‘Se eu não tirasse a mão, ele ia me machucar mais’, diz vítima de Brennand

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A mulher norte-americana que acusa Thiago Brennand de estupro afirmou que o empresário a deixou machucada após o abuso sexual. O UOL teve acesso a trechos do depoimento na 2ª Vara de Porto Feliz, no interior de São Paulo. À Justiça, ela disse ainda que o empresário obrigava uma funcionária a depilar a região dos órgãos genitais dele e que Brennand tinha uma relação abusiva com o filho.

A norte-americana foi ouvida na condição de vítima durante a audiência de instrução e julgamento do caso, na terça-feira (30). “A gente saía junto há um mês, mas nunca quis nada sério com ele porque os apetites sexuais [dele] eram diferentes do que eu concordava”, disse.

Segundo a mulher estrangeira, após o estupro, ela teve um sangramento que deixou o lençol manchado. Brennand teria avisado que não queria que sujasse a roupa de cama.

Ela afirmou que tentou impedir a violência sexual, colocou a mão em frente do corpo para se proteger e que, depois, não conseguiu reagir. “Achei que ia reagir, lutar, mas meu corpo, não consegui mexer, fiquei parada.”

O crime de estupro está previsto no artigo 213 do Código Penal Brasileiro — segundo a legislação, é estupro “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.

Audiência interrompida

A defesa de Brennand afirmou que os trechos gravados do depoimento não refletem o que ocorreu na audiência de instrução e julgamento. A acusação não se pronunciou. O caso está sob segredo de Justiça.

Na audiência, foram ouvidos um homem que cuidava dos cavalos na fazenda de Brennand, em Porto Feliz, o treinador de jiu-jitsu do filho do empresário e uma amiga da namorada do jovem. O julgamento foi interrompido após o depoimento da vítima e das três testemunhas e será retomado em 21 de junho.

É o primeiro julgamento de Brennand — e ocorre por videoconferência. O empresário está preso no CDP de Pinheiros, zona oeste da capital paulista. Ele é réu em nove processos que tramitam no TJ-SP e teve seis ordens de prisão preventiva decretadas. Ganhou notoriedade no ano passado, depois de agredir e perseguir frequentadoras de uma academia de luxo em São Paulo.

Empresário

Quando conheceu o empresário, a mulher norte-americana vivia um processo de separação, de acordo com o depoimento. Ela relatou que Brennand chegou a incentivar o término da relação.

Em outro momento, ela afirmou que Brennand chegou a propor uma relação sexual envolvendo os dois e uma terceira pessoa. “Eu disse que não estava confortável com isso, que nunca tinha feito isso na vida. Ele falava que se era para dar prazer para ele, eu tinha que fazer.”

De acordo com ela, após as relações sexuais, Brennand não queria ser tocado. “Ele disse que eu não podia tocar nele até ele voltar para o corpo dele porque ele poderia me machucar, empurrar e bater.”

Agressividade

A mulher afirmou que Brennand a ameaçou de morte durante uma briga e disse que poderia jogar o corpo dela na rodoviária. Ela também relatou que ele “sempre tirava a arma” e a “colocava em cima de tudo”.

O comportamento agressivo, conforme o depoimento, também se repetia com o filho dele e os funcionários da propriedade. Em relação ao filho, a mulher diz que o empresário “diminuía” o jovem.

Ela afirmou que uma funcionária era obrigada a depilar a região dos órgãos genitais do empresário. Disse ainda que Brennand chegou a chamar uma funcionária de “macaquinha” — não foi possível identificar se era a mesma pessoa.

Modo de agir de Brennand

O relato da vítima norte-americana durante a audiência de instrução e julgamento aponta que o modo de agir do empresário em relação às mulheres com quem se relacionava se repete.

Brennand mantinha conversas por meio do WhatsApp. Depois, marcava encontros presenciais, normalmente jantares, e as convidava para conhecer a fazenda dele em Porto Feliz — onde cometia o abuso sexual.

A mulher contou que Brennand chegou a dizer que “não estava gostando” de vê-la com o celular. O controle sobre o aparelho se repetiu no caso da mulher que disse ter sido tatuada com as iniciais do empresário — ela relatou que ele tomou o telefone, a agrediu e a obrigou a digitar o código de bloqueio.

A norte-americana afirmou ainda que era chamada de “puta” de forma recorrente pelo empresário. Áudios e mensagens de textos atribuídos a Brennand, aos quais o UOL teve acesso, mostram que ofensas e xingamentos eram comumente usados por ele quando se dirigia a outras mulheres.

FÁBIOLA PEREZ / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS