Relatório aponta aumento de 76% nos casos de LGBTfobia no futebol

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Relatório elaborado pelo Coletivo de Torcidas Canarinos LGBTQ+ aponta aumento de 76% nos casos de LGBTfobia no futebol brasileiro em 2022. O documento foi feito com apoio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Foram 74 episódios registrados no Anuário do Observatório do Coletivo no ano passado, dentro ou fora de campo, mas ligados a partidas disputadas no país. Em 2021, haviam sido 42.

No último domingo (14), o clássico entre Corinthians e São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro foi interrompido pela arbitragem por causa de gritos homofóbicos da torcida corintiana na Neo Química Arena. Para Onã Rudá, fundador do coletivo responsável pelo documento, este é um caso que mostra como os clubes precisam se envolver no tema.

“Não se pode esperar que a CBF desça do Monte Olimpo para resolver todos os problemas. Os clubes têm um papel fundamental pelo alcance que possuem e pela forma como influenciam seus torcedores”, afirma.

Criador da primeira organizada LGBTQ+ do Bahia, Rudá lembra que, como o apoio da agremiação, levou a discussão a seus torcedores, estimulando o debate também entre as torcidas tradicionais. Isso tornou mais fácil para os fãs da equipe abraçarem a causa.

Embora ressalte que só punir não é o bastante, o fundador do coletivo reclama da omissão do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que não faz nada, segundo ele, com as denúncias de homofobia recebidas no futebol.

O trabalho de levantamento de casos de homofobia engloba acompanhamento de jogos e coleta de informações publicadas pela imprensa e que aparecem em redes sociais.

“É um trabalho que precisa envolver a todos. A LGBTfobia é um mal social que se alastra em todos os ambientes, em especial no futebol. Essa intolerância motivada por ódio e discriminação é profundamente violenta e deixa marcas profundas. Temos uma pesquisa de 2018 que indica que 62,5% dos LGBTQ+ brasileiros já pensaram em suicídio”, completa Rudá.

O aumento tem sido contínuo desde 2020, quando foram registrados 20 casos de homofobia. Mas é preciso levar em conta ter sido temporada atípica por causa da pandemia da Covid-19, quando os torneios foram paralisados e, quando retornaram, foi sem a presença de torcedores.

“O trabalho dos Canarinhos mostra uma triste realidade, que estamos lutando para acabar no futebol. A CBF vai sempre combater os preconceitos e trabalhar para que o futebol seja um lugar de inclusão”, afirma Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.

O relatório pede a elaboração de um protocolo que oriente os árbitros sobre ações a serem tomadas em casos de discriminação. Como árbitros que paralisam jogos por causa de cantos homofóbicos, mas não os registram na súmula.

Foi o que aconteceu no Campeonato Amapaense. O presidente de honra do Santos, Luciano Marba, foi alvo de gritos discriminatórios da torcida do Independente. O fato não foi relatado na súmula, e o clube enviou ofício ao TJD-AM (Tribunal de Justiça Desportiva do Amapá) denunciando o caso e defendendo seu dirigente. O quarteto de arbitragem foi suspenso por 30 dias pela omissão.

No Regulamento Geral das Competições de 2023, documento redigido pela CBF para gerir os torneios nacionais, foi incluída a possibilidade de punir esportivamente um clube em casos de homofobia.

ALEX SABINO / Folhapress

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