SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quase três meses após ser eleito presidente do país mais populoso da África, Bola Tinubu, 71, tomou posse na Nigéria nesta segunda-feira (29) com uma pilha de desafios que vão do preço do combustível aos planos para fazer com que o “boom” populacional nigeriano coincida com desenvolvimento local.
Os olhos se voltam para o ex-governador de Lagos –espécie de capital econômica nigeriana– apelidado de “padrinho” devido a seu papel nos bastidores para eleger correligionários em especial a projeções que mostram que a Nigéria deve ser, ao final deste século, o terceiro país mais populoso do mundo, atrás de Índia e China.
Tinubu prestou juramento na Praça da Águia, na capital Abuja, e já ali anunciou sua primeira promessa como presidente –com potencial de gerar insatisfação popular. “O subsídio para o combustível acabou”, anunciou ele. “Devemos canalizar recursos do Orçamento para infraestrutura, educação, saúde e empregos.”
Se colocada em prática, a medida atende à demanda de governadores segundo os quais suas administrações já estavam incapazes de pagar o funcionalismo público ao mesmo tempo em que arcavam com o subsídio da gasolina. Mas há, também, a dúvida do potencial do Estado para assegurar que a medida não se desdobre na alta do preço para uma população em grande parte empobrecida.
Dados do governo compilados pela consultoria de dados africana Stears mostram que, de 2015 até aqui, o preço do subsídio já ultrapassou 12 trilhões de nairas (R$ 12 bilhões) aos cofres públicos.
Tinubu não mencionou, mas certamente entrou na conta de sua proposta a gigante refinaria inaugurada no país na última semana sob a alçada de Aliko Dangote, um dos homens mais ricos do continente.
O empreendimento de US$ 20 bilhões promete produzir até 53 milhões de litros de gasolina por dia, o que seria fundamental para o país. Ainda que seja o maior produtor de combustível da África, no ano passado a Nigéria gastou US$ 23 bilhões com importações desse setor já que não tem capacidade para refiná-lo.
“O projeto pode ser economicamente transformador para a Nigéria”, disse a revista The Continent, referência na cobertura do continente.
Ainda na seara econômica, Tinubu disse querer aumentar o investimento estrangeiro. Números compilados também pela Stears mostram que em 2022 apenas US$ 3 bilhões foram investidos no país, uma das cifras mais baixas dos últimos 15 anos, ao lado apenas de 2016, com o mesmo valor.
O novo líder nigeriano também herda a grave crise de segurança que vive o país e é formada por um complexo quebra-cabeça de terrorismo com grupos fundamentalistas ao norte, separatismo ao sul e tensões entre fazendeiros no centro do território.
Para essa parte, porém, repetiu sugestões que vinha ventilando na campanha e que, para analistas locais, representam nada mais do que medidas que já se mostraram ineficazes: reforçar serviços de segurança com mais pessoal, treinamento, equipamento e melhores salários.
Outra parte dos desafios do novo presidente mora na legitimidade: fruto do sistema eleitoral local, Tinubo foi eleito com o voto de apenas 36% da população nigeriana, cifra mais baixa para um eleito desde que teve início a quarta República, em 1999, pós-ditadura militar.
No sistema local, afinal, um candidato não precisa ter maioria em todos os estados para vencer, mas sim deve necessariamente obter mais de 25% dos votos em ao menos 24 dos 36 estados, feito alcançado por Tinubu, do governista Congresso dos Progressistas.
Ele terá, assim, a missão de cativar a fatia dos outros 64% de eleitores que não o queriam neste lugar. E a tarefa se torna mais complicada se levado em conta que os candidatos opositores estão questionando na Justiça a legitimidade da vitória de Bola Tinubu no pleito.
Quatro dias após as eleições, segundo e terceiro colocados, Atiku Abubakar e Peter Obi, respectivamente, alegaram ter ganhado o pleito, acusando em especial demora no resultado da votação, que poderia ter sido causada por fraude –o país estava implementando um novo sistema eletrônico para confirmação da identidade dos eleitores.
O questionamento ainda corre nos tribunais, mas os adversários do agora presidente nigeriano seguem se manifestando, em parte porque sabem o potencial que suas acusações têm para causar agitação social.
Nesta segunda-feira, no Twitter, Peter Obi, candidato de uma inédita terceira via pelo Partido Trabalhista que liderou um movimento apelidado de “obdiente”, cobrou o Judiciário do país por respostas, mas pediu que seus apoiadores sigam um movimento pacífico.
“Esperamos que o Judiciário reafirme sua independência e integridade. Os nigerianos devem, portanto, permanecer pacíficos e cumpridores da lei. Não importa a profundidade das reservas de ninguém sobre o que está acontecendo na política hoje.”
Redação / Folhapress