O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (19) que talvez Vladimir Putin não queira fazer um acordo para acabar com Guerra da Ucrânia, embora ele acredite no contrário. A declaração foi dada em uma entrevista à Fox News, um dia após seu encontro com o presidente ucraniano Volodimir Zelensky e outros líderes europeus.
“Eu não acho que será um problema, para ser honesto, eu acho que Putin está cansado [da guerra]. Eu acho que todos estão cansados, mas você nunca sabe. Vamos descobrir sobre o presidente Putin nas próximas duas semanas. É possível que ele não queira um acordo”, afirmou.
Um dos principais pontos destacados por Trump após a reunião com os europeus foi o encontro trilateral entre os presidentes ucraniano e russo. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, reafirmou que Putin aceitou encontrar-se com o rival, mas há diversas dúvidas acerca de como e quando isso ocorrerá. O chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou que esse tipo de reunião demanda longo preparo.
Trump não detalhou, mas disse novamente que Putin enfrentará “uma situação difícil” se optar pela guerra. Anteriormente, ele havia ameaçado impor sanções secundárias a países que compram petróleo e derivados russos, como China e Brasil. Em relação a Zelensky, Trump disse acreditar que ele “fará o que for preciso” para encerrar o conflito.
O impasse sobre um possível acordo para encerrar o maior conflito em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial se agrava diante de uma série de dúvidas práticas. Entre elas, destacam-se a definição das garantias de segurança para Kiev, o tamanho da perda territorial que a Ucrânia teria de aceitar e o local da cúpula proposta por Trump.
Em nome da comitiva que esteve em Washington, o premiê britânico, Keir Starmer, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o premiê alemão, Friedrich Merz, conversaram virtualmente nesta terça (19) com representantes de todos os países da União Europeia, em encontro do Conselho Europeu. Em Helsinque, chanceleres nórdicos demonstraram cautela com o ritmo imposto por Trump. “Não há decisões até aqui sobre o cronograma geral ou as contribuições individuais”, disse a ministra finlandesa Elina Valtonen. A sueca Maria Malmer Stenergard afirmou que seu país quer colaborar, mas ainda não sabe como.
As garantias de segurança têm como objetivo impedir uma nova invasão russa após a paz. Kiev, assim como França e Reino Unido, defende uma força de paz europeia em solo ucraniano, proposta rejeitada por Kremlin. Em sua conversa com Putin, Trump ouviu que o russo aceitaria um mecanismo semelhante ao da Otan, no qual qualquer 1 dos 32 membros da aliança militar que for atacado será defendido por todos.
A ideia foi inicialmente sugerida pela premiê italiana Giorgia Meloni. Na segunda (18), de maneira vaga, o republicano disse que os EUA apoiariam a criação de uma “primeira linha de defesa da Ucrânia”, conduzida por países europeus. No dia seguinte, ele afirmou que os europeus “estão dispostos a colocar gente em solo” e que os EUA ajudariam com apoio aéreo. Trump também declarou que os EUA coordenarão a discussão sobre as garantias, tema que será abordado por chefes militares da Otan nesta quarta (20). Na véspera, o Kremlin reiterou que não aceitará tropas da Otan em território ucraniano.
Nesta terça (19) a chancelaria em Kiev anunciou que “já está trabalhando” na proposta de garantias, sem revelar detalhes. Também hoje, o chanceler Lavrov reiterou que a paz só será alcançada com perdas para a Ucrânia.
Hoje os russos ocupam quase 20% do vizinho, contando aí os 4,5% que já dominavam da península da Crimeia, anexada em 2014. Segundo Trump, Putin ofereceu congelar as linhas de batalha nas duas regiões ao sul nas quais tem 70% do controle em troca de ficar com a totalidade de Donetsk (leste), onde também tem 70% de domínio.
Em troca, sairia dos bolsões que ocupa em Sumi e Kharkiv, no norte. Na prática, devolveria 440 km2 e ganharia 6.600 km2, o que por óbvio não agrada Zelenski. Na segunda, o ucraniano insistiu que questões territoriais só seriam discutidas frente a frente com Putin.
Entre os temas ainda indefinidos está o local da cúpula entre os três presidentes. Genebra, sugerida por Macron, foi descartada pelos russos por não considerarem a Suíça neutra após sediar uma conferência de paz sem Moscou. Fontes do governo americano sugeriram a Hungria, mas o país é visto com desconfiança por líderes ocidentais devido à proximidade do premiê Viktor Orbán com Putin. Já a France Presse noticiou que o russo propôs Moscou, rejeitada tanto por Zelensky quanto por Trump, segundo o New York Times. O Politico informou que Putin prefere encontrar-se com o rival sozinho. A Casa Branca, por sua vez, confirmou apenas que os preparativos para a reunião estão em curso, sem citar o republicano.
Enquanto isso, a guerra prossegue. Na madrugada desta terça (19), mísseis russos atingiram uma importante refinaria em Kramatorsk, em Donetsk, ainda sob controle ucraniano. Houve também ataques com drones de ambos os lados.



