SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vinte famílias da FLM (Frente de Luta por Moradia) ocupam desde a noite de sexta (12) uma casa em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo.
Segundo Cintia Oliveira, uma das porta-vozes do movimento, o imóvel, localizado na rua Pernambuco, está vazio há pelo menos cinco anos. Cerca de 55 pessoas agora ocupam o local, ela diz.
Segundo relatos de integrantes do grupo, horas após a entrada das famílias, a Polícia Militar tentou retirá-las do imóvel alegando que se trata de uma propriedade da União. Questionada, a Prefeitura de São Paulo confirmou que o imóvel pertence à União, mas não deu mais detalhes.
De acordo com Cintia, os PMs quebraram o cadeado com um alicate e tentaram forçar a porta durante a ação. “Eu negociei com os policiais de me levarem para delegacia”, acrescentou ela, que foi levada pelos PMs e acabou assinando a ocorrência.
Questionada, a PM respondeu apenas que os policiais foram acionados para uma ocorrência de invasão de propriedade.
“No local, duas mulheres se apresentaram como representantes de um movimento de luta por moradia e foram encaminhadas à Delegacia da Polícia Federal, pois o imóvel seria de interesse da União”, afirmou a tenente coronel Rosemeire Vitonto, do 7° Batalhão da Polícia Militar, em nota.
O imóvel apresenta sinais de abandono. De acordo com a FLM, o grupo encontrou mato alto, ratos e baratas ao limpar o espaço.
“Passamos o domingo inteiro limpando a entrada principal, que estava suja e cheia de bicho. Todos participaram do mutirão”, disse Marcondes Ricardo, 39, integrante do movimento.
A baiana Najlla Barbosa Reis, 30, conta que já morou em outras ocupações. Segundo ela, a rotina é marcada pela preocupação de quanto tempo poderão permanecer em cada local.
“A gente está sempre se mudando. O máximo que fiquei em um lugar foi um ano”, afirmou.
Uma bandeira com a sigla do movimento foi estendida na fachada da casa. Um segurança particular da rua, que preferiu não se identificar, disse ter notado que a vizinhança não aprovou a chegada do grupo.
Há moradores, contudo, que a apoiam a presença do movimento no bairro. É o caso da dramaturga Maria Adelaide Amaral, 80.
“Desde que o último proprietário saiu, há sete ou oito anos, ela [a casa] ficou abandonada. A casa está vazia e não fazem nada com ela. Eu acho bom que ela tenha uma utilidade social. É uma coisa absurda”, afirmou à reportagem.
Amaral, contudo, lembrou que é importante verificar as condições do imóvel. “Sempre digo que essa casa pode cair.”
PEDRO MADEIRA / Folhapress