Titane, de Julia Ducournau, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, é uma das atrações da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Também é um dos 89 filmes dirigidos por mulheres que fazem parte da programação. Mas ainda estamos longe da paridade – no total, a Mostra exibe mais de 260 títulos.
É justamente para discutir a situação das mulheres no setor que ocorre o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, que hoje, às 15h, no canal de YouTube da Mostra, reúne Sabrina Farji, representante de La Mujer y el Cine (Argentina), Theresa Solis, de Mujeres en el Cine y la Televisión (México), Cristina Andreu, do Cima – Asociación de Mujeres Cineastas y de Medios Audiovisuales (Espanha), Tata Amaral, do projeto +Mulheres (Brasil), e Camila Rodó Carvalho, do Nosotras Audiovisuales (Chile).
A mesa discute a pesquisa Mulheres na Indústria Audiovisual – Um Panorama de Argentina, Brasil, México, Uruguai e Espanha, que foi feita por Débora Ivanov, Luciana Vieira, Aleteia Selonk e Marcia Candido.
O cenário que elas encontraram foi, primeiro, de escassez de dados. Isso é um problema, porque as políticas públicas sempre começam com levantamento de informações. “Sem elas, fica difícil pleitear mudanças”, disse Débora. Os números não são muito animadores. Nas posições criativas principais, a presença de mulheres ainda é muito aquém de sua participação na população. No Brasil, 22% das obras eram escritas por mulheres, 22% dirigidas e 43% produzidas por elas.
As mulheres não estão ausentes dos principais cargos criativos por falta de formação. Pelo contrário. No Brasil, elas são 53% dos estudantes que concluem cursos de cinema e audiovisual. Mas ficam pelo caminho por falta de oportunidade. Quando conseguem escrever ou dirigir uma obra, em geral é um curta ou documentário, que costumam ter orçamentos mais modestos.
Por consequência, na frente das câmeras, a situação não é boa. Entre 1995 e 2015, de 23% a 35% dos personagens eram femininos no Brasil. “É no roteiro e na direção que se constroem as narrativas que vão influenciar o imaginário de toda a sociedade”, afirmou Débora. “E se nós somos 51% da população, ou seja, mercado consumidor, por que não haver mais equilíbrio dessas narrativas?” Fora isso, são comuns os papéis femininos estereotipados, hipersexualizados, infantilizados.
Débora Ivanov vê um começo de mudança nas empresas, especialmente as gigantes globais de produção de entretenimento. A Netflix, por exemplo, comprometeu-se com medidas de inclusão. Hoje, 47% dos profissionais da empresa são do gênero feminino.
As políticas públicas também são fundamentais, claro. Na França, foram implementados indutores, que são como prêmios para as produções que tiverem mais diversidade em suas equipes.
No Brasil, houve um ensaio no sentido de uma busca da paridade, mas atualmente os editais estão paralisados em âmbito federal. Na cidade de São Paulo, a Spcine assumiu uma política mais inclusiva. “É urgente a mudança, porque o resultado só vem daqui a alguns anos”, concluiu Débora Ivanov.
Agência Estado