Relembre a trajetória de Angela Ro Ro, que morreu aos 75 anos

A cantora Angela Ro Ro, um dos principais nomes MPB, morreu nesta segunda-feira (8) aos 75 anos. A morte foi confirmada pelo advogado da artista, Carlos Eduardo Lyrio.

Conhecida pelo sucesso “Amor, Meu Grande Amor”, a artista foi um dos principais nomes do gênero nos anos de 1970 e 1980. Seu álbum de estreia homônimo, lançado em 1979, marcou época com letras pessoais e influências de rock e blues, antecipando tendências do cenário nacional.

O maior hit de sua carreira. “Amor, Meu Grande Amor” faz parte do primeiro álbum, que reúne outras faixas contundentes, derramadas de paixão, como “Gota de Sangue”, “Tola Foi Você”, “Balada da Arrasada” e “Agito e Uso”. Durante toda a sua carreira, essas músicas eram aguardadas nos shows e sempre provocavam os momentos mais emocionantes de suas apresentações.

Apesar do sucesso inicial, Angela não repetiu o mesmo impacto do disco em trabalhos posteriores. A falta do sucesso popular se refletiu nos últimos meses de vida da cantora, nos quais ela repetidamente pediu dinheiro a fãs e amigos pela internet para custear tratamentos dos seus problemas de saúde. A artista enfrentava problemas pulmonares e renais e até rumores de possibilidade de um câncer.

Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves, no Rio de Janeiro, em 1949, a cantora era conhecida por suas apresentações intensas, quase em clima de cabaré, alternando músicas e relatos pessoais. A artista tinha como influência Elis Regina, Billie Holiday, Maysa e Ella Fitzgerald.

Foi na Europa, onde passou quatro anos que Ro Ro deu seus primeiros passos na música. Primeiro na Itália, onde conheceu o cineasta Glauber Rocha, mas a maior parte desse período foi passada na Inglaterra. Em Londres, foi onde conseguiu as primeiras chances de cantar em pubs.

Glauber foi seu padrinho para a primeira experiência de gravação. Ela participou do disco “Transa”, clássico de Caetano Veloso, tocando gaita na faixa “Nostalgia (That’s What Rock and Roll Is All About)”.

De volta ao Rio, decidida a viver de música, Angela Ro Ro se destacou na cena noturna pela voz marcante e pela personalidade explosiva, muitas vezes envolvida em brigas em lugares públicas, especialmente com suas namoradas.

Seu talento chamou a atenção da gravadora Polygram (atual Universal), que a levou ao estúdio com os produtores Ricardo Cantaluppi e Paulo Lima. Considerada um “diamante bruto”, Angela trabalhou com eles para selecionar 12 faixas de seu repertório autoral. Apenas duas canções tiveram parcerias: “Amor, Meu Grande Amor”, com Ana Terra, e “A Mim e a Mais Ninguém”, com Sérgio Bandeyra.

Num período em que cantoras ganhavam destaque na MPB, com Simone como grande vendedora de discos e Marina Lima em ascensão, Angela conquistou o público com sua voz grave e presença irreverente na TV. O sucesso inicial garantiu a produção de álbuns anuais, como “Só Nos Resta Viver”, “Escândalo”, “Simples Carinho”, “A Vida É Mesmo Assim” e “Eu Desatino”. Entre eles, “Simples Carinho” é considerado seu melhor trabalho, enquanto “Escândalo” refletia a vida turbulenta da artista.

Boatos sobre bebedeiras e brigas mantinham seu nome na mídia, mas a acusação de agressão a sua então namorada, Zizi Possi, acabou afetando sua carreira. Se musicalmente o entusiasmo dos fãs já tinha diminuído, esse episódio foi minando cada vez sua carreira. A partir daí, o público se afastou, e os álbuns seguintes, “Prova de Amor”, “Acertei no Milênio”, “Compasso” e “Selvagem” , tiveram menor repercussão. Seus shows passaram a ocorrer em espaços menores, frequentados por plateias nostálgicas.

Para quem teve chance de assistir a um de seus raros shows antes da pandemia, a impressão foi unânime. O talento musical e a comunicação com a plateia se mostravam intocáveis. Podendo pinçar as canções dentro do vasto repertório, cada apresentação era um desfile de técnica apurada no piano e letras fortes, desabafos confessionais de uma mulher que deu a cara para bater durante toda a carreira.