Naquele que vem sendo considerado pelas autoridades mexicanas um “golpe significativo” para a estrutura financeira do crime organizado no país, a prisão de Rosalinda González Valência, de 58 anos, é mais do que a prisão da mulher de um chefe do narcotráfico no México. Herdeira de uma família de criminosos e operadora financeira do cartel Jalisco Nueva Generación, a “rainha do tráfico” reúne a experiência de mais de 20 anos com lavagem de dinheiro de grupos criminosos – além de saber dos segredos mais íntimos de um dos homens mais procurados do mundo.
Rosalinda foi presa em uma operação liderada pelo Exército mexicano em Zapopan, cidade dos arredores de Guadalajara, na segunda-feira 15. A confirmação de que o alvo da operação era a “rainha do tráfico”, contudo, demorou a vir a público, pois a lei mexicana proíbe a divulgação do nome completo de pessoas não sentenciadas. Em um comunicado conjunto, autoridades mexicanas apresentaram a prisão de Rosalinda “N” como “um golpe significativo para a estrutura financeira do crime organizado (em Jalisco)”. Ela foi presa sob acusação de diversos crimes, incluindo lavagem de dinheiro.
Mulher de Nemesio Oseguera Cervantes (El Mencho), ex-policial que fundou e lidera o cartel Jalisco Nueva Generación, Rosalinda era uma figura operante na condução do grupo criminoso. “Ela tem todas as senhas, toda a confiança de ‘El Mencho’, toda a informação e era responsável pela lavagem de dinheiro do cartel”, disse Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais da Agência Antidrogas dos EUA (DEA).
De acordo com Vigil, a prisão de Rosalinda enfraquece El Mencho, que dirige o cartel de forma “ditatorial”, com base na confiança de pessoas próximas.
Trajetória no crime – O papel de mulher de chefe de cartel é pouco para definir esta mulher cuja família sempre esteve vinculada ao crime organizado. A trajetória da rainha do tráfico, de acordo com autoridades mexicanas citadas pelo jornal El País, é anterior ao casamento com Nemesio Oseguera, e começou nos anos 1990, quando seu tio, Armando Valencia, fundou o grupo “del Milenio”, um dos mais poderosos cartéis mexicanos da década, especializado no tráfico de maconha, cocaína e drogas sintéticas. A partir daí, Rosalinda e seus irmãos – dos quais cinco estão presos atualmente, segundo a publicação espanhola – começaram a atuar com a lavagem de dinheiro, fundando posteriormente seu próprio grupo, Los Cuinis.
Além dos irmãos presos, dois filhos de Rosalinda com Oseguera estão presos nos Estados Unidos – Jessica Johanna Oseguera González e Rubén Oseguera González, conhecido como “El Menchito”. Jessica foi condenada a dois anos e meio de prisão em junho, em Washington, por sua participação em empresas ligadas à lavagem de dinheiro do cartel. De acordo com a lei “Kingpin”, os americanos estão proibidos de fazer negócios com empresas que ajudem traficantes de drogas. Jessica era proprietária ou executiva de várias dessas empresas e se declarou culpada das acusações contra ela.
Já “El Menchito” se declarou inocente das acusações de formação de quadrilha para distribuição de grandes quantidades de cocaína e metanfetamina, e de crimes relacionados com armas de fogo. Se as acusações contra ele forem comprovadas, ele pode passar pelo menos 15 anos na prisão. Diante desta situação, Vigil considerou que Rosalinda González Valencia poderia estar interessada em “negociar um acordo para ajudar seus filhos”.
“É uma tática (das autoridades), prender familiares muitas vezes é uma colaboração e há negociações, embora ‘El Mencho’ não vá se entregar”, disse o ex-oficial.
Atualmente, o cartel Jalisco Nueva Generación é considerado a gangue mais poderosa do México, ao lado do cartel de Sinaloa, e é acusado de contrabandear grandes quantidades de drogas, incluindo o opioide sintético fentanil, para os Estados Unidos, onde as mortes por overdose principalmente ligadas à substância aumentaram para mais de 93 mil em 2020.
O cartel, presente na grande maioria do território mexicano, também é a organização criminosa que mais atacou diretamente membros das forças de segurança e que mantém os confrontos mais sangrentos com o cartel de Sinaloa e outros grupos menores.
Autoridades dos EUA acusaram o Nueva Generación de ter tentado comprar armas de alta potência, como metralhadoras M-60, em território americano.
O poder do grupo é tal que há anos, durante um confronto com as autoridades mexicanas, chegou a derrubar um helicóptero militar com um lançador de granadas. Em junho de 2020, o cartel lançou um ataque contra o chefe da Segurança da Cidade do México, Omar García Harfuch, que caiu em uma emboscada no centro da capital.
Embora seu veículo estivesse crivado, o colete salvou Harfuch, que foi apenas ferido. Dois de seus guarda-costas e uma mulher que passava foram mortos.
Agência Estado, com agências internacionais