– Aguardar a redução para menos de 10 novo casos/dia por 100 mil habitantes (já incluindo a estimativa de assintomáticos). Em 22 de setembro esse porcentual era de 25,1, com algum nível de testagem que dimensione minimamente os assintomáticos; ou testagem em massa antes da reabertura e semanalmente, depois da reabertura, de toda a rede escolar, realizando pooling de amostras de saliva, com rastreamento de casos e isolamento com suporte; ou reabertura das escolas quando toda a população escolar estiver vacinada.
Os pesquisadores lembram que o Harvard Global Health Institute cita quatro fases para gerenciamento e ações em resposta à pandemia da covid-19: Fase Verde: < 1 novo caso/dia por 100 mil habitantes; Fase Amarela: 1<10 novos casos/dia por 100 mil habitantes; Fase Laranja: 10<25 novos casos/dia por 100 mil habitantes; e Fase Vermelha: >25 novos casos/dia/100 mil habitantes, mas que o Plano São Paulo, elaborado pelo governo do Estado, utilizou esses mesmos nomes com definições e implicações muito distintas. “Isso cria um conflito de acepções para os mesmos termos, com equívoco de compreensão do público sobre o significado dessas fases e sobre a segurança epidemiológica correspondente no contexto da pandemia da covid-19 no Estado de São Paulo”, alertam.
Nas recomendações, enfatizam que a análise da situação de uma cidade pelo Plano SP pode resultar em uma classificação de Fase Amarela por haver melhora em relação à semana precedente, ainda que estritamente a cidade possa ter indicadores piores, por exemplo, que os da Fase Vermelha da mesma cidade em meses anteriores. “Isso é logicamente inconsistente e grave do ponto de vista epidemiológico.”
Ao avaliar os parâmetros utilizados pelo Plano São Paulo, apontam que os pesos atribuídos geram um modelo preditivo muito ruim do estado da pandemia. “Eles basicamente dimensionam a capacidade de internação e resposta clínica (e mensuração de letalidade) à covid-19, irrespectivamente da gravidade de disseminação do vírus na sociedade.”
Já nas recomendações do grupo, para avaliar a segurança para a reabertura da rede escolar municipal de Ribeirão Preto e sugerir qual são as pré-condições para uma reabertura segura da rede escolar, são considerados os seguinte parâmetros: Novos casos oficiais/dia/100.000 habitantes; Novos óbitos/dia; Imunidade populacional; Curvas de ocupação hospitalar; Taxa de transmissão do vírus (Rt); Testes.
Reabertura das escolas pelo mundo
Os pesquisadores ainda exemplificam que a reabertura de escolas em vários países, sem medidas reais de combate à pandemia, fez com que em quase todos tivesse que ser revertida em nível nacional ou regional, com um grande número de pessoas infectadas. “Talvez o único caso bem-sucedido a ser listado é o da Nova Zelândia. Não por acaso, talvez seja o único país em que se aplicou estritamente o protocolo TRIS (Teste, Rastreamento e Isolamento com Suporte). O exemplo da Nova Zelândia mostra que a reabertura da rede escolar não pode ser vista como um evento separado do combate eficaz à pandemia como um todo através de um plano consistente. A abertura das redes escolares não pode ser feita como algo separado de um plano ou sem um plano geral. Ela é parte e consequência desse plano”, avaliam.
Ainda sobre as recomendações, o grupo cita o artigo Reopening Primary Schools during the Pandemic, publicado no New England Journal of Medicine, que traz a importância do ambiente escolar para o desenvolvimento não apenas acadêmico, mas também físico e socioemocional e se referindo às escolas como atividade essencial. “Não há contestação aqui dessa perspectiva, mas eles consideram condições de transmissão moderada, quando menos de 10 novos casos por dia a cada 100 mil habitantes, em países que efetivamente testam sua população — como o valor máximo aceitável para abrir a rede escolar.
Sobre isso, alertam que o volume de testes para Ribeirão Preto é pífio, de 8,1% da população da cidade no dia 22 de setembro. Já quanto à positividade dos testes o ideal é que esteja em torno de 5%, com a busca de casos assintomáticos, mas em Ribeirão Preto a positividade acumulada é de 44,2%. “E por protocolo, a cidade não faz rastreamento a partir dos que testam positivo e não identifica os positivos assintomáticos e sintomáticos leves na população, que continua circulando livremente. Isso significa que o volume real de vírus circulando na cidade é muito superior ao que é medido através dos testes dos casos sintomáticos mais graves.” Já a média móvel para sete dias em 22 de setembro foi de 178,7 novos casos/dia, o que corresponde a mais de 25,1 novos casos/dia por 100 mil habitantes, apenas com os resultados de sintomáticos testados.
E concluem, “o Plano SP foi construído com critérios que utilizam dados ligados à oferta de leitos para pacientes de UTI e indicadores comparados com os dados da semana anterior—ao invés de utilizar números absolutos que indiquem propriamente o estado da pandemia na cidade. Não há, de fato, avaliação da situação da pandemia para classificar cidades e regiões”. Portanto, uma cidade em uma fase “melhor” pode estar em um patamar profundamente mais grave do que a cidade que estava uma fase “pior”. Isso leva a medidas administrativas que agravam ainda mais a epidemia.
Os números oficiais mostram que Ribeirão Preto está em um patamar elevado de transmissão comunitária por um número grande se semanas consecutivas, o que explica a mortalidade excepcionalmente alta na cidade. Isso foi demonstrado no porcentual da população que apresenta anticorpos, a pior cidade no Estado de São Paulo, com um valor que é o dobro da média nacional, em um estudo financiado pela Fapesp divulgado em 17 de setembro. “Esse não é um cenário que permita a simples reabertura da rede escolar, a despeito de quaisquer protocolos de distanciamento no funcionamento das escolas quando abertas. Apenas a testagem é capaz de detectar em tempo crianças e profissionais com transmissibilidade na rede escolar, evitando que haja uma enorme disseminação que afete as crianças, mas também os profissionais e os familiares das crianças, aumentando a taxa de óbitos na cidade.”
O documento é assinado pelos professores Dalton de Souza Amorim, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP), e Domingos Alves, do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina (FMRP), ambos da USP em Ribeirão Preto, e ainda pela doutora Adriana Santos Moreno, pesquisadora da área de Alergia e Imunologia Clínica e professora do programa de pós-graduação da FMRP, e foi aprovado pelo Comitê Intersetorial da Secretaria Municipal de Educação.
Leia aqui o documento na íntegra.