Rússia diz que expulsou forças ucranianas da fronteira após ataque

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Defesa da Rússia afirmou nesta terça-feira (23) que as supostas forças da Ucrânia responsáveis por ataques na fronteira entre os dois países foram expulsas do território russo. Segundo a pasta, mais de 70 agressores foram mortos, e quatro veículos blindados, destruídos.

A região fronteiriça amanheceu em seu segundo dia de combates, considerado o maior ataque ao território russo desde o início da guerra. Civis chegaram a ser retirados de nove locais, segundo o governador de Belgorodo, Viatcheslav Gladkov. A incursão teria deixado ainda ao menos oito feridos.

Moscou afirma que, para expulsar os invasores, suas forças cercaram os combatentes e responderam com ataques aéreos e fogo de artilharia. “Os nacionalistas foram empurrados de volta para o território ucraniano, onde continuaram a ser atingidos por tiros até serem completamente eliminados”, disse a Defesa. A agência estatal de notícias Tass chamou os invasores de terroristas, a quem os militares russos teriam “esmagado”.

A situação levou a Rússia a decretar um “regime antiterrorista”, que dá às autoridades poder para limitar a circulação de pessoas e suspender serviços de telefonia móvel e internet. A medida, porém, foi suspensa nesta terça-feira após o anúncio da expulsão dos agressores.

O episódio deu início a mais uma guerra de versões do conflito —autoridades da Rússia afirmam que ucranianos cruzaram a fronteira e se infiltraram na cidade de Graivoron, enquanto a Ucrânia diz que os atos são de responsabilidade de grupos armados locais que se opõem ao Kremlin. Algumas das declarações de Kiev, porém, parecem ironizar os típicos comunicados russos que negam a participação de Moscou em movimentos separatistas ucranianos.

Kiev “não tem nada a ver com isso”, afirmou o conselheiro presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak no Twitter. “Como sabem, os tanques são vendidos em qualquer loja militar russa, e os grupos guerrilheiros clandestinos são compostos por cidadãos russos.”

Os dois grupos que reivindicaram a autoria dos ataques têm como objetivo derrubar o presidente russo, Vladimir Putin. Um deles, o Corpo Voluntário Russo, foi fundado por um cidadão russo de ultradireita em agosto passado e é composto por pessoas que lutam pela Ucrânia contra seu próprio país. O outro, criado na mesma época, é o Legião da Liberdade da Rússia, que diz operar sob o comando de Kiev.

“Bom dia a todos, exceto aos capangas de Putin. Chegamos no território ao amanhecer e estamos avançando”, disse a Legião no Telegram. “Mais uma vez, o mito de que os cidadãos russos estão seguros e de que a Rússia é forte foi destruído”, afirmou. O Corpo Voluntário Russo também se pronunciou: “Um dia viremos para ficar.”

Mark Galeotti, chefe da consultoria Mayak Intelligence, com sede em Londres, disse à agência de notícias Reuters que os grupos militantes têm diferentes perspectivas políticas, mas estão unidos pelo desejo de ver a queda de Putin. “Ao mesmo tempo, temos que perceber que essas não são forças independentes. Elas são controladas pela inteligência militar ucraniana, dependem dos ucranianos para armas e apoio.”

O ataque parece ter sido usado como mais uma justificativa do Kremlin para continuar a agressão contra o país vizinho. Há três dias, a suposta captura da cidade de Bakhmut pela Rússia também foi negada por Kiev, que enfrentou nessa cidade a mais sangrenta batalha terrestre da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Essa seria a primeira grande vitória de Moscou em dez meses.

O conflito está mais tenso nos últimos meses com a expectativa de uma contraofensiva ucraniana após meses de preparação com armas e treinamento do Ocidente.

Na cúpula do G7, durante o fim de semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manifestou apoio ao plano de criar um esforço internacional para treinar pilotos ucranianos em caças avançados, incluindo jatos F-16 —aeronave de combate que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pede a seus aliados.

“Vamos acelerar agora que temos luz verde”, disse nesta terça a ministra da Defesa holandesa, Kajsa Ollongren, nos bastidores de uma reunião da União Europeia em Bruxelas. Ela disse que o treinamento foi um esforço coordenado de Bélgica, Dinamarca, Reino Unido, Holanda e outros aliados, e que mais países poderiam participar. A Alemanha diz ainda estar analisando suas possibilidades de apoiar a coalizão. “Não será significativo, pois simplesmente não temos caças F-16 próprios e é improvável que possamos ajudar muito no treinamento de pilotos”, disse o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius.

Uma das preocupações dos EUA é que os caças sejam usados para atingir alvos em territórios da Rússia, escalando a guerra. Nesta terça-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, demonstrou a preocupação da aliança no assunto ao afirmar que “treinar pilotos ucranianos em caças F-16 construídos nos EUA não faz da Otan uma parte no conflito”.

O ex-presidente russo Dmitri Medvedev disse que, quanto mais destrutivas forem as armas que a Ucrânia recebe de seus aliados ocidentais, maior o risco de “apocalipse nuclear”, informou a agência de notícias estatal RIA. Ele teria afirmado ainda que a negação de Kiev no envolvimento em uma incursão armada na região de fronteira russa era mentira.

Ainda nesta terça, a Procuradoria-Geral da Ucrânia afirmou que será investigado o papel da Belarus nas transferências forçadas de crianças durante a guerra —desdobramento do relatório de um grupo de opositores do ditador Aleksandr Lukachenko.

O documento sustenta que 2.150 crianças ucranianas, incluindo órfãos de seis a 15 anos, foram levadas para campos e sanatórios belarussos, o que implicaria o regime no suposto crime de guerra cometido durante o conflito na Ucrânia.

Kiev alega que aproximadamente 20 mil crianças foram transferidas ilegalmente para a Rússia desde o início da guerra e que algumas teriam sido colocadas para adoção. Tal acusação levou o Tribunal Penal Internacional (TPI), baseado em Haia, a emitir um mandado de prisão contra Putin em março deste ano.

Se o envolvimento for comprovado, a Belarus estaria, “muito provavelmente”, violando a Convenção sobre os Direitos da Criança, disse à Reuters Yulia Ioffe, professora assistente da University College London. O gabinete de Lukachenko não respondeu imediatamente às perguntas da agência.

Redação / Folhapress

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