Quilombola da Bahia sobe em palco de Lula, chora e pede ajuda

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Aos prantos, a quilombola Rose Meire Silva tentou entregar um documento para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante evento de assinatura da Lei Paulo Gustavo, em Salvador, na noite desta quinta (11).

Após insistência, ela conseguiu subir ao palco no qual o petista estava com a primeira-dama, Janja da Silva. “Lula, pelo amor de Deus. Nosso povo está morrendo Lula”, disse.

Rose foi abraçada por Lula. Na sequência, chorando, se ajoelhou e repetiu a frase que acabara de dizer.

Ela é a coordenadora da Associação dos Remanescentes do Quilombo Rio dos Macacos, comunidade localizada na divisa entre os municípios de Salvador e Simões Filho, na Bahia.

Os quilombolas reivindicam acesso a direitos básicos. Segundo os moradores, o local não tem água encanada nem iluminação pública, tampouco serviços de saúde. Outro problema relatado é a lentidão nas obras da estrada que dará acesso ao território.

O relato mais grave, entretanto, é o de que lideranças estariam sendo assassinadas devido à sua atuação política.

Após ser abraçada por Lula, a líder entregou ao presidente um documento no qual a comunidade relata os problemas que enfrenta.

“Perdemos diversas pessoas por falta de acesso ao território. Inclusive, nem o próprio Samu pode entrar na comunidade por falta de acesso. Quando pessoas passam mal, têm que andar a pé 3,5 km até a portaria principal”, diz um trecho do documento. “Mulheres já deram à luz no meio da lama.”

Em outro trecho, os quilombolas afirmam que o transporte escolar não consegue entrar na comunidade, o que obriga crianças a andarem 7,5 km para estudar.

“Eu já entreguei a carta nas mãos de Lula umas duas ou três vezes”, disse Rose à reportagem. “Os governos municipal, do estado da Bahia e federal sabem o que está acontecendo. Não é de agora que a gente entrega essa documentação, mas nada foi resolvido.”

O quilombo Rio dos Macacos trava uma disputa de décadas com a Marinha pela posse da terra.

Em fevereiro de 2014, oficiais foram flagrados por câmeras de segurança agredindo Rose Meire e seu irmão Rosinei dos Santos na portaria da base naval. Na época, a Marinha emitiu uma nota em que disse repudiar atos de violência.

O embate data dos anos de 1970, quando a Marinha instalou uma vila para abrigar 500 famílias de militares em uma área onde já moravam descendentes de escravizados. O litígio pela posse da terra foi parar na Justiça.

A única estrada que leva à área quilombola é interrompida pelas guaritas da vila naval, onde a entrada é controlada por guardas da Marinha. Pelas laterais, o acesso se dá em meio à mata densa, que só pode ser percorrida a pé.

É nesse local isolado em que 85 famílias vivem em casas improvisadas -parte delas feitas de tábuas de madeira e telhado de amianto.

“Espero que Deus toque no coração de Lula para ele trazer políticas públicas [para o quilombo], porque a gente paga um imposto muito alto e o governo brasileiro deve muito ao nosso povo”, disse Rose.

A comunidade foi reconhecida como quilombola em 2015, nos últimos meses da gestão da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Dos 301 hectares de terra, 105 foram demarcados como território quilombola, e os outros 196 ficaram sob responsabilidade da Marinha.

O desenho da demarcação, contudo, restringiu o acesso ao rio dos Macacos, principal manancial da região, onde os quilombolas pescavam e retiravam água para consumo próprio e dos animais e irrigação de plantações.

TAYGUARA RIBEIRO / Folhapress

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