Rússia acusa Ucrânia de tentar invadir fronteira com tanques

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia acusou nesta quinta (1º) forças de Kiev de tentar pela primeira vez na Guerra da Ucrânia fazer uma incursão contra sua fronteira sul, na região de Belgorodo, com o apoio de tanques, blindados e lançadores de mísseis.

Segundo o Ministério da Defesa em Moscou, foram três tentativas após bombardeio intenso da cidade de Chebekino, que já vinha sofrendo ataques com obuses e mísseis nos últimos dias. Nenhuma delas, diz a pasta, chegou a entrar no território russo.

Kiev, que sempre nega tais ações, ainda não comentou o caso. Elas são reivindicadas por grupos como a Legião Liberdade da Rússia ou o Corpo de Voluntários Russos, que participaram de uma incursão em Belgorodo na semana passada com armas ocidentais.

Não há relatos independentes para validar ou não os detalhes fornecidos pelos russos, mas se confirmados, indicam uma escalada considerável por parte dos ucranianos. A alternativa conspiratória, de que Moscou infla a situação para tomar medidas mais drásticas, até aqui não passou disso.

O governo russo chamou os atos de ações terroristas, e que ao menos 30 inimigos foram mortos, quatro veículos de combate blindados e um lançador de foguetes Grad, destruídos. A denominação visa evitar chamar o incidente de ato de guerra, dado que o presidente Vladimir Putin insiste em classificar a guerra que iniciou em 24 de fevereiro do ano passado de “operação militar especial”.

Isso obedece a uma lógica surrada a essa altura, de tentar minimizar o impacto do conflito entre os russos, particularmente as classes médias e altas de centros urbanos grandes. Se chamar a guerra de guerra, isso implica decretos de mobilização nacional que Putin tem evitado -até aqui, fez apenas uma convocação de 300 mil reservistas, no fim do ano passado.

Como a crescente violência em Belgorodo, os ataques com drones em Moscou e a alvos como refinarias mostram, contudo, a validade da retórica está vencida.

As tentativas de invasão ocorreram em dois pontos de fronteira, em Novaia Tavolzanka e no bloqueio rodoviário internacional de Chebekino. Imagens em redes sociais mostraram o prédio da administração desta última cidade em chamas na manhã desta quinta (madrugada no Brasil), indicando que os bombardeios foram mesmo intensos.

Na quarta (31), os Estados Unidos chegaram a advertir o governo de Volodimir Zelenski a não atacar alvos em solo russo, pelo temor de uma escalada que envolva os fornecedores das armas ucranianas –Washington e seus parceiros ocidentais. Ao mesmo tempo, no que foi denunciado como hipocrisia por políticos em Moscou, anunciou mais um pacote de ajuda militar, agora de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão).

Há um problema político adicional, dado que os grupos que assumem as ações e usam armas ocidentais são, como no caso do Corpo de Voluntários Russo, abertamente neonazistas, dando gás para a usual acusação do Kremlin acerca de seus rivais.

Como não parece exatamente crível que a Ucrânia deseje anexar Belgorodo, os ataques servem basicamente como diversionismo, visando atrair a atenção russa para uma situação cada vez mais complexa na região.

O motivo é a contraofensiva prometida por Kiev para esta primavera no Hemisfério Norte, que em breve já será uma ação de verão dado o atraso nos preparativos. Analistas debatem se Zelenski busca um momento ideal para agir ou se o entrincheiramento russo ao longo dos quase 1.500 km de frente de batalha está dificultando seus planos.

Inicialmente, a especulação principal era de que Kiev buscaria algum ataque na região de Kherson, ao sul, visando cortar a ponte terrestre estabelecida por Moscou entre seu território, as áreas russas étnicas do Donbass (leste) e a Crimeia, anexada em 2014 após a queda de um governo pró-Kremlin na Ucrânia.

Tal plano enfrentaria problemas logísticos, dado que há uma barreira natural também estabelecida na região, o rio Dnipro, que a corta de leste a oeste, vindo do norte. As Forças Armadas ucranianas vêm gritando lobo há semanas, como no vídeo de seu comandante divulgado no domingo (28) em que o general Valeri Zalujni diz que “chegou a hora de retomar o que é nosso”.

Esta semana tem sido marcada por ações mais espetaculosas, como o ataque com qualquer coisa entre 8 (número oficial russo) e 30 (conta da mídia local) drones contra Moscou, particularmente os subúrbios chiques do oeste da capital, onde aliás fica a principal residência de Putin.

A essas ações simbólicas foram adicionados ataques com drones a refinarias no sul russo, alvos de maior importância. As defesas aéreas russas são consideradas das melhores do mundo, mas são mais ineficazes contra drones em áreas saturadas de sinal de GPS, como centros urbanos, dado o tamanho diminuto dos alvos.

Com as incursões e a transformação de Chebekino, uma cidade de resto desimportante do ponto de vista político com 40 mil habitantes, em um alvo constante a ser usado em redes sociais como exemplo da fragilidade russa, resta saber se o diversionismo de Kiev se dá como tática militar ou por falta de opções. Os próximos dias deverão trazer a resposta.

Enquanto isso, na Ucrânia em si os ataques russos continuam. Kiev tem sido particularmente alvejada nos últimos dias, e nesta quinta ao menos três pessoas morreram, inclusive uma criança, devido a ataques com mísseis balísticos Iskander -os dez projeteis teriam sido derrubados, mas seus destroços atingiram edifícios.

IGOR GIELOW / Folhapress

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