhos.”

Essa diferença fica evidente, por exemplo, na verificação do histórico dos sites visitados pelos filhos. São apenas 29% que fazem isso entre os que estudaram até o fundamental 1. Entre os de nível médio ou superior, a taxa sobe para 66%. Da mesma forma, as redes sociais são verificadas por 30% dos pais com escolaridade até o fundamental 1 e por 61% daqueles com ensino médio ou mais.

Algumas orientações de uso da internet que não exigem maiores conhecimentos de tecnologia são mais presentes nas famílias. São 89% os que explicam para as crianças e os adolescentes que alguns sites são bons e outros ruins, além de orientar sobre como se comportar na internet com outras pessoas.

Também é alta a proporção dos que colocam algum tipo de regra para os filhos usarem o celular, especialmente dentre os mais novos, sendo 93% dentre as crianças de 9 e 10 anos. Já no caso de adolescentes de 15 a 17 anos, o número cai para 54%.

Como a pesquisa já vem mostrando em anos anteriores, e especialmente após a pandemia, o número de crianças e adolescentes que utilizam redes sociais é alto no país. São 86% no total nessa faixa etária, sendo que 78% estão no WhatsApp, 64% no Instagram, 60% no TikTok e 47% no Facebook. Além disso, 58% jogam online, conectados com outros jogadores.

Temos, portanto, um cenário de muito uso das redes sociais por crianças e adolescentes, sem um monitoramento tão assíduo de seus pais e responsáveis.

O risco dessa combinação se evidencia quando a pesquisa mostra que nem sempre crianças e adolescentes têm noção de como a internet funciona e de quais são os riscos. Dentre os mais novos, de 9 e 10 anos, por exemplo, apenas 30% se preocupam com a privacidade na internet.

A noção sobre os algoritmos e a desinformação também é baixa: 45% das crianças e dos adolescentes acreditam que o primeiro resultado de uma pesquisa na internet é sempre a melhor fonte de informação. Quase metade (47%) acha que todos encontram as mesmas informações quando pesquisam algo na internet e 44%, que a primeira publicação que vemos nas redes sociais é a última postada por alguém.

LAURA MATTOS / Folhapress

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