SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diplomatas aproveitaram a presença do chanceler russo, Serguei Lavrov, em um encontro do Conselho de Segurança na sede da ONU, em Nova York, nesta segunda-feira (24) para atacar o país pela invasão da Ucrânia –a nação do diplomata assumiu neste mês a presidência do comitê, o mais poderoso do organismo multilateral.
Entre os que criticaram abertamente as ações do Kremlin estava o secretário-geral da ONU, António Guterres. Sentado ao lado de Lavrov, ele ressaltou que Moscou violou a carta fundadora da ONU ao tomar o território de Kiev. E, em uma menção mais direta, disse que sobretudo os membros permanentes do Conselho de Segurança –caso da Rússia– tinham o dever de “fazer o multilateralismo funcionar, em vez de contribuir para o seu desmantelamento”.
“Tensões entre as grandes potências alcançaram um nível histórico. O mesmo se dá com riscos de um conflito, seja por infortúnio ou erro de cálculo”, disse o português, que chegou a viajar a Moscou dois meses após o início da Guerra da Ucrânia em busca de uma resolução pacífica para os enfrentamentos, sem sucesso.
Lavrov, por sua vez, não se desvencilhou do tom inflamado da retórica do secretário-geral e afirmou que o mundo chegou “a um limite perigoso, tão ou mais” do que aquele da Guerra Fria. Creditou, no entanto, a escalada das tensões à perda de confiança no multilateralismo –leia-se a própria ONU. “Vamos chamar as coisas pelo nome. Ninguém permitiu que uma minoria do Ocidente falasse em nome de toda a humanidade”, disse.
Além de Guterres, representantes dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Suíça também usaram seus discursos para condenar a Rússia. A fala mais dura talvez tenha sido a da americana Linda Thomas-Greenfield, que se referiu ao chanceler russo como “nosso hipócrita anfitrião [do encontro]”. “Enquanto sentamos aqui, estamos nos preparando para o próximo [massacre de] Butcha, o próximo [cerco a] Mariupol, o próximo Kherson, o próximo crime de guerra, a próxima atrocidade”, disse.
A embaixadora dos EUA na ONU acusou Moscou de violar a lei internacional ao deter americanos injustamente, e pediu a libertação de Evan Gershkovitch, repórter do Wall Street Journal preso pelo governo de Vladimir Putin em março, acusado de espionagem. Os EUA negaram no início da semana vistos a jornalistas russos que deveriam acompanhar Lavrov a Nova York.
Thomas-Greenfield ainda citou Paul Whelan, ex-fuzileiro naval detido em 2018 e preso em 2020, também por suspeita de espionagem –ele afirma que estava na Rússia para um casamento quando foi surpreendido pelas autoridades. A irmã do ex-oficial, Elizabeth Whelan, esteve presente no encontro do Conselho de Segurança nesta segunda como observadora.
Diplomatas russos têm sido excluídos de uma série de eventos internacionais desde a eclosão da Guerra da Ucrânia –que o governo, mais de um ano após o início do conflito, ainda insiste em chamar de “operação militar especial”.
A liderança do Conselho de Segurança não depende, no entanto, de conjunturas geopolíticas, e é alternada entre os seus 15 membros (cinco permanentes, dez temporários, eleitos pela Assembleia Geral a cada dois anos) por ordem alfabética.
A Rússia assumiu a presidência do órgão em 1º de abril, levando vários diplomatas a afirmarem que o evento tinha sido uma piada da data, conhecida como Dia da Mentira. A última vez que o país havia presidido o comitê foi em fevereiro de 2022, quando lançou suas tropas em direção à Ucrânia.
Redação / Folhapress