SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As forças especiais britânicas atuaram de forma secreta em 19 países nos últimos 12 anos, segundo a organização Action on Armed Violence, que compilou dados a partir de informações vazadas à imprensa.
O relatório, divulgado nesta terça-feira (23) pelo jornal britânico The Guardian, aponta que as unidades operaram em missões no Afeganistão, Argélia, Chipre, Estônia, Filipinas, França, Iêmen, Iraque, Líbia
Mali, Nigéria, Omã, Paquistão, Quênia, Rússia, Síria, Somália e Ucrânia. Mais recentemente, os militares estiveram no Sudão, que registra conflitos entre o Exército e um grupo paramilitar desde 15 de abril.
Segundo o documento, o governo britânico enviou nas missões soldados de regimentos criados para atividades de vigilância e de reconhecimento, entre os quais do Special Air Service (Serviço Aéreo Especial, em português) e do Special Boat Service (Serviço Especial de Barcos).
Uma das missões com o maior envolvimento dos militares, segundo a organização, aconteceu na Síria. As forças especiais britânicas entraram no país do Oriente Médio primeiro em 2012 para ajudar os grupos rebeldes que lutavam contra o ditador Bashar al-Assad. Mais soldados foram enviados no ano seguinte para identificar alvos militares antes de uma campanha de bombardeio em regiões estratégicas.
Quando 38 pessoas, incluindo 30 britânicos, foram mortas em um ataque terrorista que atingiu um hotel na Tunísia, em 2015, o então premiê David Cameron deu uma espécie de carta branca para que as forças especiais atuassem em conjunto com governos de países do norte da África e do Oriente Médio na busca por líderes islâmicos extremistas.
Mais recentemente, cinquenta militares das forças especiais estiveram na Ucrânia no início deste ano, segundo documentos vazados do Pentágono e mencionados no relatório, embora o Reino Unido não faça formalmente parte do conflito no Leste Europeu. O objetivo dos soldados no país invadido pela Rússia não foi divulgado.
Também em 2023, as forças especiais participaram do resgate de diplomatas britânicos e suas famílias de Cartum, a capital do Sudão, após o início dos combates entre as forças do Exército lideradas pelo general Abdel Fatah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), comandados por Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti.
Segundo o documento, os soldados realizaram o transporte das pessoas para um aeródromo ao norte da capital, num momento em que elas corriam o risco de serem atacadas. Na época, o secretário da Defesa britânico, Ben Wallace, elogiou o esforço militar. Já o Ministério da Defesa disse em nota que a operação envolveu membros do regimento da Força Aérea Britânica (RAF, na sigla em inglês) e dos Royal Marines (marinheiros britânicos), mas não mencionou qualquer atuação de forças especiais.
A atuação na Rússia remonta a 2014, quando um tabloide divulgou que soldados do Serviço Aéreo Especial estavam prontos para proteger a segurança dos atletas britânicos nas Olimpíadas de Inverno, em Sochi.
Além da participação direta em operações de resgate ou ações contra grupos armados, as forças especiais britânicas atuaram no treinamento de tropas locais e na elaboração de estratégias militares. Críticos, porém, denunciam a falta de transparência nas atividades.
“A extensa implantação das Forças Especiais britânicos em vários países na última década levanta sérias preocupações sobre transparência e supervisão democrática”, disse Iain Overton, diretor-executivo da Action on Armed Violence, ao The Guardian. “A falta de aprovação parlamentar e revisões retrospectivas para essas missões é profundamente preocupante.”
Redação / Folhapress